O ex-senador Gim Argello recebeu R$ 1,5 milhão da Odebrecht após argumentar que tinha interesse em disputar o cargo de governador do Distrito Federal em 2014, afirmou em delação premiada o ex-diretor de Relações Institucionais da empresa Claudio Melo Filho. Os repasses ocorreram entre julho e agosto de 2010, disse o ex-executivo. Argello acabou não concorrendo em 2014. Informações do G1.
Procurado, o advogado de Argello, Marcelo Bessa, disse que ele “jamais solicitou ou recebeu os valores indicados pelos delatores”. “As afirmações, que são feitas sem qualquer prova independente a lhes dar suporte, são mentirosas”, declarou Bessa.
De acordo com o relato de Melo Filho, a conversa com Gim Argello (apelidado de “Campari” nas planilhas da Odebrecht) ocorreu em um hotel da capital federal. O delator declarou que o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, concordou com os repasses ao parlamentar – então senador pelo PTB – porque “em algum momento poderia ter investimentos aqui no DF”.
“Nessa oportunidade, o senador Gim Argello, que é uma pessoa muito eloquente na hora de falar, disse que era presidente do partido dele aqui em Brasília, e disse ao Marcelo [Odebrecht] que, em função de ser presidente do partido e em função também de ter uma expectativa de na próxima eleição, portanto 2014, ser candidato ao governo do DF, então ele solicitou, ele perguntou se existia possibilidade de a Odebrecht fazer contribuições de campanha, a título de campanha, na eleição que viria, de 2010.”
O senador teria pedido mais dinheiro em uma segunda oportunidade, em 2014. “O senador neste momento seria candidato à reeleição no Senado, por qualquer que seja a composição não ocorreu o que ele disse que ocorreria em 2010, que ele tentaria o governo. Ele foi candidato a reeleição no Senado e pediu a Marcelo [Odebrecht] se podia fazer contribuição a título de campanha à pessoa dele”, detalhou Claudio Melo Filho.
No depoimento, Claudio Melo Filho também declarou que Gim Argello apresentou pelo menos uma emenda favorável à Odebrecht no Senado. “Teve uma medida provisória que a equipe nossa tratou e eu falei com o senador, só pra pegar o número da emenda aqui, foi a emenda 92, e a MP 599”, disse.
“Como a gente sempre faz pelo caminho legislativo, as empresas que se interessam por algum tema preparam notas explicativas, notas técnicas que justifiquem a discussão que pode ser inserida por aquele tema específico”, continuou o delator. Ele reconhece que o ex-senador fez o gesto considerando todas as contribuições que recebeu da empreiteira.
Como não envolve políticos com foro, a petição do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determina o encaminhamento das informações à Seção Judiciária do Paraná e à Procuradoria da República no estado, onde tramitam as ações da operação na primeira instância.
Já condenado
Gim Argello, que foi senador pelo entre 2007 e 2014, já foi condenado a 19 anos de prisão na Lava Jato, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação. Na mesma ação, o ex-senador foi absolvido do crime de organização criminosa. Argello está preso no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, desde abril de 2016.