Prédio desaba após incêndio e deixa pelo menos um morto no centro de São Paulo

Um prédio de mais de 20 andares desabou após pegar fogo nas proximidades do Largo do Paissandu, centro de São Paulo, na madrugada desta terça-feira, dia 1º de maio. Pelo menos uma pessoa morreu e ainda há desaparecidos. O edifício, que já foi sede da Polícia Federal e pertence à União, estava ocupado por cerca de 150 famílias de um movimento de moradia, conforme informações iniciais.”Pode haver mais vítimas”, disse Max Mena, coronel do Corpo de Bombeiros. A única morte confirmada até o momento é de um homem que estava sendo resgatado no momento em que o prédio desabou. Foram 13 segundos para que o prédio fosse ao chão. Nas imagens de TV, é possível ver que um bombeiro no teto de um prédio ao lado já estava posicionado para puxá-lo pela corda em que estava pendurado, quando a queda começou. “Nós estávamos tentando salvá-lo, mas infelizmente ele caiu no momento do desabamento. Foi uma tentativa rápida, por uma questão de segundos que não conseguimos”, acrescentou Mena. O prédio está situado na rua Antônio de Godoy, no largo do Paissandu.

presidente Michel Temer foi ao local do acidente, onde confirmou que o prédio pertence à União e disse que colocou o Governo Federal à disposição da prefeitura para o suporte às vítimas. Ele foi recebido com protestos e vaias pelas pessoas que acompanham o trabalho dos bombeiros. O prefeito Bruno Covas também esteve no local.

Os escombros do edifício no centro de São Paulo
Os escombros do edifício no centro de São Paulo AP

As chamas começaram durante a madrugada e o fogo se espalhou rapidamente pelos andares, gerando cenas impressionantes, com imensas labaredas subindo. “Quando o prédio desmoronou, parecia um tsumami”, disse ao jornal Folha de S.Paulo uma mulher de 58 anos que morava no prédio. Alguns edifícios do entorno foram esvaziados e a Defesa Civil avalia possíveis danos. Cerca de 160 agentes do Corpo de Bombeiro permanecem na região, que está isolada, para a busca por possíveis vítimas. As imagens de televisão mostram os escombros depois de desmoronar.

A queda atingiu também o entorno, como a Igreja Luterana Marthin Luther, vizinha ao edifício. O imóvel, do início do século XX, perdeu parte da sua estrutura. Em entrevista à Rede Globo, o pastor da igreja luterana, Frederico Carlos, afirmou que o desabamento desta madrugada era uma “tragédia anunciada”, devido às más condições do local, onde moravam centenas de famílias. “Sempre se falou do risco que esse prédio corria, e precisou acontecer uma desgraça”, disse ele, que mantinha uma convivência com os moradores, acolhidos pela Igreja. “Volta e meia conversava com eles, entrava no prédio e via, era uma tragédia que sabia que uma hora ia acontecer”, contou ele. Desde fiações expostas, esgoto aberto, davam a sensação de vulnerabilidade do local. O pastor mostrou-se inconformado pelo fato de as autoridades nunca terem tomado uma atitude firme para evitar a degradação do edifício, embora tenham sido avisadas diversas vezes. “A gente entrava em contato e diziam ‘não é com a gente, é com esse’, e ninguém faz nada. Como sempre agora vão fazer um bonito inquérito e, como sempre, não vai dar em nada”, reclamou.

O edifício está ocupado há seis anos, com apoio de um grupo chamado MLSM. As famílias que ali moravam pagavam mensalidade para ocupar um quarto, ratear as despesas e e utilizar as áreas comuns, prática recorrente nas ocupações. Segundo o prefeito Bruno Covas, uma das dificuldades para remover as famílias dali era o fato dele ser de propriedade da União, o que dificultaria o trabalho da prefeitura, que tinha a cessão provisória do imóvel, segundo o Secretaria do Patrimônio da União. “Há 70 edifícios em São Paulo nessa situação, e outras 200 áreas ocupadas”, explicou ele. Só nos edifícios, estariam 4.000 famílias carentes que apelam para esta solução em busca de moradia. Ainda segundo Covas, já teriam havido seis reuniões com as famílias daquele edifício para negociar sua retirada.

Reação

Diante da tragédia, a prefeitura e o Governo estadual anunciaram apoio às famílias. O governador Marcio França chegou a se comprometer com o pagamento de aluguel social para as famílias que estava ali instaladas. Também o Governo Temer anunciou que a Defesa Civil já estava acompanhando desde a madrugada os trabalhos de busca e atendimento à população. “Em contato com o governador de São Paulo, Márcio França, e o prefeito do município, Bruno Covas, o ministro da Integração Nacional, Pádua Andrade, também reafirmou nesta manhã o apoio do Governo Federal para as ações de socorro e assistência às vítimas”, diz um comunicado oficial. “Recebemos a orientação do presidente Michel Temer para prestar todo o auxílio necessário às famílias e às equipes das defesas civis do estado e do município. Estamos todos consternados. O Governo Federal não medirá esforços para minorar os impactos disso e o sofrimento dessas pessoas”, disse o ministro Pádua Andrade.

Apesar da reação de apoio, as críticas ao imobilismo do Estado, com o empurra empurra de responsabilidades – culpa da prefeitura ou da União – já começaram. Também as famílias que ocupam edifícios para pressionar por moradias sofrem com o estigma de estarem vinculados a movimentos sociais, que estariam se aproveitando de limbos jurídicos para se estabelecer em espaços  que oferecem risco de morte, como mostrou a tragédia desta terça. Algumas notícias que circularam ao longo do dia criticavam o que era chamado de “indústria de ocupação”. Nas redes sociais, não faltavam os xingamentos às famílias, chamadas de “vagabundos”. E a acusação de que se tratava de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), liderado pelo pré candidato Guilherme Boulous, que concorre pelo PSOL. Boulous tratou de esclarecer os fatos, e prestar solidariedade, pelo Twitter, às famílias. “Nossa solidariedade às famílias ocupantes que sofreram com incêndio e desabamento do edifício em São Paulo. Querer culpar os sem-teto pelas condições precárias do imóvel é de uma perversidade inacreditável. Ninguém ocupa porque quer, mas por falta de alternativa”, afirmou. Informações do El País.

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