GDF resiste em encerrar contrato com posto suspeito de praticar cartel

Gabriel LuizDo G1 DF

Bomba de combustível abastece carro em posto de São Paulo. gasolina, preço da gasolina, frentista, álcool, diesel, combustíveis, reajuste, aumento. -HN- (Foto: Marcelo Brandt/G1)Bomba de combustível abastece carro em posto de gasolina (Foto: Marcelo Brandt/G1)

O governo do Distrito Federal tem contrato assinado com um posto de combustível cujos donos foram apontados pela Polícia Federal e o Ministério Público como responsáveis por combinar o preço da gasolina. Apesar das suspeitas, o GDF diz que encerrar o contrato com a empresa “pode acarretar prejuízos à população e a consequente contratação emergencial de outra empresa ocasionar o aumento dos gastos públicos”.

Empresário paranaense, Cláudio José Simm foi preso em 24 de novembro durante a operação Dubai. O colega dele, Marcos Pereira Lombardi, foi objeto de um dos 25 mandados de condução coercitiva. Os dois são sócios da Auto Posto Millennium 2000, que tem contrato com o GDF há pelo menos sete anos. Desde 2009, a empresa recebeu R$ 126,84 milhões dos cofres do governo local. Ambos são suspeitos de aumentar em 20% o preço da gasolina no DF. Eles negam.

No contrato que a empresa tem apenas com órgãos da administração direta (o Palácio do Buriti e as secretarias), o GDF desembolsou pelo menos R$ 7.413.368 só neste ano. O acordo foi assinado em 2013 e tem validade até outubro ano que vem. A empresa venceu a licitação após se comprometer a cobrar 2,26% a menos que o preço médio da gasolina do DF. Segundo o governo, até 2.913 veículos oficiais são abastecidos em um mês.

O GDF informou que a empresa venceu a licitação de forma regular e afirmou que todos os contratos estão sujeitos a mecanismos de controle. “A Procuradoria-Geral do Distrito Federal ainda não informou sobre irregularidades na licitação nem na execução do contrato. Ademais, nenhum órgão de controle externo encaminhou, até o momento, notificação a respeito do assunto em questão”, disse o governo, em nota.

Sobre o fato de manter acordo com uma rede de postos cujos donos são acusados pelo MP de formar cartel, o governo alegou que o contrato é “firmado com a empresa, não com pessoas jurídicas”.

No sistema da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que regula o setor, existem nove registros de postos pertencentes à Auto Posto Millennium 2000 no DF. Somente seis têm autorização para atuar. Dois postos da rede estão com autorização revogada pela ANP e um outro está impedido de funcionar porque a licença ambiental venceu. O contrato com o governo não determina em qual unidade a frota do GDF deve abastecer.

O advogado de Marcos Pereira Lombardi, Walter Moura, afirmou que “o processo obedeceu ao certame de licitação, foi público e aberto, não havendo nenhuma vinculação entre as acusações [sobre cartel] e o contrato com o GDF”. O G1 não conseguiu contato com Cláudio José Simm até a publicação desta reportagem.

À TV Globo, a defesa de Simm, negou as acusações e afirmou que o empresário teve de entregar o passaporte. Ele está proibido de deixar o DF sem autorização judicial. Em caso de desobediência, a Justiça pode decretar a prisão de Simm por tempo indeterminado. Todos os sete empresários do ramo de combustíveis foram soltos no dia 30 de novembro, quando venceu o prazo da prisão temporária.

Previsão de queda nos preços
No dia da operação da Polícia Federal, o superintendente regional do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Eduardo Frade, disse estimar que os preços dos combustíveis no DF caiam até 20% com a desarticulação de um suposto esquema de cartel envolvendo distribuidoras e empresas donas de postos.

A previsão de queda nos preços dos combustíveis, no entanto, pode demorar a ser sentida no bolso do brasiliense. “Não necessariamente isso acontece do dia para a noite”, afirmou Eduardo Frade. “Estima-se que cartéis elevem o preço do produto em pelo menos 20%. Pegando 2014, o faturamento apresentou um sobrepreço de até R$ 1 bilhão.”

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