O jogo promete ser o próximo passo na evolução dos jogos de ação
Depois de mais de treze anos sem dar sinais de vida, Ninja Gaiden 4 marca o retorno de uma das séries mais históricas dos videogames, conhecida principalmente por sua dificuldade e combate frenético. O que ninguém esperava era que o novo capítulo da franquia nasceria através de uma parceria entre Team Ninja e Platinum Games.
O choque foi imenso, afinal se trata da combinação de duas das maiores equipes de desenvolvedores com uma vasta experiência em jogos de ação. Desde Ninja Gaiden 3: Razor ‘s Edge lançado em 2012 – o último lançamento da franquia – a Team Ninja acumulou experiência trabalhando em títulos mais ambiciosos, como Nioh e Rise of the Ronin. Do outro lado temos uma Platinum Games que dispensa comentários. A desenvolvedora conta com histórico de títulos de peso como Bayonetta, Nier: Automata e Metal Gear Rising tornando-se referência quando se trata de jogos no estilo hack’n’slash.
O anúncio da surpreendente parceria aconteceu durante uma Xbox Direct e foi rodeado por teorias e vazamentos, que diziam que um jogo misterioso, de uma franquia japonesa e com décadas de histórias iria aparecer. Parte do público apostou que se tratava de Ninja Gaiden, pois já existia um longo histórico de parceria da série com a Microsoft – lembrando que, por um longo período, o jogo foi exclusivo (e até serviu de benchmark) para o Xbox original.
De imediato, somos apresentados ao que aparenta ser o novo protagonista do jogo, o ninja do clãs dos corvos Yakumo, que acabou sendo recebido com opiniões mistas. Afinal, tratava-se de um reboot? Por que Ryu Hayabusa está sendo colocado de lado na sua própria série? Alguns fãs apontaram que poderia se tratar do mesmo que aconteceu com Devil May Cry 4, jogo que marca a estréia de Nero, o personagem que viria a se tornar o novo protagonista da franquia.

Divulgação/Microsoft
Na verdade, se trata de evolução. O próprio material promocional aponta que Ninja Gaiden 4 é a próxima evolução na franquia que definiu jogos de ação, onde o legado se encontra com a inovação. Isso vai muito além de um novo jogo com gráficos e mecânicas modernas: só pelo design de ambos os ninjas conseguimos ver do que se trata.
Yakumo é um personagem soturno e possui um visual muito mais contemporâneo, com uma estética tecnológica e tatuagens cobrindo grande parte dos seus braços, proporcionando uma conexão e identificação com um público mais jovem. Enquanto Ryu segue com sua estética tradicional e personalidade honrada, criando essa dicotomia entre os personagens.
Isso também se reflete na história do jogo. Inicialmente jogamos como Yakumo, que a serviço do Clãs dos Corvos está em uma missão para destruir uma carcaça de um dragão gigante que paira sobre Tóquio, conhecido como Dragão das Trevas. Apesar do dragão não estar vivo, seu corpo se tornou fonte de uma eterna chuva negra que cobre a cidade com miasma, corrompendo-a e criando o caos.

Divulgação/Microsoft
Seu primeiro alvo é a jovem sacerdotisa Seori que, no passado, conspirou com um demônio poderoso para ressuscitar o Dragão das Trevas, mas foi detida pela Ordem do Dragão Divino, uma organização de voluntários responsável por governar e proteger Tóquio. Sem saber as reais intenções da Ordem com a captura de Seori, Yakumo invade a base da organização para eliminar a sacerdotisa e impedir que o dragão seja ressuscitado, mas é confrontado por Ryu que está do lado da Ordem.
Nessa jornada contamos com um sistema de operações do clãs dos corvos, que instalou diversos altares de oferenda tecnológicos espalhados por toda Tóquio e servem como nosso checkpoint. Ali, podemos repor itens consumíveis, receber e entregar missões secundárias e ter pequenas conversas com outros personagens. Nesses altares também conseguimos invocar Tyran, o mentor de Yakumo, responsável pela área de treinamento e por nos ensinar novas técnicas de combate.
A jogabilidade segue a forma já há muito tempo estabelecida do gênero hack’n’slash. Aqui você não tem cenários gigantescos para explorar ou missões complexas para cumprir . O foco é estritamente no combate, aspecto que sempre foi extremamente elogiado pelos fãs de longa data, mas que foi devidamente elevado a um novo patamar com a expertise de duas veteranas na indústria. A maior novidade é o sistema de troca rápida de armas, que permite trocar de armas livremente sem ter que acessar o menu no meio dos combos. Essa mecânica torna o combate muito mais fluido e proporciona mais liberdade para controlar os inimigos.

