Isabella Calzolari Do G1
O presidente licenciado do PPL no Distrito Federal e ex-diretor do DFTrans, Marco Antônio Campanella, afirmou nesta quinta-feira (8), após depoimento na CPI do Transporte da Câmara Legislativa, ter identificado inconsistências no Índice de Passageiro por Quilômetro Rodado (IPK), que calcula a tarifa técnica dos ônibus, na programação do edital de licitação do transporte público de 2012.
“Trabalhou-se com uma base de dados que nós não conseguimos identificar exatamente de onde foi tirada. Identificamos alguns problemas, por exemplo, na questão operacional de algumas bacias, número de passageiros, quilometragem. Nós identficamos inconsistências nas origens e destinos. Fizemos uma série de sugestões de ajustes que eram possíveis mantendo a mesma frota, identificando quais eram as integrações possíveis e necessárias.”
Durante o depoimento, houve uma acareação entre Campanella e o ex-chefe da assessoria jurídica do DFTrans Samuel Barbosa, que apresentou um parecer em novembro de 2012 declarando que o empresário Victor Foresti era administrador comum de três empresas – Pioneira, Cidade Brasília e Planeta – concorrentes no certame. A assessoria de Foresti disse que ele não vai se pronunciar.
Antes, os parlamentares realizaram uma acareação entre Campanella e o atual assessor especial da Secretaria de Mobilidade, Ricardo Leite de Assis, que ocupava na época o cargo de diretor operacional do DFTrans.

(Foto: Reprodução)
Campanella disse que o parecer foi colocado no processo e encaminhado para a Secretaria de Transportes. Segundo ele, dias depois, o então vice-governador Tadeu Filippelli o chamou junto com Barbosa para uma reunião contestando a iniciativa. A assessoria de Filippelli afirmou que ele não vai se pronunciar sobre o assunto.
“Eu me lembro nesse aspecto específico do parecer que houve uma manifestação de preocupação do vice-governador de que pareceres jurídicos do DFTrans poderiam se chocar com manifestações da procuradoria, que era o órgão responsável”, disse Campanella.
O assessor jurídico declarou, no entanto, que já tinha feito um parecer semelhante sobre o grupo do empresário Wagner Canhedo por “demanda direta do secretário de Transportes” e que não havia tido problema nenhum.
“Nessa reunião foi o que relatei. Ele [o vice-governador] disse que escapava da minha competência proferir parecer sobre licitação. Estávamos ambos diante de um superior hierárquico. Eu fiquei calado e o Campanella também.”
Campanella afirmou que o DFTrans não participou da formulação do edital de licitação e que o único papel do órgão era fornecer informações técnicas para a Secretaria de Transportes e para a comissão de licitação.
“Obviamente que eu gostaria de ter tido uma participação mais efetiva na elaboração do processo do edital, mas isso não aconteceu por questão de governo. Continuei atuando no sentido de dar a contribuição que o DFTrans podia dar.”
O ex-diretor do DFTrans teve o sigilo telefônico quebrado pela CPI na semana passada. Durante o depoimento, ele colocou à disposição dos parlamentares também o sigilo fiscal e bancário. Campanella entregou ainda um documento e um pen drive com análise do processo licitatório e sugestões para o atual sistema de transporte da capital federal.

(Foto: Isabella Calzolari/G1)
Operação Trick
Campanella comandou o DFTrans durante a gestão do ex-governador Agnelo Queiroz e responde a ações na Justiça do DF por improbidade administrativa durante o tempo que ficou à frente do órgão. A licitação que renovou os contratos de ônibus na capital foi realizada durante a gestão de Campanella.
Ele também é investigado pela Polícia Civil por suposto envolvimento em fraudes bancárias para financiamento de campanha. Em abril, quando a operação Trick foi deflagrada, o então presidente do PPL disse que seu nome estava “sendo arrastado de uma forma injusta para um lamaçal”. Campanella se licenciou do comando do PPL após a divulgação das investigações.
Após depor, ele disse se sentir perseguido politicamente. “Espero a conclusão mais rápida possível”, declarou. “Eu quero ser julgado e pagar pelo que fiz. Tenho a consciência absolutamente tranquila. Quero ser julgado rapidamente, não quero ficar com essas questões nas minhas costas, na minha consciência, até porque não tenho responsabilidade nenhuma naquela questão da Operação Trick. Não conhecia aquele fato e só conheci naquela ação de busca e apreensão.”
Mal-estar
Antes de o assessor jurídico se retirar da mesa, o deputado Rafael Prudente (PMDB) perguntou se ele já tinha se encontrado com algum parlamentar da CPI fora da Casa, o que gerou um mal-estar entre os distritais.
Barbosa, que é do gabinete da deputada Telma Rufino (sem partido), disse que havia cumprimentado o relator da CPI, Raimundo Ribeiro (PSDB), durante uma visita dele a deputada.
Ribeiro retrucou o questionamento de Prudente. “Aqui não existe banco de réu, mas é bom que quem está em julgamento aqui não é o deputado, porque se for começar com essa historia de deputados vai ficar ruim. O foco dessa CPI é saber se houve bandalheira e cada vez mais se consolida o pensamento de que houve e aí cabem aos órgãos apurar a intensidade do fato”, declarou.