Apenas 45% das cabeceiras da Bacia do Alto Paraguai estão preservadas

 DINALTE MIRANDA/DIÁRIO DE CUIABÁ
Cássio Bernardino, da WWF-Brasil
JOANICE DE DEUS

Monitoramento sobre o uso e cobertura do solo da Bacia do Alto Paraguai aponta para um deficit de áreas de reserva legal na região de planalto, em Mato Grosso. A estimativa é de que essa ausência de vegetação atinja 392 mil hectares, sendo necessários investimento da R$ 3,9 bilhões para sua recuperação. Apenas 45% da região das cabeceiras do pantanal estão preservados.

O estudo foi feito pela organização não governamental WWF-Brasil em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco de Mato Grosso do Sul (UCDB/MS) e a Fundação Tuiuiú. Apresentado ontem, em Cuiabá, o monitoramento foi desenvolvido no período de seca, entre abril e setembro de 2016. “Nós, produzimos um material que gerou dados precisos sobre o uso e a cobertura e os determinados setores da economia, ambiental e de produção podem se apropriar dessas informações, que podem servir de apoio para tomadas de decisões”, disse o professor Fábio Ayres, do Departamento de Geografia da UCDB.

De acordo com o analista de Conservação do WWF-Brasil, Cássio Bernardino, algumas das análises feitas referem-se às queimadas e a superfície d’água na região. Entre os cenários preocupantes, o fato de que, em algumas décadas, o pantanal poderá perder a sua característica de inundação periódica fazendo com que áreas se tornem permanentemente alagadas. “A região de Alto Taquari, por exemplo, é considerado um caso bem emblemático por conta de localidades que ficaram permanentemente alagadas. Hoje, a gente tem lugares que onde era pasto, o fazendeiro está andando de canoa”, citou.

Esse processo é considerado natural, mas deveria ocorrer em 100 milhões de ano. “Quando se desmata uma área natural e coloca um cultivo, muitas vezes, sem usar as melhores técnicas, começa a descer sedimentos ou terra demais para a planície pantaneira. Então, esse excesso de sedimento começa a se depositar nos fundos dos rios”, explicou.

Entre as consequências estão a diminuição da produtividade da pecuária, desalojamento de populações e queda no preço dos imóveis. Ao mesmo tempo, outras regiões podem não mais serem inundadas, fazendo com que a fertilidade do solo caia, impactando de maneira significativa à pecuária.

Por outra parte, conforme o WWF-Brasil, a piora na parte alta, por afetar o ciclo das águas da parte baixa, também impactaria em perda de biodiversidade. “Existem mais de 4 mil espécies de animais e plantas no pantanal e eles necessitam do bioma íntegro para sua sobrevivência. A contaminação dos rios e nascentes em áreas de planalto, por falta de saneamento básico e más práticas agropecuárias, descem para as águas de planície, afetando o Pantanal em sua totalidade”, aponta.

Quanto ao uso do fogo, Bernardino frisa que o pantanal também possuiu uma dinâmica, mas é preciso saber se vem ocorrendo de forma natural. “A partir de agora, a gente consegue ter um olhar sobre esse fenômeno e o objetivo é que sejam traçadas políticas públicas para compreender melhor a utilização do fogo, que é instrumento de cultivo, mas precisa ser bem manejado”, disse.

Conforme o WWF, a boa notícia é com relação à planície, aonde a preservação chega a 82%. “Esse resultado indica que os modelos de pecuária sustentável que foram implantados e desenvolvidos na região têm dado certo e pode permitir um futuro alimentar para a população, ou seja, abastecer um mercado de carne sem degradar o meio ambiente”, frisou o coordenador do WWF-Brasil, Júlio César Sampaio. “O Pantanal também provê serviços ambientais, como regulação do clima e um regime de cheias periódicas que é fundamental para a produção de gado e a fertilidade do solo. Ou seja, se a planície estiver preservada, todos esses serviços estarão garantidos”, afirma.

No Estado, as cabeceiras do pantanal abrangem 25 municípios. Em 2015, uma ação entre entidades ligadas ao meio ambiente, empresas e o Governo do Estado, recuperou 80 nascentes, adequou ambientalmente mais de 100 quilômetros de estradas rurais e beneficiou 38 famílias com a instalação de biofossas.

O Pantanal é a maior área úmida continental do planeta. Seus 170.500,92 mil km² de extensão abrangem parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da Bolívia e Paraguai.

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