O Globo / Com agências internacionais
ISTAMBUL — Pelo menos 60 mil curdos sírios entraram na Turquia nas últimas 24 horas, fugindo do avanço dos combatentes do grupo Estado Islâmico, que tomaram dezenas de vilarejos próximos à fronteira. Os civis começaram a deixar suas casas com medo de um iminente ataque à cidade de Ayn al-Arab, também conhecida como Kobani. Diante do enorme fluxo de pessoas, a Turquia abriu um trecho de sua fronteira na sexta-feira.
Lokman Isa, um agricultor de 34 anos, contou que ele tinha fugido com a sua família e cerca de outras 30 depois que militantes do EI entraram fortemente armados na sua aldeia de Celebi. Ele ainda relatou que as forças curdas lutando contra eles possuíam apenas armas leves.
— Eles (os extremistas) destruíram todos os lugares para onde foram. Nós vimos o que eles fizeram no Iraque, em Sinjar, e fugimos com medo — disse Isa na cidade turca de Suruc, onde as autoridades estavam montando um acampamento.
Sentado em um campo depois de cruzar a fronteira, Abdullah Shiran, um engenheiro de 24 anos, relatou as cenas de horror em sua aldeia de Shiran, a cerca de 10 km de Kobani.
— O EI veio, atacou e saímos com as mulheres, mas o resto dos homens ficou para trás. Eles mataram muitas pessoas nas aldeias, cortando suas gargantas. Estávamos com medo de que eles iriam cortar as nossas também — disse Shiran.
Na tentativa de enfrentar os jihadistas em Kobani, mais de 300 combatentes curdos atravessaram a fronteira para a Síria a partir da Turquia neste sábado.
Muitos dos sírios fugiram com poucos pertences e atravessaram a fronteira com pacotes em suas cabeças. As autoridades turcas afirmaram que ainda havia milhares de pessoas esperando para cruzar a divisa neste sábado.
Com a política de “portas abertas”, a Turquia abriga atualmente quase 1,5 milhão de refugiados sírios que fugiram dos combates, iniciados em 2011, entre rebeldes e as tropas do presidente Bashar al-Assad. A capacidade de recepção dos acampamentos instalados na fronteira foi superada há muito tempo e mais de um milhão de refugiados vivem nas cidades, geralmente nas ruas, o que provoca incidentes com a população local.
A Turquia, integrante da Otan, não aceitou participar em uma operação militar contra o EI como parte da coalizão internacional mobilizada pelos Estados Unidos.
