O presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu a construção do muro com o México em pronunciamento à Nação, no início da madrugada desta quarta-feira (9). Trump disse que há uma crise humanitária e de segurança na divisa. O discurso de Trump, em horário nobre e em rede nacional de televisão, é uma tentativa de convencer os americanos de que o muro na fronteira com o México é fundamental para a segurança da população. Informações do G1.
Trump trava uma queda de braço com os democratas no Congresso pelo financiamento do projeto do muro de mais de US$ 5 bilhões. A maioria democrata na Câmara não aprova a verba. O impasse resultou na suspensão do financiamento de setores do governo, que afeta 800 mil funcionários federais. A paralisação parcial do governo e o congelamento de salários entrou no 19º dia.
No discurso, Trump atacou a aposição, voltou a culpar os democratas pelo ‘shutdown’ no governo e apelou: “quanto sangue americano terá que ser derramado até que o Congresso aprove?”.
Ultimato pelo muro
Do Salão Oval da Casa Branca, o presidente dos EUA fez um apelo pelo financiamento da barreira e apresentou números sobre a entrada de imigrantes ilegais e a violência na fronteira.
“Uma em cada três mulheres é sexualmente atacada na perigosa caminhada pelo México. As mulheres e as crianças são, de longe, as maiores vítimas do nosso sistema fragmentado. Esta é a trágica realidade da imigração ilegal na nossa fronteira sul.” Trump disse que os americanos também são vítimas da entrada ilegal de imigrantes.
Segundo o presidente, “300 cidadãos americanos são mortos por semana por heroína”, e que 90% da droga vêm pela fronteira sul do país. Os números apresentados durante o discurso são questionados pela oposição e pela imprensa.
Trump disse ainda que os EUA não conseguem mais acomodar imigrantes que entram ilegalmente no país. “Estamos sem espaço para segurá-los e não temos como devolvê-los de volta ao país deles”, disse.
Oposição democrata
Durante o pronunciamento, Trump não declarou emergência nacional, o que lhe permitiria usar verbas destinadas a obras militares para construir o muro e driblar o impasse com o Congresso. O presidente afirmou que continuará negociando com os democratas em uma reunião nesta quarta-feira.
Imediatamente após o discurso de Trump, o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, e a presidente da Câmara Baixa, Nancy Pelosi, reagiram às declarações do presidente e exigiram que o governo fosse reaberto.
Também em rede nacional, os líderes democratas afirmaram que Trump não poderia continuar tratando os americanos como reféns.
“O presidente Trump deve parar de manter o povo americano como refém, deve parar de fabricar uma crise e deve reabrir o governo”, afirmou Pelosi.
Chuck Schumer afirmou também que é favorável a mais segurança na fronteira dos EUA com o México, mas que o muro é desnecessário. “Os democratas e o presidente querem uma segurança mais forte nas fronteiras. No entanto, discordamos fortemente do presidente sobre a maneira mais eficaz de fazê-lo”, disse o senador.
Tema central
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/r/M/ZY8DsNT8qkjAqG5G3lrA/novembro-005.jpg)
Um homem hondurenho caminha pelo topo do muro na fronteira que separa o México e os Estados Unidos, em Tijuana, no México — Foto: Gregory Bull/AP
Trump fez da construção do muro o tema central de suas políticas de tom nacionalista. Desde a campanha eleitoral, afirma que a fronteira com o México é uma porta aberta para os criminosos, inclusive narcotraficantes, estupradores, terroristas, pessoas com doenças perigosas e falsos solicitantes de asilo.
De fato, a fronteira tem sido por anos passagem de importantes contingentes de imigrantes ilegais e de um próspero tráfico de drogas. No entanto, checadores de informação têm desacreditado as denúncias e queixas mais assustadoras, incluindo as ameaças terroristas.
Os democratas acusam Trump de inflar a “crise” e consideram que o muro é uma manobra política que não vale o dinheiro que exigiria dos contribuintes.
Além do pronunciamento desta quarta, Trump visitará a fronteira dos Estados Unidos com o México na quinta-feira (10), em mais uma tentativa de pressionar o Congresso sobre as negociações sobre o muro entre os dois países que levaram a uma paralisação parcial do governo.
‘Shutdown’
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/W/5/onSAfqQLq9rbAFWJqAjA/ap19004626400950.jpg)
Museu Nacional do Ar e do Espaço, do Instituto Smithsonian, fechado na sexta (4). — Foto: AP Photo/Alex Brandon
Cerca de 800 mil funcionários federais foram afetados pela paralisação parcial de agências da administração do governo, o chamado ‘shutdown’, que ocorre desde 22 de dezembro. Essas agências estão sem recursos e os funcionários impactados sofrem com o atraso de seu pagamento.
Algumas agências de pesquisa americanas — como a Fundação Nacional de Ciência (NSF, em inglês) e até a própria Nasa, a agência espacial dos EUA, vêm sofrendo com a falta de fundos.
A paralisação ocorre porque o projeto de orçamento de algumas agências federais está travado no Congresso. Trump insiste que não assinará um projeto que não inclua a liberação da cifra bilionária para construir o tão questionado muro fronteiriço, que tinha prometido em sua campanha presidencial para combater a imigração ilegal.
Trump disse na sexta-feira que está “preparado” para que a paralisação orçamentária se estenda por mais de um ano, após uma reunião com os líderes democratas do Congresso para tentar alcançar um acordo.
Muro Trump — Foto: Editoria de Arte/G1