Neste 12 de janeiro, a cidade de Belém – que viveu seu auge na época da borracha -, completa 400 anos. Se estruturalmente, a cidade deixa a desejar, alguns pontos marcantes continuam sendo motivo de comemoração. A cidade esbanja cultura, através da gastronomia, música, danças, artes, mas principalmente orgulha-se da sua marca registrada: possuir um povo acolhedor.
Belém atravessa quatro séculos carregada de muitas histórias, lembranças e imagens e, talvez por isso esteja sendo cada vez mais procurada pelos turistas. Em uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada recentemente pelo Ministério do Turismo mostrou que a cidade está na preferência do público, sendo eleita o terceiro melhor destino para se visitar em 2016.
Centro histórico de Belém rico de histórias e lembranças. (Foto: Cezar Magalhães)
Para a professora de Língua Portuguesa e Mestra em Literatura, Larissa Leal Neves, um dos fatores mais importantes na história recente de Belém está a revalorização da característica ribeirinha. “Desde o final dos anos 90 vivenciamos uma série de intervenções das políticas públicas das diversas esferas para reabrir o acesso da população ao rio, a qual, ainda bem, recebeu muito bem esses projetos. Esse é um acontecimento importante, pois permitiu a criação de vários novos espaços de lazer e cultura, além da revitalização de parte de nossa história”, afirma.
Larissa lembra ainda, a primeira vez que pôde visitar o rio dentro do espaço urbano. “Com certeza aqueles que têm mais de 40 anos poderão falar melhor sobre a diferença que essa reabertura gerou, mas quem está na faixa dos 30 e dos 20 anos também deve ter lembranças, como eu, da primeira vez em que puderam visitar o rio dentro do espaço urbano de Belém”, lembra.
O rio exerce um papel fundamental na vida dos paraenses. (Foto: Cezar Magalhães)
A “Cidade das Mangueiras” tem muito o que oferecer. Seja através da rica culinária que paraenses e turistas carregam no isopor quando se vai para longe; ou a vivência no Círio de Nazaré; a chuva da tarde; o calor abafado, a música dançante que mistura o tecnobrega, a guitarrada e a música popular ou preferir a calmaria de contemplar e assistir ao pôr-do-sol no rio; ou mesmo com seus pontos turísticos ricos em construções históricas, Belém e seus encantos vem dominando diversos cantos do mundo.
Com familiares na capital paraense, a estudante Jade Monteiro conta sempre que passa por Belém tem que levar para casa alguma coisa da cidade na bagagem. “No Rio tem açaí, mas o do Pará é único, tem um gostinho diferente, especial. Sempre que viajo também não deixo de levar cupuaçu, tucupi, jambu e sorvete de tapioca”, conta.
E como não falar de outubro, aquele mês especial que ganha não só a atenção dos paraenses, mas de milhares de devotos de Nossa Senhora de Nazaré. Em cada pé que acompanha a berlinda, carrega junto uma história de fé, gratidão e emoção.
Por sua grandiosidade, o Círio de Belém foi registrado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial. (Foto; Cezar Magalhães)
“A primeira vez que fui até Belém para conhecer o Círio de Nazaré foi a convite de familiares que moram na cidade. É um momento único, que não tem explicação. Só quem vive pode sentir o tamanho da fé daquelas pessoas. É lindo, é encantador e não tem como não deixar de ir. Acompanharei o Círio enquanto tiver saúde e vida”, disse a maranhense Aidê Ferreira.
A mistura de ritmos e a dancinha “diferente” foi o que conquistou o carioca Estevão Melo. “Foi com um primo meu, que mora em Belém, em uma dessas festas de aparelhagem. Achei o máximo. É um estilo único, criativo e um tanto inusitado. Tentei aprender esse “treme”, mas não deu muito certo”, brincou.
Para Larissa Neves, a localização geográfica singular da cidade é o que mais encanta. “Chegar em Belém de avião é sempre um encanto: nenhuma outra cidade surge no meio do rio e da floresta como Belém. Em nenhuma outra cidade o avião parece que vai aterrissar nas águas quando, de repente, surgem os prédios. Ou, quando chegamos de barco, ver a cidade surgir no horizonte das águas é maravilhoso”, ressalta.
Beleza e peculiaridade que encantam. (Foto: Cezar Magalhães)
POVO
Aquele que acolhe e arranja sempre um espaço a mais, seja pelos cômodos da casa ou na rede. Essa característica do povo paraense também chamou a atenção de Larissa, que reside em Goiás há quatro anos.
“Só percebi isso quando sai de Belém. Fala-se isso do brasileiro, de modo geral, de como somos informais, sem cerimônia, mas isso não é bem verdade para todos os lugares. Em Belém, esse despojamento é notado nas ruas, pelo jeito de vestir nas mais diversas ocasiões e, principalmente na linguagem. O nosso “tu” é usado indiscriminadamente, seguido de um “maninho”, de um “amiga”, no tom mais familiar”.
“A mestiçagem explicita em nosso povo é um reflexo das diversas migrações para nossa região, açorianos, africanos de diversas regiões, judeus, libaneses, portugueses, japoneses entre outros se integraram aos indígenas que já habitavam nossa região formando um povo rico em sua cultura, lindo em sua cor e maravilhoso em sua fisionomia cabocla”, define o professor de história da Fundação Bradesco, Diego Maia.
A Estação das Docas, que se tornou referência internacional como complexo turístico e cultural. (Foto: Bruno Carachest / Diário do Pará)
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
A riqueza e o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico podem ser observadas nos quatro cantos da cidade. Que tal visitar o Museu Histórico do Estado, sediado no Palácio Lauro Sodré, e conhecer o variado acervo relacionado à história do Estado? Ou fazer um tour pelo Ver-o-Peso e desfrutar das delícias, cheiros e sabores vistos apenas na maior feira livre da América Latina? E quem sabe conhecer um pouco mais sobre um antigo porto de Belém, a Estação das Docas, que se tornou referência internacional como complexo turístico e cultural?
“Destaco a restauração recente do Mercado Bolonha, o mercado de carnes, principalmente pelo uso que foi dado a esse belíssimo lugar, tornando-o um espaço popular, onde podemos almoçar um bom e realmente típico (e barato!) peixe frito com açaí dentro de uma obra de arte”, diz a mestra em Literatura.
Açaí com peixe frito: um sabor especial que só tem aqui no Pará. (Foto: Diário do Pará / Arquivo)
GASTRONOMIA
E que orgulho, ver a gastronomia paraense se expandido e despertando cada vez mais interesse. Pratos inesquecíveis, sabores inigualáveis, mistura típica e original foram os responsáveis por Belém receber o título de Cidade da Gastronomia concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
(DOL)