
— Essa cidade maravilhosa tornou-se ainda mais bela com a presença de vocês! Uma grande alegria nos invade: vocês estão aqui! Vieram de todos os lugares da Terra! Durante estes dias, aqui será a casa de todos vocês! Vocês estão fazendo parte de nossa família nesse belo e importante momento da história! — disse ele, acompanhado por sete bispos auxiliares do estado e cerca de 1500 ministros, entre cardeais, bispos e sacerdotes. — Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, viva e jovem. Todos os caminhos para cá nos conduzem. Vocês vieram de diferentes partes do mundo para juntos partilharmos a fé e a alegria do discipulado.
Por reunir pessoas de todos os cantos do mundo, a primeira leitura da missa foi em espanhol; o salmo e o evangelho, em português; a segunda leitura, em inglês. Uma mensagem do cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para Leigos, encerrou a celebração eucarística. Antes dela, os jovens, emocionados, entoavam “essa é a juventude do Papa”.
A programação do evento começou às 15h, com a acolhida de peregrinos de todo o mundo e apresentações artísticas, além de momentos de oração no palco montado em Copacabana. Por volta das 18h, a Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora, símbolos da Jornada Mundial da Juventude, entraram em cena. Pelas ruas do bairro, o clima desde o início da tarde era de réveillon. Em grandes grupos, os peregrinos andavam quase sempre de mãos dadas. Câmeras fotográficas à mostra revelavam que a segurança não era preocupação. Longas filas se formaram nos banheiros químicos, mas as cenas de mijões sujando calçadas não eram vistas. Os ambulantes que vendiam bebidas amargavam prejuízos, enquanto os que optavam por bandeiras comemoravam os lucros. Mas, apesar de não perderem a alegria, as milhares de pessoas que lotaram a orla enfrentaram uma chegada confusa. Principalmente após a pane que fechou o metrô. Ônibus chegavam abarrotados, e houve engarrafamentos nas vias de acesso.
Enquanto o metrô esteve em funcionamento, uma cena chamou a atenção, na saída da estação Cardeal Arcoverde. Os próprios voluntários criaram uma espécie de grade humana para evitar que os peregrinos atravessassem no sinal vermelho ou fora da faixa de pedestres. Havia um “grupo de sinalizadores”, cuja subcoordenadora, Cláudia Cruz, afirmou que foi feito um planejamento de pontos estratégicos para ajudar o trânsito:
— Pensando no bem das pessoas, nós nos dividimos em dois turnos: um de meio-dia às 18h, e outro que vai até meia-noite.
O comércio na Rua Barata Ribeiro e na Avenida Nossa Senhora de Copacabana permaneceu aberto, e a movimentação foi grande, principalmente nas lanchonetes. Uma delas tinha uma fila que dobrava quarteirão. A espera por um sanduíche era de mais de meia hora.
— Tem que vir comer antes de apresentar um sinal de fome, porque quando conseguir comer já vai estar com muita — brincou irmã Stela, que foi a Copacabana acompanhada de outras duas freiras de Pernambuco, irmãs Rosilene e Eucivana.
Na praia, os banheiros químicos também tinham filas imensas. A peregrina Mariluce Macedo, de Ribeirão Preto, esperou meia hora até chegar sua vez:
— E o banheiro está muito sujo. Estamos usando bandanas no rosto para poder amenizar o mau cheiro. Por outro lado, o bom é que a gente não vê tanta gente fazendo xixi na rua, como em outros eventos em que estive aqui no Rio.
Na areia, as pessoas passavam boa parte do tempo cantando e dançando as músicas da jornada. A maioria não trouxe cangas, e quase todos vieram com bandeiras de seu país ou estado de origem. A quantidade de ambulantes não era grande. E quem apostou nas bebidas, como Luiz José da Silva, ficou decepcionado com as vendas fracas:
— O movimento está muito aquém do que a gente imaginava — disse ele, acrescentando que já havia levado menos cerveja, e mais refrigerante e água.
Por outro lado, Roberto de Lima conseguiu vender 30 bandeiras do Brasil em meia hora, a R$ 10 cada:
— Normalmente vendo na Central, mas aqui está melhor porque as pessoas estão querendo uma recordação. O clima é de festa, está ótimo, sem brigas.
No meio da multidão, a gaúcha Adriana Agueiro, de 28 anos, participa de sua terceira jornada. Ela já esteve na Espanha e na Alemanha. E elogiou o evento carioca.
— Eu esperava o caos porque, ao contrário de outras jornadas feitas em períodos onde as cidades estão vazias, o Rio não para — afirmou Adriana, reclamando apenas dos preços altos.
Uma camisa do evento, por exemplo, estava custando R$ 35. Com as ciclovias ocupadas pelos jovens, os moradores do bairro alteraram sua rotina e usaram uma das pistas da Avenida Atlântica para o lazer. Informações de O Globo.