No passado, o governo usou e abusou das tarifas de importação para conter a inflação, mas hoje esse caminho não é bem visto pela equipe econômica e pelo Palácio do Planalto. Na avaliação de fontes, essa alternativa deve ser usada com parcimônia porque, além de prejudicar a indústria nacional com a concorrência dos importados, poderá agravar o fraco desempenho da balança comercial brasileira, que de janeiro até a primeira semana de abril, registra um déficit de US$ 4,845 bilhões. Para se ter uma ideia dos problemas que atingem o comércio exterior, se fosse mantido o cenário atual— considerando o resultado acumulado de 2013 até a primeira semana de abril, que registra queda de 2% das exportações e aumento de 10,6% das importações — o déficit da balança comercial chegaria a US$ 9 bilhões este ano.
No passado, produtos como automóveis, carnes e até preservativos tiveram o Imposto de Importação reduzido para combater a inflação, garantir o abastecimento e desestabilizar monopólios e oligopólios de empresas. Em 2011, o governo baixou a tarifa do aço, para evitar reajustes elevados nos preços, mas acabou elevando a alíquota depois. Outro instrumento usado para diminuir custos de setores estratégicos e sensíveis da economia é o ex-tarifário, que prevê a queda das alíquotas para indústrias de bens de capital, informática e telecomunicação.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o câmbio já permite o crescimento das importações naturalmente. Recorrer ao mercado externo é mais barato do que comprar no mercado doméstico.
— Não trabalhamos com um déficit comercial para este ano, mas se isso acontecer, não será uma surpresa — disse Castro, que deverá rever para baixo, no próximo mês de julho, sua estimativa de superávit comercial, atualmente de US$ 15 bilhões.
O governo continua apostando em um superávit, mesmo que inferior aos US$ 19,4 bilhões registrados em 2012. A estimativa do Banco Central é de um saldo positivo de US$ 15 bilhões em 2013, enquanto o boletim Focus — pesquisa semanal feita pelo BC junto às instituições financeiras — aponta algo em torno de US$ 11 bilhões. No entanto, técnicos da área econômica e analistas do setor privado não descartam a piora da balança no segundo semestre.
As razões para esse pessimismo são variadas: queda nos preços da soja e do milho no mercado externo, por causa da supersafra americana que começa a ser colhida em agosto; reaquecimento da atividade industrial e o consequente aumento da importação de matérias-primas e bens de capital; e o crescimento do valor das compras de petróleo e derivados no exterior pela Petrobras.
O economista Fábio Silveira, da GO Associados, espera um superávit de US$ 8 bilhões para este ano, ou seja, menos da metade de 2012. Ele acredita que, embora a situação atual seja menos confortável do que no ano passado, o complexo soja vai garantir boa performance da balança. Informações de O Globo.