Além de dois mandados de prisão preventiva, outros 13 mandados de busca e apreensão foram cumpridos
A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (12) Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, por suspeita de risco de fuga durante a Operação Sem Desconto, que investiga um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Também foi detido o empresário Maurício Camisotti, apontado como sócio oculto de entidades envolvidas nas irregularidades.
A decisão partiu do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou dois mandados de prisão preventiva e outros 13 de busca e apreensão em São Paulo e no Distrito Federal. Segundo a PF, as investigações identificaram risco de obstrução de justiça, dilapidação e ocultação de patrimônio por parte dos investigados.
Bens de luxo apreendidos
Durante a operação, os agentes apreenderam carros de luxo, armas, joias, dinheiro vivo e um vasto acervo de relógios e móveis antigos. Entre os itens, chamaram a atenção uma Ferrari e uma réplica da McLaren MP4/8, carro usado por Ayrton Senna na Fórmula 1.
As investigações apontam que o Careca do INSS movimentou mais de R$ 9,3 milhões em transferências para pessoas ligadas ao esquema. Já Camisotti foi preso em São Paulo e, segundo a PF, se beneficiava diretamente dos recursos desviados.
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Como funcionava o esquema
De acordo com a Polícia Federal, sindicatos e associações realizaram, entre 2019 e 2024, descontos indevidos e sem autorização em benefícios previdenciários. O rombo pode ultrapassar R$ 6 bilhões, atingindo milhões de aposentados e pensionistas em todo o país.
As empresas ligadas ao Careca do INSS funcionavam como intermediárias financeiras: recebiam os recursos desviados e repassavam a pessoas vinculadas a entidades sindicais e a servidores públicos. Somente as associações de aposentados e pensionistas repassaram R$ 53 milhões para empresas e pessoas ligadas a Antunes.
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Segundo a PF, o empresário ainda mantinha negócios no exterior, incluindo uma firma registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, apontada como possível offshore para blindar o patrimônio irregular. Além disso, ele seria dono de imóveis de alto padrão, como uma casa no Lago Sul, em Brasília, comprada à vista por R$ 3,3 milhões, e de uma frota de oito carros de luxo.
Conexões políticas
Figura conhecida em Brasília, o Careca do INSS chegou a frequentar círculos políticos. Ele esteve em encontros com o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi. Segundo o parlamentar, eles se conheceram em um churrasco e Antunes se apresentou como empresário do setor farmacêutico.
Weverton confirmou ter recebido Antunes em seu gabinete ao menos três vezes, para tratar da legalização da importação de produtos à base de cannabis para uso medicinal. O senador, que não é investigado, também esteve na recente comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, como vice-líder do governo no Senado.
Defesa dos envolvidos
O advogado Nelson Wilians, que também foi alvo de mandados de busca, declarou em nota que “tem colaborado integralmente com as autoridades” e que sua relação com investigados é estritamente profissional. Ele afirma que valores transferidos dizem respeito à compra de um terreno vizinho à sua residência e que a operação tem caráter apenas investigativo.
Já a defesa de Camisotti classificou a prisão como injustificada e disse que vai adotar medidas legais para reverter a decisão.
No caso do Careca do INSS, seus advogados afirmam que a inocência será provada e que a investigação deve comprovar que ele não cometeu irregularidades.
CPMI do INSS
Há dez dias, a CPMI do INSS pediu a prisão de 21 suspeitos de envolvimento no esquema. Não se sabe, até o momento, se todos os pedidos feitos pela comissão serão acatados pelo ministro André Mendonça.
Com a prisão do Careca do INSS, a expectativa é que seu depoimento seja decisivo para o avanço das investigações. O caso já é considerado um dos maiores golpes contra o sistema previdenciário no Brasil e deve se tornar peça central nos trabalhos da comissão parlamentar.
*Com informações do O Globo