A deputada distrital Liliane Roriz (PTB) foi notificada nesta segunda-feira (29) da abertura do processo de cassação do mandato dela na Câmara Legislativa. Ela estava em casa no momento da notificação. A representação contra ela começou a tramitar em 22 de agosto, pouco depois de divulgar áudios em que denuncia desvios de verba pública que supostamente beneficiaram um grupo de deputados.
Para Liliane Roriz, o caso é uma “injustiça muito grande” com a família dela. “Alegam que esses fatos aconteceram em 1996, muito antes do meu primeiro mandato.”
Na Câmara, o processo do caso de Liliane – que terá dez dias para se defender – será apreciado pela Corregedoria. Caso seja aceito pelo departamento em até 15 dias, o caso vai para a Comissão de Ética e depois para a Comissão de Constituição e Justiça. Depois de todas as análises, o pedido é levado para votação no plenário.
Na representação, a Adote um Distrital pede que o mandato seja cassado mesmo antes de uma decisão final da Justiça. Para o grupo, as decisões anteriores e os documentos do processo são suficientes para colocar sob suspeita a legitimidade do cargo de Liliane.

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“A Câmara não precisa esperar a decisão definitiva do Judiciário para agir. No caso do Raad [Massouh (PPL), distrital cassado em 2013], por exemplo, a posição do Conselho de Ética foi tomada em meio ao julgamento”, afirmou o diretor-executivo do Adote um Distrital, Diogo Ramalho, na época da formalização do pedido.
Condenação
A ação por improbidade contra Liliane Roriz foi movida pelo Ministério Público. São citados no processo o ex-governador do DF e pai de Liliane, Joaquim Roriz, as irmãs Jaqueline e Weslliane e o sobrinho Rodrigo Roriz.
Os envolvidos foram condenados em primeira instância por facilitar dois empréstimos do BRB, no valor total de R$ 6.742.438,84, para empresários da construção civil em troca de 12 apartamentos em Águas Claras.
O julgamento do recurso teve início em julho, mas foi suspenso depois que um dos desembargadores pediu vista do processo. A interrupção aconteceu quando o relator havia decidido acatar o recurso dos membros da família Roriz – por entender que não havia provas suficientes para condenação por improbidade administrativa.

O processo foi retomado no último dia 17, na mesma data em que Liliane renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara do DF por “motivo de foro íntimo”. O julgamento foi novamente interrompido por falta de quórum, quando dois de três desembargadores da 5ª Turma Cível do TJ haviam decidido por manter a pena. O resultado pode ser mudado porque o colegiado tem mais três membros.
Dos cinco desembargadores presentes na sessão, dois estavam impedidos de votar – um deles por ter atuado no primeiro julgamento, em julho do ano passado. A outra magistrada deixou a turma e só estava na sessão para votar processos antigos. A retomada do julgamento não tem data para ocorrer.
Quando o recurso começou a ser julgado, o advogado da família Roriz, Eri Varela, negou as acusações e disse que a condenação em primeira instância foi uma “injustiça”. “O direito é bom. Não há a possibilidade de fazer-se justiça quando não há nenhuma prova, nenhuma, que possa ser útil à verdade.” Os envolvidos disseram que não iriam se pronunciar. Eles sempre negaram irregularidades.
Se a condenação for mantida, todos os cinco perdem os direitos políticos por dez anos. Mesmo cabendo recurso, a Lei da Ficha Limpa tem efeito imediato em caso de condenação por um colegiado (grupo de juízes). Joaquim Roriz e Jaqueline já são considerados “fichas sujas” por outras condenações.
A investigação do caso começou em 2007 com a Operação Aquarela, que apurou fraudes e lavagem de dinheiro envolvendo o BRB. Na época, o então presidente do banco foi flagrado pela Polícia Civil negociando por telefone com Joaquim Roriz a partilha de R$ 2,2 milhões que teriam sido sacados de uma agência do banco. O episódio culminou com a renúncia de Roriz ao mandato de senador e a prisão do gestor do BRB. Informações do G12.