Marta Santos, do R7
O Brexit foi aprovado com uma margem de voto muito pequena, 51,9% dos britânicos foi favorável a ele em um plebiscito realizado no dia 23 de junho. E uma das questões que mais preocupam os britânicos é a economia, explica Demétrius Pereira, professor de Política Europeia das Faculdades Integradas Rio Branco.
— O maior impacto do Brexit, daqui para frente, será mais para o próprio país, principalmente, em termos econômicos. Hoje, o Reino Unido faz parte do Mercado Comum Europeu, que prevê a livre circulação de produtos entre seus integrantes. A saída deste espaço comercial poderia levar empresas multinacionais a deixar o Reino Unido, por exemplo. Os britânicos ainda terão a chance de continuar mesmo após o Brexit, no entanto, isso dependerá de negociações com a própria UE.
Logo após o plebiscito do Brexit, a libra esterlina (moeda usada em todo o Reino Unido) sofreu uma grande desvalorização e permanece, até hoje, em um patamar abaixo do que havia ficado nos últimos anos. Por outro lado, a economia britânica cresceu 1,8% em 2016 e o atual índice de desemprego é de 4,8%, o menor em 11 anos.
Os britânicos que se mostravam mais a favor da saída da UE levantavam, principalmente, a bandeira de que o país precisava de um maior controle nas fronteiras, tanto para limitar a imigração quanto a chegada de refugiados.
— Isso acaba transbordando também na ideia de que a UE é a culpada pela livre circulação de pessoas. Eles não sentem tanto o impacto quanto os italianos e os gregos, mas eles acabam pensando no problema de forma preventiva.
O Brexit, afirma Pereira, abriu o debate em relação a isso e a “UE tende a ser o bode expiatório de tudo isso”.
Tanto o Brexit quanto a ascensão da extrema-direta na Europa marcam um enfraquecimento do bloco da UE, que não consegue dar uma resposta efetiva à crise dos refugiados e à econômica, afirma a professora Denilde Holzhacker, do curso de relações internacionais da ESPM.
— A Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, com o Brexit, as forças de direita ganharam mais força interna. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai mais esses imigrantes.
No entanto, a crise europeia não é novidade e já vem se desenrolando há quase uma década, lembra a professora.
— O enfraquecimento da UE vem vindo desde 2008, e só vai mudando de cara. Começou com a crise do euro, passou pela situação super precária da Grécia e, agora, tem a crise dos refugiados impulsionando essa extrema direita. A UE como bloco, não consegue dar resposta para isso, ela ainda fica um pouco em uma discussão filosófica. No momento, eles parecem querer resolver, reafirmando esses princípios europeus, mas, para sobreviver, a UE tem que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração.
Este mês, a UE já passou por um grande teste durante as eleições holandesas, quando o Partido Popular Liberal e Democrata do primeiro-ministro Mark Rutte ganhou as eleições parlamentares, afastando a possibilidade de saída do país.
Outros dois desafios poderão definir a continuidade da UE este ano: as eleições na França e Alemanha.
— A grande equação para a UE em 2017 é saber se a [chanceler alemã] Angela Merkel vai ou não continuar no poder e qual será o resultado da eleição francesa. Teremos que ver como a direita vai conseguir lidar com a sua suposta ascensão e conseguir manter isso, principalmente, a direita radical francesa da Marine Le Pen. Na França, a direita vai ganhar de uma forma ou de outra, realmente vai vir um governo mais conservador. Só resta saber o quanto à direita. Agora, a Alemanha é a grande incógnita. Se a gente for ver os números atuais, eles são contraditórios, porque a Merkel tem perdido eleições regionais e locais, mas, ao mesmo tempo, ela ainda tem uma razoável popularidade porque as pessoas acabam rejeitando muito essa extrema-direita.