Cruz das Almas ainda convive com as espadas

Anderson Sotero, A Tarde

  • Joá Souza l Ag. A TARDE

    O jovem Wellington Santos instala uma tela na porta para evitar que espadas entrem na casa

 Apesar da repressão ao uso e confecção de espadas, pessoas continuam soltando esses fogos em Cruz das Almas (a  146 quilômetros de Salvador). Neste domngo, 22, A TARDE flagrou jovens soltando duas espadas na rua Crisgono Fernandes.

Em toda a cidade, pessoas utilizavam o artefato. Com rondas feitas pela Polícia Militar, os locais se restringiram a poucos pontos,  como as ruas da Estação e das Poções.

Desde 2011, uma decisão do Tribunal de Justiça (TJ-BA) proíbe a confecção, uso e vendas de espadas. “Uns rapazes estavam testando. Eles sabem que é proibido, mas mesmo assim não deixam de soltar. Eles estão experimentando para amanhã [hoje]”, contou um morador, que não quis se identificar.

Segundo a vendedora Carmelita da Silva, os jovens estavam em motos: “A gente correu. É horrível. Podia ter nos atingido”. Para se protegerem, moradores utilizam madeira e telas de ferro nas janelas e portas.

Vítima

A aposentada Lurdes Pereira, 84, mora há 64 anos na cidade e, uma ocasião, uma espada entrou na casa dela e a atingiu na cabeça. “Quase morri”, contou. Hoje, na entrada da casa há várias proteções. “Acho uma estupidez. Não entendo como ainda soltam, se é proibido. A gente tem que ficar em casa, de castigo. A espada acaba com as telhas e, se entrar, destrói o que há na frente”, afirmou.

 

Com proteção de madeira na residência, a aposentada Lurdes Pereira já chegou a ser atingida na cabeça uma vez

O auxiliar de serviços gerais Valdomiro Fonseca, 40, e o sobrinho Wellington Santos também se protegem. “Todo ano  colocamos a proteção. É proibido, mas a gente sabe que há clandestinos. O pessoal fabrica fora”, alertou.

Na rua da Estação, moradores disseram que no sábado soltaram espadas no local. “A cidade perdeu muito com a proibição. Muito turista vinha para cá ver e deixou de vir”, pontuou um morador, que disse gostar de espadas, mas nunca ter soltado uma.

A promotora de justiça Semiana Cardoso ressaltou que, em maio, foi emitida uma recomendação para que a polícia fiscalizasse a proibição. “Foi enquadrado no Estatuto do Desarmamento. Não pode confeccionar e nem o uso individual. Se alguém for flagrado, pode ser conduzido à delegacia”, disse Semiana.

Nos últimos dez dias, cerca de 800 dúzias de espadas foram apreendidas pela PM. O tenente-coronel David Lanzillotti disse que o material estava em duas fábricas,  na cidade e em São José de Ituporã, distrito de Muritiba.

Lanzillotti contou que, após a proibição, o número de queimados tem caído. Ontem, na Unidade de Pronto-Atendimento  não havia feridos por fogos.

Segundo o oficial, há indícios de que espadas sejam feitas em Itaparica e zonas rurais. “É uma tradição secular. Não vamos conseguir acabar de uma hora para outra”, ponderou.

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