Desde o segundo mandato de Joaquim Roriz, em 2002, o DF não reelege um governador. De 2006 em diante, todos os ocupantes do Palácio do Buriti acabaram afastados do poder, por impedimentos legais ou pela vontade do povo. Agora, três ex-governadores anunciaram a disposição de um recomeço nas eleições deste ano. José Roberto Arruda (PL), Agnelo Queiroz (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) vão tentar regressar à cena política pelo mesmo caminho: a Câmara dos Deputados. Todos já estiveram lá no passado, uns em outros recomeços, outros apenas no começo.
Arruda, que comandou o executivo local entre 1° de janeiro de 2007 e 16 de março de 2010, até ensaiou uma volta triunfal ao Governo do Distrito Federal (GDF) este ano. Mas uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro, também do PL, freou suas pretensões. Em entrevista dada aos renomados jornalistas Ana Dubeux, Ana Maria Campos, Carlos Alexandre de Souza e Denise Rothenburg, do Correio Braziliense, publicada no último domingo (24), o ex-governador disse estar retornando de “12 anos no deserto”.
Na entrevista, ao explicar por que resolveu se candidatar à Câmara dos Deputados, Arruda justificou que a decisão privilegiava a composição política mais ampla em torno de Jair Bolsonaro e Ibaneis Rocha e a garantia do projeto político da ex-deputada e ex-ministra Flávia Arruda, sua esposa. Mas também disse que é ”mais racional voltar degrau por degrau e não subir de elevador”.
A escalada por patamares é velha conhecida do ex-governador. Eleito em 1994 para o Senado, Arruda acabaria renunciando ao mandato em 24 de maio de 2001, na esteira do chamado “escândalo do painel eletrônico”, caso em que houve violação do sigilo da votação da cassação do ex-senador Luís Estêvão, ocorrida em 28 de junho do ano anterior. Nas eleições de 2002, candidatou-se a deputado federal, obtendo 320.692 votos, ou incríveis 26,5% da votação válida. O percentual o impulsionou a, quatro anos mais tarde, tentar e se eleger governador, ainda no primeiro turno, pelo então PFL.
Mesmo não concluindo o mandato ou tentando a reeleição em 2010, pois foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do DF (TER-DF) por desfiliação partidária, Arruda deixou na população do DF um bom recall. Prova disso é que estava disputando a liderança das pesquisas eleitorais com o atual governador Ibaneis Rocha (MDB), agora seu aliado.
O mesmo não se pode dizer dos dois sucessores indiretos de Arruda. Após rápido mandato de Wilson Lima, então presidente da Câmara Legislativa que ficou menos de dois meses no cargo e acabou inelegível para o pleito daquele ano, o lugar ficou com Rogério Rosso, em eleição entre os deputados distritais. Após oito meses de uma gestão sem brilho no Buriti, ele passou a faixa ao sucessor, Agnelo Queiroz (PT).
Em 2014, Rosso foi eleito deputado federal, com certo protagonismo ao presidir a Comissão Especial do Impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao votar contra o impeachment de Michel Temer. Hoje filiado ao PP, ele não admitiu que pode ser candidato novamente, pois é executivo de uma companhia farmacêutica. Mas é um nome forte na nominata do seu partido, que não terá, em princípio, Celina Leão como candidata à reeleição – ela compõe a chapa de Ibaneis Rocha como vice-governadora, ao menos por enquanto.
Rosso ainda não tem destino político definido, assim como Agnelo Queiroz (PT). Único governador do DF a sequer ir ao segundo turno na disputa de uma reeleição, ele finalmente teve confirmada a candidatura à Câmara dos Deputados graças a uma canetada da direção nacional da federação PT-PV-PCdoB, dada no último domingo (24). Com isso, em princípio, ele estará no mesmo palanque de Leandro Grass (PV), candidato ao GDF, e de Rosilene Corrêa (PT), postulante ao Senado.
Mesmo garantido pela federação, Agnelo precisa resolver pendências judiciais que provocaram a decisão de não inscrevê-lo, conforme decisão anterior da executiva regional do PT. Uma delas refere-se à ação de improbidade administrativa em relação ao Centro Administrativo (Centrad), que pode cair, dependendo do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do dia 3 de agosto – a decisão também interessa, e muito, a José Roberto Arruda.
No PT, Agnelo Queiroz também enfrenta resistências, a começar pela possibilidade de tirar a deputada federal Érika Kokay (PT) de mais um mandato. Com ficha limpa e sem ameaças de inelegibilidade, ela concorre ao quarto mandato e poderia ficar de fora da Câmara, caso fosse ultrapassada nas urnas pelo ex-governador – o que é considerado como quase impossível pelos especialistas, dada a popularidade de Érika. Devido às novas regras eleitorais, no entanto, o registro de uma candidatura que possa ser negada ou anulada põe em risco uma vaga quase garantida – e só mesmo a canetada temporária assegurou a posição de Agnelo.
Depois de uma carreira de sucesso, na qual chegou ao GDF nas eleições de 2014, e da derrota para o novato Ibaneis Rocha no segundo turno das eleições de 2018, Rodrigo Rollemberg (PSB) também pretende voltar à Câmara dos Deputados para ocupar o cargo que teve entre 2011 e 2014, quando foi eleito senador. Com pré-campanha já nas ruas, ele vem circulando pelas cidades em busca dos votos para um recomeço. Embora tenha ficha limpa, esbarra em uma enorme dificuldade: conseguir levar seu partido aos votos necessários para emplacar um deputado federal. Calcula-se um número em torno de 160 mil. Tarefa nada fácil. (GPS)