Hélio Doyle
Há uma característica da velha política da qual pouco se fala: a demagogia. Velhos políticos são demagogos e sentenciam que não tem futuro quem não é. Afirmação que até tem razão de ser, já que a maioria dos políticos usa e abusa desse recurso para ganhar apoios e eleitores. E, se são eleitos e reeleitos, é porque a demagogia está dando certo. Por isso, o índice de demagogia aumenta assustadoramente em períodos eleitorais.
Sem aprofundar conceitos políticos e filosóficos e o significado que a palavra demagogia teve no passado distante e tem agora, demagogo é o político que mente, distorce, engana e faz promessas que não cumprirá. O demagogo diz as palavras que as pessoas querem ouvir, mesmo que não concorde com elas, ou usa seus atributos oratórios para seduzir os ouvintes com jogos de palavras e afirmações vazias. E também assume posturas e comportamentos que não são seus, mas que lhe parecem ser convenientes.
O objetivo do político demagogo é agradar e manipular, e assim reforçar sua posição mediante a enganação — por palavras ou pela ação. O vice-governador Renato Santana, por exemplo, deu hoje uma aula de demagogia, ao dizer em uma solenidade que o governador Rodrigo Rollemberg o rejeita porque é negro e mora na Ceilândia. Por mais críticas que tenhamos ao governador, inclusive por atos de demagogia explícita, os preconceitos em função da cor da pele e do local de moradia não estão entre seus defeitos. A demagogia, seguramente, é uma característica marcante de Renato Santana e de seu mentor intelectual, o deputado Rogério Rosso.
Mas os exemplos de demagogia são inumeráveis: discursar contra a corrupção estando envolvido na Drácon ou outras operações, defender aumentos salariais para servidores públicos mesmo sabendo que não há dinheiro para isso, inaugurar obras inacabadas e campinho de futebol com claque paga com dinheiro público. É demagogia também ser batizado em igreja evangélica quando se é católico, e se fingir de católico quando se é ateu. Ou mostrar números falsos ou fora do contexto para dizer que algo positivo aumentou ou algo negativo diminuiu — como rede de atenção básica à saúde e número de crimes, ou coisas assim. Aprovar projeto de lei sabendo que é inconstitucional é demagogia típica de distritais. E é demagogia, claro, prometer tarifas de ônibus a um real em campanha eleitoral.
Os eleitores brasilienses estão mais informados, mais atentos e mais indignados. A maioria não se deixa mais ser facilmente enganada pelos políticos demagogos e inescrupulosos e por promessas que não se cumprirão. A demagogia faz muito mal à população quando os demagogos são eleitos.