Após quatro dias de uma onda de violência no Espírito Santo, um grupo de manifestantes contrários à paralisação dos policias militares no Estado bloqueou uma das avenidas de Vitória para pedir a volta dos PMs às ruas. A manifestação ocorreu em frente ao principal quartel da PM, onde mulheres e familiares de policiais impedem a saída de viaturas como forma de forçar a paralisação desde sexta-feira. Informações do El País.
Entoando gritos como “Queremos segurança!”, os manifestantes contrários à greve de fato da PM chegaram a colocar fogo em alguns pneus e também bloquearam o trânsito na avenida Maruípe. Outras cidades como Guarapari e Cachoeiro de Itapemirim, também registraram manifestações de moradores pedindo a volta dos policiais às ruas, segundo o site G1.
“O que queremos é a cidade volte a estar segura. Isso é um caos. Estão entrando nas casas, as lojas estão fechadas com medo de assaltos. Eu mesmo não estou podendo trabalhar”, reclamava a padeira Simone Vidal, de 45 anos. Victoria, estudante de Ciências Sociais, também participava do protesto já que não acha que a estratégia utilizada pelos familiares dos policiais militares seja correta. “Eu acho que as reivindicações são muito justas, mas a forma para conseguir um salário melhor não é colocando toda a população em risco. Eu moro na favela, estou acostumada com a violência, mas agora está exagerado”, disse.
Do outro lado da rua, uma das familiares de um PM, que preferiu não se identificar, lamentava o conflito. Segundo ela, na verdade, os dois lados deveriam se unir e pedir uma ação urgente do Governo estadual. “A cidade está um caos e o governador parece que não quer dialogar. Em uma ata de negociação que ele propôs, o secretário Secretário de Segurança [André Garcia] sugeriu uma reunião para a sexta-feira. Essa reunião deveria ser marcada para ontem”, disse. Um militar aposentado que acompanhava o confronto também criticou o Governo e ressaltou que a situação na segurança pública do Estado era uma tragédia anunciada há anos. “O Governo começou a cortar promoções, parou de reajustar o salário e simplesmente parou de dialogar. O que eles queriam?” Além de militares aposentados, policiais à paisana estavam presentes no ato.
Na tarde de terça-feira, um grupo de mulheres dos policiais militares se reuniram com o presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) e deputados durante algumas horas para buscar um acordo, mas não recuaram e afirmaram que continuariam a manifestação.
Mais um dia sem circulação de ônibus
Desde sexta, mulheres de parentes policiais fazem manifestações em frente aos batalhões da corporação. O movimento reivindica reajuste salarial dos policiais —que não acontece há anos— e o pagamento de auxílio-alimentação, periculosidade, insalubridade e adicional noturno. Segundo a Associação de Cabos e Soldados da PM e Bombeiro Militar do Estado (ACS), o salário base de um policial no Espírito Santo é de 2.600 reais, enquanto a média nacional chega a 4.000 reais. Nenhum policial militar participa do protesto, já que são proibidos pelo Código Penal Militar de fazer greves ou paralisações, mas eles têm respeitado a decisão de não sair às ruas impostas pelas mulheres e manifestantes.
A paralisação acabou, no entanto, desencadeando uma onda de violência no Estado e insegurança na população. Nos últimos quatros dias, o Estado registrou mais de 70 assassinatos e dezenas de arrombamentos. Nesta terça-feira, cerca de 200 integrantes da Força Nacional começam a atuar no patrulhamento da Grande Vitória. Escolas, postos de saúde e parte do comércio estão fechados desde segunda-feira.
Os ônibus voltaram a circular nesta terça-feira, mas houve registro de violência. Por isso, o sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários) voltou a proibir a circulação dos coletivos devido a ataques que ocorreram contra as frotas e rodoviário. “Não terá ônibus nenhum no dia 08/02/2017! Prefiro pagar um preço por minha atitude do que chorar por um rodoviário morto”, disse Edson Basto, presidente do sindicato, em nota à imprensa. Segundo o mesmo comunicado, houve assaltos aos ônibus e um motorista foi agredido quando estava a caminho do trabalho.