Cauê Fabiano Do G1
Alunas da Faculdade de Medicina da USP fazem no início da tarde desta terça-feira (25) um protesto em frente aos portões da instituição, na Avenida Doutor Arnaldo, Zona Oeste da capital, contra a violência e o abuso sexual denunciado nas festas de estudantes. Vestindo camisetas roxas para lembrar o dia internacional de combate à violência contra a mulher, as estudantes escreveram faixas pedindo o fim dos casos de violência na USP. Denúncias de abuso sexual, intolerância racial e homofobia na FMUSP estão sendo investigados pelo Ministério Público.
O grupo de alunas pede mais efetivo feminino na Guarda Universitária, a contabilização e divulgação dos casos de violência dentro da faculdade. Ana Luiza Cunha, 26 anos, aluna de medicina da USP, estava presente na reunião realizada nessa terça-feira (25), e afirmou que o clima estava “tenso”, e que o diretor da FMUSP, José Otávio Costa Auler Jr., comparou os casos ocorridos na faculdade com o que ocorre na sociedade em geral. O reitor Marco Antonio Zago também fez essa comparação.

“Na reunião, o diretor disse que o que acontece na USP é o que acontece lá fora”, afirmou Ana, dizendo em seguida que a universidade estaria “negando” a gravidade dos acontecimentos ocorridos com as alunas.
“Estávamos otimistas no começo, e estava havendo uma resposta da universidade de abrir sindicâncias, mas, ao mesmo tempo, as declarações do reitor e diretor são de negar os problemas. Estamos preocupadas com as declarações feitas pela diretoria e pela reitoria, informou a aluna, completando que acha “desrespeitosa” a forma como as vítimas de abuso vem sendo tratadas.
“É desrespeitoso com as vítimas, que estão sendo silenciadas, como se não acontecesse nada. O próximo passo é que eles reconheçam que houve problemas sim”, afirmou a graduanda.
Ana Luiza disse que espera que o relatório que será votado em uma congregação nessa quarta-feira (26) seja aprovado, já que o documento prevê diversas medidas como a criação de grupos de apoio psicológico às vítimas e palestras sobre preconceito e assédio, e que os programas precisam ser educativos, e não apenas punitivos.
“O próximo passo aqui dentro é levar essa luta para outras faculdades, porque essa violência não acontece só na FMUSP”, concluiu.

Alunas de outros cursos também participam da manifestação. “Não é uma novidade para a gente. A própria universidade sabe que não é novidade”, disse Letícia Pinho, de 26 anos, membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Frente Feminista da USP. A aluna de ciências sociais destacou que um dos casos citados nas comissões é de 2011, e reclama da falta de recursos para que as denúncias de abuso sejam apuradas.
“Na USP, a gente não tem um lugar para fazer as denúncias. Não há um atendimento específico para os assédios. Nos últimos dois conselhos universitários, ninguém propõe soluções efetivas. Não estamos sendo ouvidas, afirmou Letícia.
Entre algumas das medidas que a Frente Feminista defende, por meio da campanha “Chega de violência” estão a criação uma ouvidoria, Um centro de referência e atendimento à vítimas de abuso, aumentar o efetivo feminino na guarda universitária, e melhorar iluminação do campus.
A aluna também sublinhou que são frequentes as denúncias de abuso, intimidação, agressões físicas, perseguição e assédio feitas à Frente Feminista, e que a culpa não está na festas realizadas na universidade.
“Acabar com o open bar é uma medida de espetáculo. As pessoas acabam entendendo os motivos errados dos casos.”
ENTENDA: Casos de violência na Medicina da USP
A Faculdade de Medicina da USP está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo em um inquérito que apura se houve omissão, por parte da diretoria, na investigação e punição de casos de violência e abuso sexual contra alunas do curso de medicina.
– Pelo menos oito casos foram relatados no inquérito do MP;
– A promotora de Justiça Paula de Figueiredo Silva se reuniu com a diretoria da FMUSP para saber que procedimentos estão sendo feitos para combater as denúncias;
– As denúncias também são apuradas na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde duas audiências sobre o tema foram realizadas em novembro e um pedido de abertura de CPI sobre o tema foi protocolado;
– Segundo mulheres vítimas de violência e integrantes do Coletivo Feminista Geni, que denunciaram os casos, a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (Aaaoc) estimula a violência contra a mulher por meio de hinos com letras que minimizam a questão e festas com presença de prostitutas e estímulo ao consumo de álcool;
– A antropóloga que coordena o grupo USP Diversidade, ligado à Reitoria, afirma que a violência sexual na universidade é mais comum durante festas e trotes universitários;
– Um dos casos de estupro, contra uma então caloura de medicina em 2011, ocorreu durante uma destas festas; neste mês, o suspeito foi indiciado pela Polícia Civil, mas o inquérito ainda não foi concluído;
– Procurados pelo G1, diretores da gestão atual da Atlética se recusaram a falar sobre o caso;
– Em resposta às apurações do MP-SP e da Alesp, a FMUSP suspendeu as festas no campus até que o assunto seja debatido pela Congregação, afirmou que vai assumir a organização da semana dos calouros, onde será proibido o consumo de álcool, e anunciou a criação de um centro para acolher e dar assistência psicológica e jurídica a vítimas de violações de direitos dentro da universidade
– O reitor da USP, Marco Antônio Zago, também se pronunciou sobre o tema. Segundo ele, a violência dentro da instituição é um reflexo do que acontece na sociedade.
