
Mas Bolsonaro, longe de recuar, voltou à carga nesta quinta-feira. “Querem que eu culpe os índios? Que culpe os marcianos? Todo mundo é suspeito, mas os principais suspeitos são as ONGs. É uma indicação muito forte de que essas organizações perderam seus benefícios. É simples”, respondeu, quando perguntado sobre a responsabilidade pelos incêndios. O presidente brasileiro sugeriu, além disso, que faltam recursos inclusive para enviar “quarenta homens para combater o fogo”.
Mais de meia centena de organizações não governamentais cerraram fileiras nesta quinta-feira e responderam ao ataque dialético promovido por Bolsonaro. “É uma declaração absolutamente frívola e irresponsável que tem um objetivo muito claro: desviar a atenção do que realmente importa” na hora de tomar medidas que reduzam o desmatamento, declarou Raul do Vale, diretor de Justiça Socioambiental do WWF Brasil, à agência Efe. A Amazon Watch também se manifestou, vinculando a devastação da floresta ao discurso “antiambiental” de Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que se mostra partidário de explorar economicamente a Amazônia e reduzir a fiscalização das regras ambientais nas áreas protegidas. “Os agricultores e pecuaristas entendem a mensagem do presidente como uma licença para provocar incêndios intencionais com total impunidade, a fim de expandir fortemente suas operações na floresta”, afirmou Vale.
Além disso, a postura do Governo brasileiro – que já despertou os receios da comunidade internacional – levou o partido Rede Sustentabilidade a apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de impeachment do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por crime de responsabilidade na gestão da política ambiental.
Comissão externa e Ministério Público
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciou nesta quarta-feira a criação de uma comissão externa para monitorar os incêndios e destacou a importância de preservar o meio ambiente para manter fortes as exportações e o agronegócio. Já a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal também informou ter cobrado ao Ministério do Meio Ambiente uma plano de ações concretas para a prevenção de desmatamentos e incêndios na regiãp da Amazônia Legal. A 4CCR pede o demonstrativo do planejamento das ações de fiscalização para 2019, com o seu percentual de execução. Os ofícios foram dirigidos ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; ao presidente do Ibama, Eduardo Bim; e ao presidente do ICMBio, Homero Cerqueira. O prazo para resposta é de 10 dias úteis, no caso do MMA, e cinco dias úteis, no caso do Ibama e ICMBio.
O Brasil sofre um número recorde de incêndios. Entre janeiro e a segunda-feira passada, seu número cresceu quase 84% em relação ao mesmo período de 2018, o ritmo mais alto desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar o desmatamento através de imagens de satélite, em 2013.
A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/MPF) enviou nesta quinta-feira (22) ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), ao Ibama e ao ICMBio ofício requisitando informações sobre as ações concretas realizadas pelos órgãos para a prevenção de desmatamentos e incêndios na Amazônia Legal. A 4CCR pede o demonstrativo do planejamento das ações de fiscalização para 2019, com o seu percentual de execução. Os ofícios foram dirigidos ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; ao presidente do Ibama, Eduardo Bim; e ao presidente do ICMBio, Homero Cerqueira. O prazo para resposta é de 10 dias úteis, no caso do MMA, e cinco dias úteis, no caso do Ibama e ICMBio.
Além dos protestos nas redes sociais, os brasileiros começaram a organizar manifestações nesta sexta e neste fim semana em pelo menos oito cidades. A principal, com o lema “Todos pela Amazônia”, está prevista na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. As comunidades brasileiras em Sydney (Austrália) e Barcelona também convocaram protestos.