Divulgação/Microsoft
Além disso, temos as habilidades do Ninjutsu do Laço de Sangue – técnica secreta do Clã dos Corvos – que permite ao jogador utilizar o sangue de inimigos derrotados em armas amaldiçoadas para transformá-las e potencializar seus golpes. Isso incentiva uma gameplay cada vez mais agressiva, já que esses golpes com sangue conseguem até interromper os ataques especiais dos inimigos mais fortes do jogo.
Ao progredir na história, temos acesso a uma variedade de armas com estilo de jogos bem distintos, como uma rapieira que vira uma broca gigante, um bastão que vira uma martelo e um conjunto de braços mecânicos especializados em ataque de longo alcance e disparar projéteis. Cada uma tem seu momento de destaque no jogo: por exemplo, o bastão possui golpes que atingem vários inimigos ao seu redor, sendo muito útil para enfrentar uma grande quantidade de adversários. Já os braços mecânicos são essenciais para alvos voadores ou impedir que ataques a distância aconteçam.
Por outro lado, Ryu continua com sua tradicional Espada do Dragão e, ao invés de utilizar um arsenal de armas, utiliza os seus clássicos Ninpo, habilidades especiais conhecidas desde os primórdios dos jogos de Nintendinho como invocar águias ou disparar bolas de fogo. Outro detalhe que acentua mais essa diferença entre ambos ninjas é que Yakumo também possui uma série de equipamentos especiais como um paraglider e um prancha de surf, enquanto Ryu só corre sobre as águas como um ninja clássico.

Divulgação/Microsoft
Tendo tudo isso a sua disposição, o resultado é um combate extremamente frenético e viciante. É muito prazeroso obliterar os inimigos na tela enquanto tentamos fazer o maior combo possível. E quando falo obliterar não é um exagero, pois o jogo não é tímido quando o assunto é violência. Tanto Yakumo quanto Ryu não tem piedade de seus inimigos, já que o padrão é literalmente desmembrar seus inimigos e criar um constante banho de sangue. Ao derrotar cada chefe, existe uma sequência especial na qual o personagem finaliza o inimigo da forma mais dolorosa possível.
Em meio a uma sinfonia de destruição, temos uma trilha sonora que aumenta ainda mais a adrenalina no meio das lutas. Composta com participação de Victor Borba, mais conhecido pela música “Bury The Light”, tema de Vergil em Devil May Cry 5, a música é muito bem utilizada nos momentos de maior hype como em batalhas contra chefes. Além disso, pequenos detalhes como a diferença nas músicas dos menus – que mudam de acordo com o personagem que você está jogando, – complementam essa dissonância entre ambos protagonistas.
O público vai, como esperado do gênero, encontrar um jogo mecanicamente prazeroso de se jogar, mas não deve esperar uma grande narrativa ou reviravolta na história. A quantidade de personagens chave é pequena e, ainda que conte com a participação especial de Ayase de Dead Or Alive, a história se mantém ao redor de Yakumo e Ryu, no conflito entre ambos os ninjas e o dever que cada tem com seus respectivos clãs diante do perigo que o Dragão das Trevas representa.

Divulgação/Microsoft
A Team Ninja e Platinum Games cumprem aquilo que se propuseram a criar. Ninja Gaiden 4 aposta em se tornar o novo passo na evolução dos jogos de ação e consegue alcançar esse objetivo. Veteranos na série não vão se decepcionar: as famosas dificuldades Mestre Ninja ainda estão disponíveis no jogo, assim como os novos modos de acessibilidade para jogadores iniciantes. Ao terminar o jogo temos acessos a outros modos como as provações de chefes, rejogar capítulos específicos da história ou modo purgatório, no qual sobrevivemos a hordas de inimigos.
Mas não podemos deixar de falar que se trata de um jogo curto, não só pela duração da campanha, que leva aproximadamente 15 horas de duração, mas pela quantidade de repetição de cenários e monstros. Além de só contar com dois personagens jogáveis, o que deixa as coisas um pouco menos favoráveis à sua reputação.
Apesar disso, o legado de Tomonobu Itagaki continua sendo muito bem representado com Ninja Gaiden 4. Sua filosofia de criar uma dificuldade punitiva mas recompensadora ainda está presente no jogo. Um game com muito estilo que conseguiu se modernizar em muitos aspectos além do tecnológico sem abandonar suas origens. O novo Ninja Gaiden não é perfeito, mas é um sopro de ar fresco que nos faz lembrar de uma época distante.






