Homem alega 'heterofobia' por academia do DF oferecer dança para casais LGBTI

Dançarinas em São Petersburgo, na Rússia. (Foto: Alexander Demianchuk/Reuters)

Dançarinas em São Petersburgo, na Rússia. (Foto: Alexander Demianchuk/Reuters)

Uma academia de dança de salão em Brasília foi denunciada ao Ministério Público do Distrito Federal por abrir uma turma dedicada a casais LGBTI. O autor da denúncia disse que sofreu discriminação por ser heterossexual e “não poder” se matricular nas aulas. O MP rejeitou o pedido.

Na decisão, o promotor Guilherme Fernandes Neto afirma que houve “discriminação positiva”, já que a turma foi criada a fim de contemplar “pessoas que estavam em situação de desvantagem.”

 “Favorecendo-as com uma medida que as tornem menos desiguais e melhore sua qualidade de vida”.

 

Decisão do Ministério Público do DF sobre denúncia de morador que contesta aula de dança para LGBTIs (Foto: André Barcellos/Arquivo pessoal)Decisão do Ministério Público do DF sobre denúncia de morador que contesta aula de dança para LGBTIs (Foto: André Barcellos/Arquivo pessoal)

Decisão do Ministério Público do DF sobre denúncia de morador que contesta aula de dança para LGBTIs (Foto: André Barcellos/Arquivo pessoal)

Há 25 anos, o estúdio André Barcellos oferece aulas de forró, samba de gafieira e outros ritmos latinos e, desde agosto, ensina as modalidades para casais gays. Para o professor e fundador da academia de dança, André Barcellos, a denúncia é uma clara manifestação de homofobia.

“Imagino que tenha sido alguém que viu homem dançando com homem, mulher dançando com mulher e se sentiu incomodado. Para não ser acusado de discriminação ao dizer que não gostou do que viu, entrou com a denúncia dizendo que se sentia discriminado e contou uma mentira.”

 

‘Todos são bem-vindos’

No site da academia, Barcellos faz as boas-vindas aos potenciais alunos: “Aqui você vai notar algo especial: você será sempre bem atendido. Nossa academia não tem panelinhas ou vaidades. Todos são bem vindos”.

Entre as 11 opções de modalidades e horários, a academia oferece para a comunidade LGBTI uma turma de iniciante todas as sextas, das 19h30 às 21h20, com os professores Ricardo Lira e Ana Lúcia. Atualmente, 14 alunos estão matriculados, sendo dois casais masculinos e cinco femininos.

A turma foi criada depois que Barcellos percebeu um desconforto dos casais gays nas aulas regulares. “Nunca houve manifestação de preconceito, mas eles não ficavam à vontade e acabavam se separando para fazer par com outras pessoas.”

Os casais de mulheres se dividiam para fazer as damas e os casais de homens, para assumir a posição de cavalheiros. Mesmo assim, o professor disse que pensou bastante sobre a abertura da turma, com medo de ser mal interpretado pela própria comunidade LGBTI.

 

“Sempre tive vontade de abrir essa turma, mas tinha receio de acharem que estaria discriminando. Conversei com a minha mulher e decidi que valia arriscar pra ver o retorno.”

 

A resposta foi “excelente”, ele disse ao G1. Logo na primeira aula, Barcellos explicou aos alunos estreantes o motivo da criação da turma. “Disse que não queria fazer uma segregação, mas abrir um espaço onde eles pudessem se sentir mais à vontade”.

A turma, no entanto, não é exclusivo para casais gays, como o denunciante afirmou ao Ministério Público. “É preferencial, o ambiente foi criado para eles, mas pode ser que um casal hétero só possa fazer aula naquela hora e não vejo problema nisso.”

“A diferença é que, se entrar um casal hétero, eles [os casais LGBTI] não vão se importar, porque o espaço é deles.”

 O começo de tudo

O professor e fundador da academia, André Barcellos, chegou a Brasília em 1992 quando foi transferido do Rio de Janeiro pela Força Aérea Brasileira – ele era coronel da infantaria. No ano passado, se aposentou e foi para a reserva, mas continua ativo nas atividades de dança.

A abertura da turma LGBTI foi a segunda investida de sucesso do bailarino e empresário. “Quando cheguei a Brasília vi que não tinha nenhuma escola de dança de salão. Voltei pro Rio pra me especializar e, no ano seguinte, abri a academia.”

Ao longo dos anos, ele desenvolveu o próprio método de ensino, baseado na experiência enquanto militar. “Se eu conseguia fazer 900 garotos de 19 anos marchar sincronizados em dois meses, consegueria separar os passos de dança e levar isso pra sala de aula.”

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