Para marcar seus 40 anos de fundação e o 119° aniversário de nascimento de Juscelino Kubitschek, o Memorial JK lançou duas obras literárias neste domingo (12). A primeira, voltada ao público infantil, tem como título “De Nonô a JK”. A segunda é o terceiro volume da coletânea “Memórias do Brasil — Discursos de Juscelino Kubitschek”, com os pronunciamentos de 1958.
O ponto alto das celebrações na manhã deste domingo foi o momento em que o governador Ibaneis Rocha e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, depositaram coroas de flores na câmara mortuária, em homenagem a JK. Segundo Ibaneis, o espírito republicano e democrata do ex-presidente fez Brasília acontecer e o Brasil crescer. “Ele foi um dos maiores democratas que esse País já teve, e que chegou à capital da República para mostrar tudo que estamos precisando nesse momento: diálogo”, destacou.
Já o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, disse que JK moldou nos brasileiros a noção de brasilidade. “Promoveu como nunca o orgulho de nossas origens. Mudou o rumo da nossa história, de um país essencialmente agrário e voltado para o mar, passamos a uma nação industrializada e integrada, com a abertura de quase 18 mil quilômetros de rodovias”, disse. Mas o maior legado de JK foi o “ânimo conciliador”, com forte disposição para o diálogo e composição de forças. “Uma pessoa com alma pública rara, que soube liderar esta nação em favor do bem comum, da estabilidade política e do desenvolvimento econômico”, completou.
Desde 2000 presidindo o Memorial JK, Anna Christina Kubitschek, neta do fundador de Brasília, falou do legado do avô. “É um momento muito significativo e emocionante reviver a importância do nosso fundador, resgatar essa memória. O legado de JK foi a conciliação e o amor à pátria. Era um homem que sabia ouvir e governar agregando”, sintetizou. Para o vice-presidente do Memorial JK, André Octavio Kubitschek, seu bisavô foi um político que compreendeu a alma brasileira. “É o primeiro presidente eleito a traçar um plano de metas, que visava engrandecer o Brasil em cinco frentes: energia, educação, transporte, alimentação e indústria de base; além da mudança da capital. Para isso, soube conversar com todas as instâncias da República, honrando as regras democráticas e respeitando as letras da Constituição”, afirmou.
Livros
O livro infantil é fruto de parceria entre o Memorial JK e a Secretaria de Cultura do Distrito Federal. A obra é composta ainda por um livro de colorir e uma linda pasta, e faz alusão ao apelido de infância de JK. Já o terceiro volume de “Memórias do Brasil — Discursos de Juscelino Kubitschek” é a compilação de todos os pronunciamentos feitos por ele em 1958. A publicação é do Conselho Editorial do Senado Federal (Cedit), presidido pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Trajetória
Mineiro de Diamantina, Juscelino formou-se em medicina, mas logo trocou os bisturis pela política. Começou chefiando o gabinete de Benedito Valadares, nomeado interventor federal de Minas Gerais por Getúlio Vargas, em 1933. No ano seguinte, JK foi eleito deputado federal, mas teve o mandato cassado em novembro de 1937, quando Vargas fechou o Congresso Nacional com o apoio das Forças Armadas.
Em 1940, Benedito Valadares o nomeou prefeito de Belo Horizonte. Conciliando a administração da capital mineira com a atividade médica, Juscelino se notabilizou por realizar diversas obras que transformaram Belo Horizonte, passando à história como o “prefeito furacão”. Além de importantes obras de infraestrutura, sua gestão foi marcada pelo início da construção do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Ainda assim, era quase um desconhecido no restante do país.
Após a deposição de Vargas, em 1945, Juscelino foi eleito deputado constituinte – permanecendo no cargo mesmo após a promulgação da Constituição de 1946. Em 1950, foi eleito governador de Minas Gerais e voltou a convidar Niemeyer para projetar várias obras públicas.
O auge da carreira política de Juscelino se deu em 1955, quando foi eleito presidente da República. Em sua música de campanha, apresentava-se como homem “trabalhador”, “patriota”, vindo das “bateias”, ou seja, de antigas regiões de exploração do ouro em Minas Gerais, que salvaria o Brasil. “Queremos demonstrar ao mundo inteiro e a todos que nos querem dominar que o Brasil pertence aos brasileiros”, dizia o jingle do candidato eleito com o slogan “50 anos de progresso em 5 anos de governo”.
Mudança de capital
Ainda durante a campanha, ao fazer um comício em Jataí (GO), em abril de 1955, Juscelino foi questionado por um cidadão, Antônio Soares Neto, se cumpriria a Constituição Federal caso fosse eleito, transferindo a capital do Rio de Janeiro para a região central do país.
Cinco anos depois, nascia a obra máxima da moderna arquitetura brasileira, inaugurada em 1960, e desde 1972 considerada Patrimônio Cultura l da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
JK deixou a Presidência em janeiro de 1961, sendo sucedido por Jânio Quadros. Mais tarde, seus anos à frente do governo seriam identificados com o que se chamou de “anos dourados”, embora não livres de polêmicas e denúncias. Eleito senador por Goiás nas eleições extraordinárias de junho de 1961, Juscelino apoiou o regime militar, o qual passou a se opor ao ter seu mandato e seus direitos políticos cassados por dez anos, em junho de 1964.
Exílio
Após dois anos exilado na Europa, JK tentou regressou ao Brasil no fim de 1965. Temendo ser preso, voltou a deixar o país, ao qual só regressou definitivamente em março de 1967. Ocupou alguns cargos públicos até que, em 1976, passou e dedicar-se exclusivamente à administração de sua fazenda em Luziânia (GO). Em 22 de agosto daquele ano, o carro em que ele e seu motorista viajavam se chocou contra um caminhão na Via Dutra. A morte de JK causou comoção nacional e levou centenas de milhares de pessoas às ruas de Brasília, durante seu cortejo fúnebre.
Em 2013, a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo concluiu que sua morte não tinha sido um acidente, mas sim consequência de um atentado. Um ano depois, no entanto, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que a colisão foi acidental.