João de Deus presta depoimento por 3h e rebate acusações

João de Deus, no momento em que deixa a delegacia após prestar depoimento, em Goiânia — Foto: Vitor Santana/G1

Por Vitor Santana, G1 GO 

O médium João de Deus prestou depoimento por 3h neste domingo (16) após se entregar à Polícia Civil. De acordo com o delegado-geral, André Fernandes, ele apresentou versões e explicações para as denúncias das mulheres que dizem que foram abusadas sexualmente por ele durante atendimentos espirituais. A defesa afirma que tem “sérias dúvidas sobre os depoimentos” das vítimas.

O líder religioso se entregou às 16h20, em uma estrada de terra em Abadiânia, na região central de Goiás. Depois de prestar depoimento na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), ele passou por exames no Instituto Médico Legal e segui para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

O delegado-geral não detalhou o conteúdo do interrogatório do médium. “Trata-se de informação sensível, é um caso delicado. Mas ele apresentou versões, explicações para os casos”, disse.

Fernandes explicou ainda que o interrogatório se limitou apenas às denúncias de abuso. “Vamos confrontar o que ele falou com as provas que temos e com os depoimentos colhidos e analisar tudo. Devemos ouvir ele uma segunda vez, mas primeiro precisamos fazer esses comparativos”, explicou.

Ao todo, 15 mulheres foram ouvidas pela Polícia Civil. Porém, agora, com a prisão do médium, a corporação acredita que mais vítimas devem surgir. Por sim, o delegado explicou que deve se encontrar com o Ministério Público, que já recebeu mais de 300 denúncias, para compartilhar informações. Entenda os rumos da investigação.

O advogado Alberto Toron, que defende o médium, disse que tem “sérias dúvidas sobre os depoimentos incriminatórios”. “Tivemos acesso a parte dos depoimentos e sem fotos das vítimas, então alguns casos ele não se lembra. E tem relatos de mulheres que dizem ter sido abusadas e voltaram lá outras vezes. Então, é preciso escrutinar tudo com calma para que não haja um linchamento”, explicou.

O defensor disse ainda que o médium alega inocência e que acredita que isso é uma armação contra ele. “O senhor João acha que tem gente que o quer destruir”, completou.

Toron informou que deve entrar com um pedido de habeas corpus na segunda-feira (17), também pedindo, se necessário, que seja concedida a prisão domiciliar do médium.

Sobre a movimentação de R$ 35 milhões nas contas de João de Deus, o advogado explicou que não houve nenhum saque. “Não houve nenhuma movimentação. Ele simplesmente baixou as suas aplicações para fazer frente às necessidades dele. O que se reputou que seria dinheiro para ele poder fugir cai por terra quando ele se apresenta. Ele se apresentou dando mostras claras de que respeita a Justiça e o Poder Judiciário e por isso está à disposição”, explicou.

Cela

O médium João de Deus vai ficar em uma cela de 16 m² no Núcleo de Custódia com outros três presos, que são advogados. Lá, ele ficará em uma cela com cama, pia e chuveiro e terá direito a banho de sol. Fontes informaram ao G1 que ele só poderá receber visitas após 30 dias.

Até o sábado (15), a polícia tinha feito buscas em mais de 30 endereços em busca do médium sem sucesso. Ele já era considerado foragido pelo Ministério Público.

Segundo o delegado-geral, ainda não há como definir exatamente por quais crimes ele vai responder, porque os depoimentos tratam de crimes distintos. “De maneira geral, são crimes contra os costumes mediante fraude”, disse.

“Pela idade, ele acaba tendo alguns benefícios pela lei, como a diminuição pela metade do prazo para prescrição dos casos”, declarou também o delegado.

 Ocultação de patrimônio

O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) informou à TV Anhanguera, no sábado (15), que João de Deus pode ter tentado ocultar patrimônio e que isso levou o órgão a acelerar o pedido de prisão do líder religioso. Ao órgão, mais de 330 mulheres denunciaram o médium por abuso.

“A gente já tem informações de que há providências do investigado buscando ocultar patrimônio. Este fato está sendo apurado e todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas pelo MP-GO”, disse a promotora Gabriella de Queiroz Clementino. “Claro que esta notícia de ocultação e patrimônio reforça ainda mais os fundamentos da prisão”, afirmou.

Última visita à Casa

Na manhã de quarta-feira (12), o médium compareceu à Casa Dom Inácio de Loyola, onde realiza os trabalhos espirituais, pela primeira vez desde que as denúncias vieram à tona. Durante os poucos minutos que ficou no local, ele disse que era inocente e que confiava na Justiça de Deus e dos homens.

“Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs, agradeço a Deus por estar aqui. Ainda sou irmão de Deus, mas quero cumprir a lei brasileira porque estou na mão da lei brasileira. João de Deus ainda está vivo. A paz de Deus esteja convosco”, diz João de Deus.

A assessora de imprensa do religioso, Edna Gomes, afirmou, após as declarações, que o médium era inocente, mas que as denúncias eram graves e deveriam ser apuradas.

 Denúncias

O jornal “O Globo”, a TV Globo e o G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.

A força-tarefa que investiga as denúncias contra João de Deus começou o trabalho de investigação do dia 10 de dezembro, depois que o programa Conversa com Bial divulgou o relato de 10 mulheres que disseram ter sido abusadas sexualmente pelo médium.

O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que assim como a Polícia Civil, investiga a suspeita de crimes sexuais durante tratamentos feitos pelo religioso, havia contabilizado, até este domingo (16), mais de 300 denúncias contra o médium.

Para atender às mulheres que não moram em Goiás, o MP-GO preparou uma sala de videoconferência. Nela, ficam os cinco promotores de Goiás que participam da força-tarefa, duas psicólogas e dois tradutores de línguas estrangeiras.

“Temos casos fora do Brasil, por isso, temos a necessidade de acompanhamento para ajudar a gente a esclarecer todas essas situações”, afirma o procurador-geral do órgão, Benedito Torres.

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