O líder da oposição Henrique Capriles começou a caminhar no meio da multidão que participou da “Tomada da Venezuela”, o protesto convocado pela oposição em resposta à suspensão temporária do referendo revogatório do presidente Nicolás Maduro. Ao meio-dia de quarta-feira em Caracas (14h00 em Brasília) a caminhada ocupava a parte leste da estrada Francisco Fajardo, que atravessa todo o estreito vale da capital venezuelana. O dirigente prometeu novidades para o momento alto da concentração, que culminará nas primeiras horas da tarde. “Vamos anunciar o próximo passo contra o golpe”, escreveu no Twitter.
Em Altamira, bastião por excelência da oposição, as pessoas encheram os dois lados da via expressa e também o elevado que comunica com a avenida Luis Roche, que culmina no sopé do Cerro Ávila, o ícone desta cidade, informou a jornalista Maolis Castro.
Mais um quilômetro para o leste, desde La Carlota, era possível apreciar a multidão caminhando do oeste, contou o jornalista Ewald Scharfenberg. Os manifestantes parecem ter superado os obstáculos colocados pelo regime para impedir a chegada de seus adversários aos pontos de partida. “A tomada da Venezuela” se tornou um forte ato de rejeição contra o presidente Nicolás Maduro e um argumento contra as calamidades econômicas da nação sul-americana.
Pela manhã a caminhada, cujo desenvolvimento era antecipado como tenso por causa dos fortes ataques de líderes do regime na Assembleia Nacional e o assalto ao Parlamento no último domingo, prometia não ser tão grande como a que ocorreu no dia 1º de setembro, durante a chamada Tomada de Caracas. O fechamento de dez estações do metrô de Caracas, a chamada feita apenas no fim de semana e os atrasos usuais colocados pelo regime impediam que os manifestantes chegassem a tempo até os cinco pontos dispostos pela organização. O que chamou a atenção é que a Guarda Nacional Bolivariana, a polícia militarizada, muito relutante no passado a permitir a passagem pelas vias expressas, tenha permitido o desenvolvimento da caminhada. A cidade ficou completamente paralisada como nos feriados.
O chavismo, enquanto isso, se concentrou nos arredores do Palácio de Miraflores, sede do Governo, para evitar o fatal choque de 11 de abril de 2002, quando o então presidente Hugo Chávez foi deposto por 72 horas. No palácio presidencial, o presidente Nicolás Maduro instalou o Conselho de Defesa da Nação, uma instância consultiva do governo que inclui os máximos representantes dos cinco poderes públicos. Fez um breve discurso que marcou o anúncio de uma sessão permanente da instância.
Foi notória a ausência do opositor Henry Ramos Allup, presidente da Assembleia Nacional, que anunciou horas antes que não participaria da reunião. As câmeras de televisão mostravam a cadeira vazia enquanto o governante venezuelano criticava sua ausência e lamentava “que continuasse em desacato”, referindo-se à decisão da Suprema Corte que invalidou todas as decisões do Parlamento enquanto este mantivesse incorporado três deputados cuja eleição foi impugnada. “Ele tem a obrigação de vir e saber que eu sou um presidente que quer dialogar”. Com isso a oposição se entrincheira em sua decisão de não dialogar com o Governo enquanto este mantiver suspensa a organização do referendo.
Nas principais cidades da Venezuela a oposição também está tomando as ruas vestindo camisas brancas e carregando a bandeira nacional. Nas maiores cidades, como Barquisimeto e Maracay, os informes afirmam que há um grande número de participantes. Em Mérida, capital do estado homônimo do oeste do país, houve um confronto entre manifestantes e policiais. Foi usado gás lacrimogêneo. Informações do El País.