Oposição venezuelana lança Capriles como candidato

 Em silêncio e preocupada com o impacto que a morte de Hugo Chávez terá na iminente campanha eleitoral para as próximas presidenciais, ainda sem data marcada, a oposição venezuelana se prepara para um novo desafio. Nesta quarta-feira, seus principais líderes optaram pela cautela, cientes dos riscos de emitir qualquer opinião em meio ao clima de forte emoção que tomou conta do país. Fontes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) confirmaram que o governador do estado de Miranda,

Henrique Capriles aceitou ser, novamente, o candidato único da oposição

Publicamente, Capriles limitou-se a pedir “união, diálogo e paz” na Venezuela e evitou qualquer menção ao processo eleitoral.

Depois da derrota de Capriles nas eleições presidenciais de 2012, e de a oposição ter perdido quatro governos estaduais em dezembro, muitos analistas locais consideram que nesta nova eleição o vice-presidente Nicolás Maduro é o grande favorito. A morte de Chávez, disseram especialistas ouvidos pelo GLOBO, fortalecerá o vice e tornará quase impossível sequer pensar na possibilidade de um triunfo da oposição.

Em fevereiro, a consultoria Hinterlaces divulgou pesquisa que apontou vantagem de 14 pontos percentuais para Maduro em relação a Capriles. As intenções de voto a favor do vice alcançavam 50%. Para analistas como Adolfo Salgueiro, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), se a votação ocorrer no curtíssimo prazo (os 30 dias estabelecidos pela Constituição), “Maduro ganharia por 90 a dez”.

  – A oposição está desmotivada e deverá enfrentar o candidato da emoção, o herdeiro do grande caudilho morto – disse Salgueiro.

Enquanto muitos argentinos comparam Chávez ao general Juan Domingo Perón, ele prefere observar as semelhanças com Evita.

  – Chávez e Evita são pura emoção, amor e não é fácil disputar uma eleição com os herdeiros dessa tradição quase religiosa – enfatizou.

O professor da UCV observa ainda que as fortes divisões na oposição representam outro obstáculo.

  – O que une a oposição é o desejo de acabar com a revolução chavista. Além disso, cada um defende seu projeto – assegurou Salgueiro.

  Na eleição de outubro, Capriles fez uma campanha elogiada pelos analistas e por meios de comunicação, baseada no contato direto com os eleitores. O governador percorreu o país, mostrando uma energia que contrastou com as limitações físicas de Chávez. O adversário do presidente conquistou 44% dos votos, o melhor resultado da oposição na era Chávez. No entanto, para os que sonharam com sua vitória, foi difícil digerir a derrota. Segundo Luiz Vicente León, diretor da Datanálisis, “esta nova eleição será ainda mais difícil”.

  – Maduro está há 4 meses em campanha, usando dinheiro e poder do Estado – lembrou León.

  O exemplo dos Kirchner

  Nesta quarta-feira, o ministro da Defesa, Diego Molero, pediu votos para Maduro alegando que era uma forma de cumprir a vontade de Chávez. A declaração fere a Constituição do país, que define as Forças Armadas como instituição sem militância política.

  Para León e outros analistas, o fator tempo será fundamental. Quanto mais longa a campanha, mais chances terá a oposição.

  – As emoções que estamos vivendo favorecem o chavismo, a oposição precisa de tempo – disse León, que lembrou como a morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) foi crucial para garantir a reeleição de sua viúva, Cristina Kirchner, em outubro de 2011.

  Antes da morte de Kirchner, a Casa Rosada estava sofrendo forte desgaste e muitos argentinos começavam a duvidar de que ele pudesse vencer a eleição. Após sua morte, em outubro de 2010, Cristina tornou-se candidata e sua imagem disparou nas pesquisas (ela obteve 54% dos votos).

  O antecedente argentino não desanima todos os opositores. O jornalista Teodoro Petkoff, diretor do jornal “Tal Cual”, faz questão de manter o otimismo.

  – A oposição está unida e enfrentará um candidato sem carisma e medíocre – disse Petkoff.

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