
Três dias após a derrota de sua tia Marine Le Pen na eleição presidencial na França, a jovem estrela em ascensão do seu partido, Marion Maréchal-Le Pen, de 27 anos, decidiu afastar-se da política, enfraquecendo a extrema-direita antes das legislativas.
“Lamento profundamente”, tuítou Marine Le Pen. “Deserção”, criticou Jean-Marie Le Pen, cofundador da Frente Nacional (FN) e avô da mais jovem deputada do país, para quem ela era “uma das estrelas mais amadas e admiradas do movimento”.
A decisão de Marion Maréchal-Le Pen de não disputar em junho um novo mandato legislativo no Vaucluse, reduto da extrema-direita no sul do país, insere-se em um contexto de disputa de poder dentro do partido Frente Nacional: Marion Maréchal-Le Pen apresenta posições mais radicais que sua tia em questões sociais.
Alguns percebiam nela uma alternativa, num momento em que a legitimidade de Marine Le Pen é questionada em razão de sua derrota para o centrista Emmanuel Macron (eleito com 66,10% dos votos), embora tenha obtido um número histórico de votos no segundo turno (10,6 milhões).
“Sei que minha decisão causará incompreensão e decepção (…) jamais teria feito esta escolha se não me parecesse justo e necessário”, explica a jovem em sua conta no Facebook, citando razões “pessoais e políticas”.
No entanto, “não renuncio definitivamente à luta política”, acrescenta ela.
O posicionamento conservador-liberal da jovem loira, católica e próxima dos meios tradicionalistas e antiaborto, a fez muito popular, especialmente no sul do país.
Em várias ocasiões, a deputada, mãe de uma menina de dois anos, expressou seu desejo de embarcar em uma carreira no setor privado e passar mais tempo com sua família. Também deu a entender seu cansaço sobre a complicada relação com sua tia Marine e com a eminência parda Florian Philippot.
– ‘Terremoto’ –
“Como líder política, lamento profundamente a decisão de Marion, mas, como mãe, eu compreendo”, tuítou Marine Le Pen.
No final de março, a líder da extrema-direita afirmou que, se eleita presidente, não nomearia sua sobrinha para ministra, para evitar suspeitas de nepotismo e por causa de sua suposta inexperiência.
Vários eleitos da FN disseram à AFP temer um “terremoto” futuro: a jovem deputada é vista por muitos como uma porta de entrada para o eleitorado tradicional de direita, enquanto Marine Le Pen não conseguiu convencer durante sua campanha presidencial de eleitores decepcionados com a eliminação de seu candidato François Fillon na primeira rodada.
“No sul será complicado, as pessoas não vão necessariamente compreender”, aponta um. “Vamos perder muitos membros e militantes que estão lá por ela”, ecoou outro.
Enquanto a FN aspira se tornar “a primeira força de oposição” nas legislativas de 11 e 18 de junho, o número três do partido, Nicolas Bay, chamou na quarta-feira a lutar contra “interpretações midiáticas maliciosas que tentam dar um sentido político” a uma decisão de “escolha pessoal de uma jovem mulher totalmente monopolizada pela luta política por cinco anos”.
No restaurante de Carpentras, em Vaucluse, onde Marion Maréchal-Le Pen comemorou sua eleição para a Assembleia Nacional em junho de 2012, a notícia desperta decepção.
“Marine fez de propósito não deixar espaço para ela, o que é um erro, ela deveria tê-la feito subir”, considera Jeremias, um motorista de caminhão de 26 anos, que queria ver Marion, que tem “a política no sangue”, seguir o caminho de seu “avô: ele é um pouco extremista, mas diz a verdade”.
“Eu lamento a sua decisão (…) Esperava que assumisse a liderança do partido para infundir um pouco mais de inteligência”, declarou um partidário da FN na página do Facebook da jovem deputada.