“Não sou o mesmo de 7 de outubro. Eu tolerei muito abuso. Vou defender os votos de toda a Venezuela. Se acham que somos idiotas, ficaram na vontade.” A frase, durante um comício em Sucre, no último dia 9, mostra uma mudança de estratégia de Henrique Capriles. O candidato que reúne a esperança da oposição venezuelana de pôr fim a 14 anos de chavismo se mostrou muito mais agressivo nesta campanha do que na anterior. Pela segunda vez em seis meses, o governador do estado de Miranda subiu em palanques, percorreu o país e formou carreatas na tentativa de chegar à Presidência da Venezuela. Mas, desta vez, o adversário é outro. Informações de O Globo.
Com a morte do carismático presidente Hugo Chávez no dia 5 de março, Capriles mostra mais esperanças em sair vitorioso desta vez, embora as pequisas ainda mostrem a vantagem do presidente em exercício, Nicolás Maduro.
– Hoje me atrevo a dizer que ganharemos as eleições – disse ele ao GLOBO, na última quarta-feira.
Capriles tem, ao menos, a chance de se consolidar como a principal figura da oposição. Aos 40 anos, ele já foi prefeito, parlamentar e está no segundo mandato como governador do maior estado do país. A falta de uma aliança na mão esquerda já fez Maduro chamá-lo de señorito, sugerindo que fosse homossexual. Por outro lado, arrasta uma multidão de mulheres aos comícios e deu à sua mãe, Mónica Radonski, o título informal de “a sogra mais desejada da Venezuela”.
– Desde os 11 anos gosto de políticia e dizia à minha mãe: quando completar 18 anos, me inscrevo em um partido político – lembra.
Foi quase assim. Advogado, Capriles foi eleito aos 25 anos para o Congresso venezuelano, quando o Parlamento ainda era bicameral. Apesar da idade, ele logo se tornou presidente da Câmara dos Deputados e, depois, do Congresso. Mas ficou pouco tempo no posto: Chávez, que assumiu em 1999, lançou uma Assembleia Constituinte que fechou o Congresso e instituiu uma Assembleia Nacional unicameral. Depois disso, Capriles foi duas vezes eleito prefeito de Baruta, no estado de Miranda, antes de chegar ao governo do estado.
Entre os fatos polêmicos do passado estão os quatro meses passados na prisão, acusado de atacar a Embaixada de Cuba, em Caracas, em abril de 2002, durante o golpe de Estado que tirou brevemente Chávez do poder. Capriles depois foi inocentado das acusações, mas o assunto sempre retorna durante suas campanhas políticas. Também é chamado pela oposição de burguesinho, devido à riqueza da família, dona de cinco cinemas, meios de comunicação e empresas imobiliárias. Para desfazer essa imagem, ele cita os avós maternos, judeus que chegaram da Polônia fugindo do nazismo apenas com uma mala de roupas.
Capriles voltou aos comícios mais afiado, sempre com um boné com as cores da bandeira venezuelana, prometendo segurança, bem-estar e reconciliação nacional. Muitas vezes, seu discurso que se aproxima de Maduro, um ex-motorista, numa tentativa de atrair chavistas balançados pela perda do líder.
– Se alguém ficar para trás neste ônibus que eu dirijo, eu paro e os pego – disse.
Na campanha, ele promete desmontar gradualmente a forte presença do Estado na economia e implementar um modelo de livre mercado aliado a políticas sociais. Algo mais ao estilo do governo Lula, apesar de o ex-presidente brasileiro já ter manifestado seu apoio a Maduro.
– Até agora perdi apenas uma eleição, e meu adversário era Chávez – diz com esperanças.