O dólar comercial engatou forte valorização no início da tarde desta quinta-feira e ultrapassou a barreira psicológica de R$ 2, considerada por operadores um teto admitido pelo Banco Central. Por volta de 16h10m, a moeda americana subia 0,70%, a R$ 2,004, primeira ultrapassagem de R$ 2 desde 28 de janeiro deste ano. Na máxima do pregão, a divisa chegou a R$ 2,011.
— Hoje é resultado de uma mistura que não é interessante: mau humor com o Brasil de investidores estrangeiros, estresse nos últimos dias com temores de um rebaixamento de rating do Brasil e toda essa preocupação com o Chipre que contamina os mercados globais. Bolsa despencando, com juros e dólar subindo, lembra um país que não víamos há um bom tempo — disse Gustavo Godoy, gerente de tesouraria do banco Daycoval.
As apostas do mercado na desvalorização do dólar são embasadas pela última divulgação do Banco Central que mostrou saída de US$ 990 milhões de dólares do Brasil em março somente até o dia 15. Na opinião de operadores, a perpetuação da saída de divisas continuou com o risco de insolvência do Chipre, renascido nesta semana, e o persistente mau humor de investidores estrangeiros para investir no Brasil.
— Com o fluxo cambial negativo (saída maior do que entrada de dólares), fica mais fácil para o mercado testar o dólar a R$ 2 — disse Luciano Rostagno, estrategista do banco WestLB do Brasil.
Um operador de banco estrangeiro complementa: — O cenário externo com a crise no Chipre pesou e essas intervenções do governo em diversos setores fazem o estrangeiro tirar o pé dos investimentos.
A disparada do dólar ocorreu pouco depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltar a opinar sobre a cotação da moeda americana, durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Ele disse que a atual taxa de câmbio é mais competitiva e estima o setor de manufaturados.
— O câmbio estava muito valorizado. Mas hoje não está muito valorizado — disse Mantega.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) operava em queda na manhã desta quinta-feira. O movimento acompanha as perdas nos mercados europeus enquanto o presidente do Chipre trabalha em um acordo para obter um pacote de resgate da zona do euro e evitar a insolvência. O Ibovespa, principal referência do mercado brasileiro, apresentava queda de 0,29%, aos 55.869 pontos.
— Por enquanto o mercado aguarda um plano B para o Chipre. Há muita especulação sobre uma ajuda da Rússia — disse Luís Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura.
Após um dia de fortes perdas, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Cemig conseguiam recuperação parcial. Os papéis tinham uma das maiores altas do Ibovespa, de 2,20%, a R$ 22,69, e a valorização era acompanhada por diversas ações do setor elétrico.
Entre as ações mais negociadas da Bolsa, Petrobras PN recua 0,47%, a R$ 18,76, enquanto Vale PNA perde 0,27%, a R$ 32,96. Ordinárias (ON, com voto) da OGX Petróleo apresentavam forte alta, de 4,96%, a R$ 2,75.
Juros futuros são negociados em queda na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 recuam para 7,78%, de 7,81% no fechamento do dia anterior. Já os contratos DI com vencimento em janeiro de 2015 caem de 8,54% para 8,51%. O retrocesso indica apostas menores na magnitude da valorização esperada para a taxa básica de juros, a Selic.
Na Europa, o FTSE 100 recua 0,86% em Londres. Em Paris, o CAC 40 perde 1,44%, enquanto o DAX sofre queda de 1,14% em Frankfurt. Em Madri, o IBEX 35 perde 1,27%, enquanto o FTSE MIB de Milão retrocede 0,56%.
As bolsas asiáticas fecharam em comportamento divergente. Enquanto o índice Nikkei, de Tóquio, subiu 1,34%; o Hang Seng, de Hong Kong, caiu 0,14%. Informções de O Globo.