Mais de 30 horas após o início da rebelião no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP), a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) informou pela primeira vez o número de fugitivos: 470. Desse total, 338 haviam sido recapturados até o fim da tarde de sexta-feira (30). Em nota, a SAP informou que todos perderão o direito ao regime semiaberto, e que já estão sendo transferidos para unidades penais fechadas na região de Ribeirão Preto (SP).
As polícias Civil e Militar ainda buscam pelos presos que fugiram. Na tarde desta sexta, uma denúncia anônima informou que detentos estariam escondidos em uma mata em Brodowski (SP), a 20 quilômetros do local da fuga. Os PMs fizeram um cerco, mas nada foi encontrado.
Moradores da região dizem que estão com medo. É o caso da cabeleireira Neusa Mercedez Esquevel, que ficou aguardando o marido em uma padaria, após sair do trabalho, porque temia ira para casa sozinha.
“A gente fica preocupada, e o bairro onde eu moro é afastado, então é complicado. Eu cheguei de Ribeirão, fiquei na padaria esperando o meu marido chegar do trabalho para poder ir embora. Eu tinha muito medo de chegar lá”, contou.

(Foto: Reprodução/EPTV)
O sentimento é compartilhado pela musicista Gilda Montans, que mora em uma fazenda bem em frente ao CPP, às margens da Rodovia Cândido Portinari. Ela estava viajando nesta quinta-feira (29), mas pediu aos familiares para reforçarem a segurança da propriedade.
“Nós ficamos em alerta, soltamos cachorros e mantivemos a segurança. Fomos acompanhando de longe, através da mídia, assustados e sem uma informação correta. Foi a primeira vez que aconteceu um levante desses, que assustou toda a região”, disse.

(Foto: Reprodução/EPTV)
Rebelião e fugas
Com capacidade para 1.080 detentos em regime semiaberto, o CPP abrigava 1.864 presos. A superlotação, no entanto, não seria a causa do motim. Presos recapturados reclamaram das punições aplicadas pela direção da unidade, como a suspensão de visitas.
A rebelião teve início por volta de 9h de quinta-feira, durante a revista de rotina. Não houve reféns. Os presos atearam fogo em colchões de um dos pavilhões, derrubaram uma grade de quatro metros de altura e fugiram pela Rodovia Cândido Portinari.
Segundo a PM, alguns presidiários se esconderam no meio de um canavial, onde havia um incêndio. Oito foram recapturados feridos e precisaram ser levados a hospitais de Ribeirão e Jardinópolis. Um corpo carbonizado também foi encontrado entre a plantação.
Ainda não se sabe a causa do fogo, que também atingiu uma mata. Em nota, a PM negou que tenha iniciado as chamas com a intenção de afastar os fugitivos e conseguir recapturá-los. O Corpo de Bombeiros controlou o incêndio ainda durante a manhã.

Buscas
Os fugitivos recapturados foram colocados no pátio da unidade prisional para contagem e o CPP passou por uma varredura. Ainda na tarde de quinta-feira, familiares dos presos começaram a chegar ao presídio para acompanhar a situação.
Muitos passaram a noite no local e permaneceram em frente aos portões da unidade durante toda a sexta-feira, à espera de informações. Entre essas pessoas estava a aposentada Maria Cândida da Silva, de Guariba (SP), cujo filho está preso no CPP.
Sem notícias, Maria Cândida foi até Jurucê, distrito de Jardinópolis, durante à tarde, para se alimentar. “Lá [no CPP] não tem banheiro, então a gente veio tomar água, comer alguma coisa, porque lá não tem nada. Eles não deixam entrar nem para tomar água”, disse.
A pedagoga Soraia Vido também aguardava por informações do filho, que está preso na unidade. Ela chegou ao CPP às 6h desta sexta-feira e reclamou que as famílias estavam sendo impedidas de usar o banheiro e beber água no presídio.
“Era para ele ter saído no dia 27 de junho e até agora nada, estão segurando o processo, estão esperando o diretor autorizar. Quando eu liguei, a menina foi muito grossa e falou que não adiantava ficar ligando, que só na hora que o diretor autorizar a saída”, afirmou.

SAP justifica
Em nota enviada na noite de quinta, a SAP informou que não havia motivos para a rebelião, mas suspeitava que as fugas tivessem sido provocadas pelo descontentamento em relação às revistas diárias.
A Secretaria justificou que a maioria dos presos exerce atividade laboterápica. “Dos 1861 presos, 1.602 trabalham dentro e fora do presídio, e 662 estudam no ensino regular e/ou profissionalizante – parte dos presos estuda e trabalha, inclusive”, diz o comunicado.
Ainda de acordo com a SAP, a alimentação é produzida na cozinha do próprio CPP, por presos devidamente treinados. A pasta exemplifica também que, na saída temporária do Dia dos Pais, dos 1.166 presos liberados para visitas, 1.131 retornaram, ou seja, 97% do total.
“O CPP é uma unidade de regime semiaberto e de acordo com a legislação brasileira e finalidade da pena, é totalmente circundado por alambrados e não conta com vigilância armada, como nos presídios de regime fechado”, diz a nota.
