O ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho disse em depoimento nesta terça-feira (16), no júri popular de policiais militares acusados pela morte de detentos do Carandiru, que “a entrada da polícia foi absolutamente necessária e legítima” no episódio –classificado como o mais trágico na história do sistema penitenciário brasileiro.
Sobre a responsabilidade pelos 111 assassinatos de custodiados do Estado, durante a ação da polícia, o ex-governador afirmou: “A responsabilidade política era minha; a criminal, caberá aos jurados esclarecer”.
Ouvido como testemunha de defesa, Fleury falou durante cerca de 40 minutos e saiu pelos fundos, longe do acesso da imprensa e do público que frequenta o Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), onde acontece o julgamento de 26 PMs acusados pela morte de 15 presos. Foi o depoimento mais rápido desde que o júri teve início, na segunda (15).
É a segunda vez que o ex-governador, oficial da reserva da PM –é primeiro-tenente –, fala em juízo sobre o massacre: a primeira havia sido em 2001, no júri popular do coronel Ubiratan Guimarães, comandante da tropa durante a ação. Condenado à época e absolvido pelo Tribunal de Justiça paulista em 2006, Guimarães foi assassinado no mesmo ano, meses depois.
O ex-governador justificou que pediu ao secretário de segurança que só divulgasse o número fechado de mortos após receber parciais. Os 111, disse, só foram informados às 16h do dia 3.
PCC
De acordo com o ex-governador, eventual tentativa tanto da defesa dos réus quanto do Ministério Público de se vincular o massacre à criação do PCC (Primeiro Comando da Capital), no ano seguinte, é uma tentativa de “se dar um pouco de glamour” à facção criminosa.
“Usa-se essa justificativa para dar um pouco de glamur ao PCC, que surgiu criminosa e não com a intenção de beneficiar ou cuidar de preso”, disse.
A respeito da relação entre o PCC e o massacre, Fleury havia sido indagado pela advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, sobre o estatuto de criação da facção criminosa. Nele, o PCC que cita o episódio no Carandiru como uma espécie de marco de situações que deveriam er combatidas por meio da organização de detentos por meio de facções.
Sobre o porquê de não ter ido ao Carandiru no dia seguinte, quando soube –segundo ele, por volta das 16h –, o ex-governador alegou à advogada: “Não era minha obrigação ir ao local, eu era governador do Estado”, disse. “O interesse do Estado é a investigação isenta; o governador não é presidente de inquérito”, disse.
Ordem para entrada
A advogada dos PMs citou ao ex-governador trecho do livro “Vozes do Carandiru” (de Karina Florindo Rodrigues e Helvio Borelli, publicado em 2007) no qual ele deu aos autores a declaração a respeito da invasão dos policiais ao presídio: “Não dei a ordem de entrada, mas, se estivesse em meu gabinete, daria”. Em depoimento, ele reforçou: “Confirmo essa frase”.
Antes, o ex-governador alegara que seu secretário de segurança pública à época, Pedro Franco de Campos, tinha autonomia para tomada de decisões como a ação no presídio. Informações do Uol.