Segurança confirma 56 mortes durante massacre em presídio de Manaus

A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas divulgou uma revisão no início da noite desta segunda-feira, 2, do número total de mortos no massacre do presídio em Manaus. Segundo o órgão, foram 56 mortes, e não 60, como havia sido informado no final da manhã.Os cinquenta e seis presos foram mortos, decapitados, esquartejados e carbonizados após uma guerra entre facções criminosas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. A ação do grupo Família Do Norte (FDN), ligado ao Comando Vermelho (CV), do Rio, contra membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), com liderança em São Paulo, começou na tarde de domingo e durou 15 horas. Treze funcionários e 70 detentos foram feitos reféns e depois liberados, parte com ferimentos. É a maior matança em presídios do País, após o Massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos.

De acordo com o juiz da Vara de Execução Penal do Estado, Luís Carlos Valois, os presos confinados no regime fechado abriram o acesso ao espaço destinado ao semiaberto. “Quando cheguei, já estavam todos mortos. Eles mesmos tiraram os corpos de dentro da penitenciária, antes de entregarem os reféns. Tinha um contêiner cheio de braços e pernas. Um horror”, afirmou. O Compaj mantinha 1.229 internos, mas tem capacidade para 454 detentos. “Tinha cela para cinco pessoas com mais de 30”, disse o juiz.

A Polícia Federal monitora a FDN desde 2015, na Operação La Muralla. Segundo investigadores ouvidos pela reportagem, o massacre tem relação com a saída de vários líderes do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Cerca de 17 líderes da facção, entre eles José Roberto Barbosa e Alan Castimário, haviam sido encaminhados para presídios federais e outros, como Márcio Ramagem, conhecido como Garrote, para o RDD.

De acordo com um investigador, as lideranças começaram a sair do RDD e passaram a organizar a retaliação aos detentos de outras facções.

O secretário de Segurança do Amazonas, Sérgio Fontes, atribuiu a disputa das facções ao narcotráfico. “Esse é mais um capítulo da guerra silenciosa que o narcotráfico jogou esse País. Nós sempre soubemos que o Brasil está numa guerra impiedosa. Vivenciamos ontem mais um capítulo”, disse.

Segundo o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Guaracy Mingardi, a guerra entre facções dentro dos presídios “tem raízes bem antigas no sistema prisional brasileiro” e é consequência da omissão do Estado. “Sempre foi assim, não começou com o PCC. O Estado se limita a cercar e manter os presos lá dentro, mas não tem controle nenhum interno.”

Ele acredita que a matança em Manaus seja resultado do acirramento de uma disputa territorial entre o PCC e o CV. “O PCC se espalhou pelo País como estratégia de poder, mas encontrou resistência em alguns Estados, onde as facções regionais são aliadas do CV. Essa disputa se acirrou há dois meses.”

Fuga

No mesmo momento em que acontecia o massacre no Compaj, 87 detentos fugiram do Instituto Penal Antonio Trindade (Ipat), perto dali. Até a noite de ontem, 40 homens haviam sido recapturados. No início desta noite, presos do Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM), também próximo do Compaj, tentaram fugir. O IML de Manaus vai receber um contêiner frigorífico para auxiliar na necropsia. Os trabalhos devem ser concluídos em cinco dias.

 Rivalidade
Fontes também confirmaram  que a chacina é resultado da rivalidade entre duas organizações criminosas que disputam o controle de atividades ilícitas na região amazônica: a Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Aliada ao Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, a FDN domina o tráfico de drogas e o interior das unidades prisionais do Amazonas. Desde o segundo semestre de 2015, líderes da facção criminosa amazonense vêm sendo apontados como os principais suspeitos pela morte de integrantes do PCC, grupo que surgiu em São Paulo, mas já está presente em quase todas as unidades da federação.Segundo o secretário de Segurança Pública, o estado, sozinho, não tem condições de controlar uma situação como essa. A rebelião começou no início da tarde desse domingo (1º). Agentes penitenciários da empresa terceirizada Umanizzare e 74 presos foram feitos reféns. Parte desses detentos foram assassinados e ao menos seis apenados foram decapitados. Corpos foram arremessados por sobre os muros do complexo.

As autoridades estaduais ainda não sabem ao certo quantos presos conseguiram fugir do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Poucas horas antes do início da rebelião no Compaj, dezenas de detentos tinham conseguido escapar de outra unidade prisional de Manaus, o Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat). O próprio secretário chegou a afirmar a jornalistas que a fuga do Ipat pode ter servido como “cortina de fumaça” para acobertar a ação no Compaj.

Segundo Fontes, as forças de segurança optaram por não entrar no Compaj por considerar que as consequências seriam imprevisíveis. “[A rebelião] Foi gerida com negociação e com respeito aos direitos humanos”, disse Fontes, garantindo que os líderes da rebelião serão identificados e responderão pelas mortes e outros crimes.

Em nota, o Ministério da Justiça informou que o ministro Alexandre de Moraes esteve em contato com o governador do Amazonas, José Melo de Oliveira, durante todo o tempo. Ainda segundo o ministério, o governo estadual deve utilizar parte dos R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) na última quinta-feira (29) para reparar os estragos na unidade.

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