Alexandre Bastos e Mateus Rodrigues Do G1 DF
Horas antes, o GDF afirmou ao G1 que a Polícia Militar estava “autorizada a utilizar outros meios” para garantir a desocupação, caso houvesse resistência. Por volta das 19h07, membros da Polícia Legislativa Federal desmontaram barracas e retiraram poucos manifestantes que ofereciam resistência no gramado mais próximo do Congresso.
Após a remoção de todas as estruturas, às 19h15, os membros do protesto continuavam sentados no gramado da Esplanada. Eles cantavam o hino nacional e gritavam palavras de ordem contra o governo e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Por volta das 17h30, cerca de 30 barracas permaneciam montadas no gramado anexo aos prédios da Câmara e do Senado, e outras 30 do lado oposto da Alameda das Bandeiras, a cerca de 100 metros do Congresso, na área de responsabilidade do GDF.
Desde o anúncio do prazo, na noite de quinta-feira (19), a maior parte das barracas já tinha sido desmontada. Os banheiros químicos foram retirados às 17h.
Equipes da Polícia Legislativa, do Corpo de Bombeiros e do Detran acompanharam a movimentação dos manifestantes. Trinta servidores do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) foram acionados para retirar lixo e entulho do local. A Polícia Militar chegou ao local por volta das 17h30.
O porta-voz da PM, capitão Michello Bueno, afirmou que 20% das barracas contabilizadas até esta quinta permaneciam montadas na área do Congresso até o fim do prazo. O número de militares envolvidos na operação não foi divulgado por “razões estratégicas”.
porta-voz da Polícia Militar do DF
“Nós temos 20 aqui embaixo e 30 ali em cima. A gente acredita que eles vão sair até as 19h, estamos negociando e achamos que não teremos que usar a força. É o que nós mais queremos”, disse.
O secretário-adjunto de Relações Institucionais e Sociais, Igor Tokarski, também acompanhava a negociação na Esplanada. “Estamos aqui pra deixar claro que o diálogo existe, é permanente, aberto e responsável. Contamos com o bom senso dos manifestantes que estão aqui”, declarou.
O prazo valeu para os integrantes do Movimento Brasil Livre, que acampam no gramado mais próximo ao Congresso, ao lado do espelho d’água e da rampa presidencial, e para manifestantes que pedem intervenção militar, acampados desde o primeiro semestre a cerca de 100 metros do prédio.

A decisão foi apresentada após reunião entre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
“O governador [Rollemberg] manifestou a todos nós a preocupação com a incapacidade que ele tem de manter a segurança, a ordem pública no jeito que as coisas estão ficando. Nós vamos pedir para os grupos que lá estão para que num prazo de 48 horas possam também se retirar para que a gente possa restabelecer a ordem”, disse Cunha ao anunciar o prazo.

Resistência
No dia seguinte ao ultimato dado pelo GDF e pelo Legislativo, representantes dos acampamentos disseram que permaneceriam no local “a qualquer custo”. Um grupo de manifestantes favoráveis à intervenção militar disse que acionaria a Justiça para derrubar as ordens de governo e que “não tem medo do conflito armado”.
“Fomos atacados injustamente. Se vocês têm dúvidas, se a CUT [Central Única dos Trabalhadores] bravateia que tem armas, e eu não sei se tem, eu te garanto que do lado de cá a gente tem. Aqui são policiais aposentados, militares da reserva, atiradores, colecionadores de arma. Tem, como vocês viram ontem [quarta]”, disse Felipe Porto, porta-voz do grupo “Acampamento Patriota”.

Líder do acampamento, que ocupa o Distrito Federal desde o início do ano, Daniel Barbosa afirmou que o grupo pode recorrer da decisão que obriga a retirada. “Nenhum juiz entregou nada [informando da saída]. Temos advogados e juristas. A gente não veio aqui fazer camping”, afirmou.
Rotina alterada
Durante todo o sábado, as visitas guiadas foram suspensas no Congresso Nacional. O programa de visitação funciona diariamente, incluindo domingos e feriados, entre 9h e 17h30 com saídas a cada 30 minutos. O acesso à área do espelho d’água foi restrito durante todo o dia.
Prédios próximos, como o Palácio do Planalto (que só tem visitação aos domingos) e o Palácio Itamaraty, mantinham a programação normal até as 17h deste sábado. No mesmo horário, não havia registro de confronto entre manifestantes e policiais.

Conflito
A decisão de retirar os acampamentos da Esplanada dos Ministérios foi tomada após um conflito registrado na quarta-feira (18), durante marcha de mulheres negras contra o racismo. Dois policiais civis foram detidos após dispararem tiros para o alto – pelo menos um dos agentes estava acampado no local.
Durante o tumulto, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi atingido com gás de pimenta, caiu no chão e precisou de socorro médico. De acordo com a PM, um dos policiais alegou ter se sentido ameaçado pelos integrantes da marcha. Houve corre-corre e um princípio de confusão entre participantes da manifestação antirracismo e o grupo acampado em frente ao Congresso.