
Atualmente, a medicação não tem comprovação científica para tratamento contra o doença. No mesmo mês em que o governo federal não respondeu a carta encaminhada pelo CEO mundial da Pfizer, Abert Bourla, que pedia rapidez na negociação doses da vacina contra a Covid-19, o Ministério da Saúde negociava a compra de cloroquina.
A carta da Pfizer foi enviada ao presidente Jair Bolsonaro e a alguns ministros no dia 12 de setembro de 2020. Na época, o Brasil acumulava 131.210 mortes e 4,3 milhões de casos confirmados do novo coronavírus. Hoje, são mais de 230 mil mortes e 9,4 milhões de casos.
O Brasil foi o 57º país a começar a vacinar sua população, o que começou a ser feito em janeiro, segundo apuração da Agência CNN.
Em setembro, a CNN solicitou via Lei de Acesso à Informação (LAI) informações quanto à possibilidade de novas aquisições de cloroquina. A Coordenação-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos do Ministério da Saúde respondeu, no dia 14 do mesmo mês, que havia um processo de aquisição de cloroquina pela pasta junto à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com recursos oriundos do Programa de Enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional Decorrente do Coronavírus.
Para justificar a aquisição do medicamento, foi explicado que o estoque de cloroquina 150 mg do Ministério da Saúde, naquele momento, era de 375.500 comprimidos. Assim, a aquisição em andamento se justificaria pela necessidade de manter o abastecimento da rede pública, em atendimento aos dois programa de saúde contra malária e, segundo o órgão, para tratamento de Covid-19.
“Neste ano de 2020, o programa de malária tem observado aumento do número de casos no Brasil, e conforme divulgado diariamente, o número de casos de Covid-19 no Brasil continua elevado, e dessa forma, há expectativa de que demanda dos estados e municípios por esse medicamento continue elevada no segundo semestre de 2020”, informou o órgão na resposta enviada via LAI.
Segundo levantamento feito pela CNN, apenas entre nos meses de abril e agosto, a Coordenação-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos do Ministério da Saúde solicitou ao Laboratório Químico Farmacêutico do Exército a distribuição de 1,5 milhão de comprimidos aos estados.

A justificativa era o “enfrentamento da pandemia pela Covid-19” e a divisão do número de comprimidos enviados a cada localidade tinha como base o número de casos suspeitos da doença.
Em setembro, a CNN mostrou que uma empresa de Minas Gerais vendeu ao laboratório do Exército Brasileiro ao menos dois lotes de insumos importados para a fabricação de cloroquina por um valor 167% mais alto do que a mesma empresa tinha cobrado do Exército dois meses antes. O custo total desses contratos mais caros foi de R$ 782,4 mil aos cofres públicos.
Documentos obtidos com exclusividade pela reportagem revelaram que o laboratório do Exército não contestou formalmente esse aumento no preço e só cobrou explicações por escrito à empresa depois de a compra, já finalizada, ter virado alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU).
Um mês depois, a área técnica do tribunal determinou que o Exército interrompesse a produção de cloroquina até que ficasse esclarecida qual era a demanda real.
Para o TCU, “a falha em questão tem o potencial de gerar dano ao erário, pois a produção pode exceder à necessidade do SUS e gerar acúmulo e vencimento de medicamentos, não alcançando, portanto, a finalidade pública”.
Ministério afirma que não houve importação
Em nota, o Ministério da Saúde informa que não adquire insumos para a produção de fármacos (IFA) e sim o produto acabado (medicamento) e esclarece ainda que não houve importação do medicamento cloroquina 150 mg.
“Os comprimidos de cloroquina foram distribuídos mediante solicitação dos estados e municípios. Informa-se que o medicamento hidroxicloroquina 400 mg faz parte da relação de medicamentos do grupo 2 do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) e possui aquisição sob responsabilidade das secretarias estaduais de saúde”, diz a nota.
Ainda de acordo com o ministério, houve doação feita ao governo brasileiro de 3.016.000 unidades de hidroxicloroquina 200 mg, proveniente do governo dos Estados Unidos e da empresa Sandoz/Novartis, acondicionados em frascos com 500 e 100 comprimidos, que foram distribuídos aos entes federados sob manifestação de interesse e condições técnicas para o seu fracionamento, de acordo com as orientações preconizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Ministério da Saúde diz que o governo federal não ampliou a produção de cloroquina e nem tampouco a de hidroxicloroquina.
Especificamente sobre a cloroquina, os quantitativos adquiridos correspondem ao atendimento do Programa Nacional de Controle da Malária e com o advento da pandemia, o estoque desse medicamento do Ministério e do laboratório do Exército contribuíram para atender a demanda dos estados e municípios.