Réus são absolvidos da acusação de morte do ex-tesoureiro de Collor

 O juiz Maurício Brêda absolveu os quatros seguranças julgados por  responsabilidade na omissão na morte de Paulo César Farias e sua namorada,  Suzana Marcolino. Depois de cinco dias de júri, a sentença foi lida nesta  sexta-feira à noite. Os jurados, no entanto, reconheceram que houve duplo  homicídio. Dezesseis anos depois, a morte do ex-tesoureiro de Fernando Collor  permanece um mistério.

O Tribunal de Justiça de Alagoas fez um relato no mínimo controverso sobre o  desaparecimento da arma usada para matar o tesoureiro da campanha do  ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, no Fórum de Maceió, onde  ocorre o julgamento de quatro ex-seguranças do empresário. Oficialmente, o TJ  não confirma o desaparecimento. Diz apenas que a arma não foi encontrada. Desde  quinta-feira, o promotor Marcus Mousinho cobrava o aparecimento da arma, que foi  solicitada por peritos que defendiam a tese de duplo homicídio no  julgamento.

Segundo a escrivã da 8ª Vara Criminal da Capital, Elizângela Peixoto, “a arma  deveria estar no Centro de Custódia do Fórum de Maceió, entretanto, o material  não foi encontrado lá”:

— A arma poderia estar sem identificação e, por isso, ter sido encaminhada ao  Exército para ser destruída. Ou foi levada do fórum há mais ou menos três anos,  quando bandidos invadiram o prédio e furtaram várias armas. Não temos certeza do  que aconteceu, sabemos apenas que ela não foi encontrada — explicou.

— Há laudo pericial nos autos que confirma que a arma existe —disse  Brêda.

— É irrelevante a arma estar aqui. Ela pode ter sido perdida ou pode ter sido  quebrada. Nem a defesa nem a acusação pedem a anulação do julgamento por causa  disso — argumentou.

Em 2010, houve um roubo de arma do paiol do Tribunal de Justiça. Parte das  armas nunca foi localizada.

Mousinho voltou a falar do assunto nesta sexta-feira, antes da confirmação do  TJ. Ele evitou falar em desaparecimento. O juiz Maurício Brêda chegou a negar o  desaparecimento, mas desde quinta-feira funcionários do Tribunal do Júri tentam  localizar o artefato.

— Esta arma não está desaparecida. Mandamos localizar — disse o juiz.

Segundo o magistrado, a arma deve ser destruída apenas depois de determinação  judicial — o que não foi caso.

Em nota, o TJ tentou explicar o desaparecimento da arma:

Diante das informações veiculadas pela imprensa acerca do julgamento dos  acusados de envolvimento na morte de Paulo César Farias e Suzana Marcolino,  iniciado na última segunda-feira (06), a Corregedoria-Geral da Justiça de  Alagoas esclarece que até a presente data não recebeu comunicação oficial do  juiz Maurício Breda, que preside o feito ou da escrivã da 8ª Vara Criminal da  Capital, de que a arma utilizada no crime, um revólver calibre 38 inox, de marca  Rossi, tenha desaparecido e consequentemente, não se encontre nas dependências  do Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, em Maceió“, diz a nota.

Último dia de julgamento

O último dia de julgamento dos acusados de duplo homicídio por omissão de  Paulo César Farias e da namorada dele, Suzana Marcolino, foi marcado pelo embate  entre a defesa e a acusação. O julgamento começou com os argumentos do promotor  Marcus Mousinho, que pede a condenação dos quatro seguranças de PC. O Tribunal  do Júri decide hoje se condena ou absolve os réus.

— Os réus participaram de uma farsa, uma trama. Aceitaram a versão de  suicídio. Eles tinham de proteger as vítimas, podiam agir. Falsearam a versão  quando não podiam. Eles têm de ter responsabilidade pelo que ocorreu. Senão, um  bebê morre na piscina e a babá não pode ser responsabilizada pelo crime — comparou o promotor, que acrescentou:

— Quem atirou? Eu não sei. E arrisco dizer: nunca saberemos.

Estão no banco dos réus Adeildo Costa dos Santos, José Geraldo da Silva,  Reinaldo Correia de Lima Filho e Josemar Faustino dos Santos. O crime aconteceu  em 23 de junho de 1996, na casa de praia de PC, em Maceió.

Marcus Mousinho citou falhas nas perícias, como por exemplo a falta de exames  nos restos de cigarros que estavam nos cinzeiros de PC e Suzana. O celular de  Suzana também não foi encontrado:

— Essa mulher namorou outros homens casados. E não matou nenhum deles. E  matou Paulo César porque queria deixá-la. Esse homem que quer deixar a mulher  liga para o decorador para dar um monte de carinho? Então, ele é um louco ou um  psicopata. Ele quer deixar a mulher e faz um jantar? Essa versão é  fantasiosa.

De acordo com ele, PC era uma pessoa que “gostava de emoção”. E que a  “suspeita de ser traído” por Suzana “dava emoção”. E citou William  Shakespeare:

— Paulo César era um homem que gostava de emoção. A suspeita dava emoção.  Basta ler Otelo — disse.

Na peça, Otelo mata a esposa Desdêmona ao ser informado que era traído.  Depois, ele se mata.

Defesa defende laudo que aponta crime passional

O advogado dos réus defendeu que a tese de crime passional se sustenta “por  um laudo assinado por 11 peritos” e perícia da Polícia Federal, no local do  crime.

— A casa de PC foi examinada por dois peritos da Polícia Federal — ressaltou  o advogado José Fragoso, eliminando, através da perícia, a possibilidade de  haver uma terceira pessoa no quarto.

— A cena foi preservada. Ela foi toda fotografada. Agora, a cena não pode ser  preservada eternamente. O colchão estava empoçado de sangue, os peritos  liberaram o colchão, e disseram que o colchão foi queimado por causa do crime.  Foi queimado dois dias depois do crime. Só depois de periciado e liberado — explicou.

De acordo com o advogado, a arma que matou Suzana pertencia à Polícia  Militar:

— Identificou-se que era do soldado José Adolfo da Silva, que por salário  atrasado a revendeu. Ele vendeu para José Jeferson, secretário da prefeitura de  Capela, que deu à esposa, que revendeu a Suzana — lembrou, acrescentando:

— Suzana fez varias tentativas para comprar arma e insistiu em fazer tiro a  alvo.

Citando depoimento da prima de Suzana Zélia Fragoso, o advogado disse que a  namorada de PC “simulou gravidez e náuseas”, sem estar grávida. Informações de O Globo.

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