Morre em Belém o jornalista Walmir Botelho, um mestre

O jornalista Walmir Botelho D’Oliveira faleceu ontem (4) à noite, aos 67 anos. Ele foi editor-redator chefe do jornal O LIBERAL por mais de vinte anos e estava no cargo de diretor corporativo de jornalismo antes de se afastar do trabalho, por motivo de saúde, há aproximadamente três anos. Walmir sofria de neuropatia diabética e tinha histórico de infarto. O velório aconteceu na manhã deste domingo, no Recanto da Saudade. 

Botelho foi o principal responsável pela linha editorial de sucesso do jornal, como o uso da linguagem “popular urbana”, como ele denominava, exigindo da equipe de jornalistas um texto simples e direto para a melhor compreensão do leitor. Ele foi responsável também pela série de inovações gráficas implantadas em O LIBERAL, como a impressão colorida, então inédita no Estado do Pará.

O jornalista passou mal ontem à tarde e foi levado de ambulância até o Hospital da Unimed, localizado na avenida Doca de Souza Franco, em Belém, onde não respondeu aos cuidados médicos e faleceu por volta das 19 horas. Os familiares confirmaram que Botelho sofria de complicações do diabetes.

Walmir Botelho D’Oliveira era um amante da literatura e profundo conhecedor da parte gráfica do jornal. Ele foi redator-chefe do jornal O Estado do Pará, na década de 1970, e também do jornal Folha do Norte. Ele também trabalhou no Correio Braziliense e Última Hora de Brasília.

O MESTRE DO JORNALISMO SE FOI. FICAM AS (BOAS) LIÇÕES

(*) Carlos Mendes

Walmir Botelho se foi. Partiu na solidão em que sempre viveu. Fechado, tímido, quase envergonhado. Nada disso, porém, apaga o brilho do mestre que sempre foi no comando das redações de jornal pelas quais passei. “O Estado do Pará”, no final dos anos 70, “Folha do Norte” (fase Maiorana), entre 1990 e 1992, e “O Liberal”. Sob o comando de Walmir, fui repórter especial, chefiei a reportagem de “O Estado do Pará”, a reportagem, depois a redação da “Folha” e por mais de 4 anos, também, a reportagem de “O Liberal”.
Com Walmir, independentemente das farras que fazíamos juntos pelos bares de Belém, no final do expediente nessas redações, varando madrugadas, amizade e trabalho eram coisas distintas, jamais se misturavam. Confiava em poucos nas tarefas que distribuía e era implacável nas cobranças. Quem não se adaptasse estava fora.
Como poucos, no Brasil, ele sabia implantar uma reforma gráfica e fazer um jornal ficar visualmente mais bonito, fácil de ler. Os diagramadores e artistas gráficos penavam em suas mãos. E gostavam de levar os “cascudos” que WB lhes aplicava, no único momento em que abria o sorriso generoso nas redações. Sua exigência, nas mudanças gráficas, se estendia ao conteúdo das reportagens.
Aí, sobrava também para repórteres, redatores e editores. “Mexe nisso”, dizia secamente quando não gostava do resultado produzido. Era econômico nas palavras, mas contundente na cobrança final dos resultados. Com o jornal impresso, circulando nas ruas, de mão em mão, a vaidade aflorava entre os subordinados, mas WB parecia sempre insatisfeito. Ele era o único, e sempre foi, que não comentava o próprio trabalho. Não sei se pela vaidade extremada de se sentir acima da própria cobrança, ou para não dar munição aos subordinados, suas vítimas preferenciais.
Sempre me considerei um especialista na leitura das reações do WB. Se ele ficava calado sobre uma reportagem exclusiva que eu ou qualquer outro colega havia escrito e provocado a manchete do jornal, podia ficar certo que havia aprovado. Não dava pinta. Vibrava por dentro. Uma espécie intraduzível de senha para um bom trabalho.
Sabendo que Walmir era assim, fechado para as boas avaliações do trabalho dos colegas, mas aberto, às vezes até cruel, para criticar os malfeitos, eu costumava provocá-lo: “Essa manchete de hoje que destes tá uma merda”. Calado estava, calado ficava, cabeça baixa, em sua mesa de trabalho, rabiscando coisas ininteligíveis em algum pedaço de papel – um velho hábito que cultivava. Quando minhas provocações atingiam o limite de sua paciência, ele desabafava, generoso: “Mendes, canalha”. Era uma alusão a um senador, se não me engano de Mato Grosso, o Mendes Canale, que ele adaptava às circunstâncias do momento. Nós ríamos, juntos.
Este era Walmir Botelho D’Oliveira, o chefe, o amigo, o cobrador implacável de tarefas. O maior e melhor redator-chefe que tive em mais de 40 anos de jornalismo. Se quisesse, poderia escrever um artigo de página inteira sobre ele, mas ainda assim não conseguiria traduzir sua real importância para o jornalismo paraense. Ele deu vida nova aos jornais pelos quais passou, com sua incrível criatividade gráfica. “O Liberal” deve muito ao Walmir, e os Maiorana sabem disso.
Sei que ele andava doente e recentemente estive casa dele, na José Bonifácio, onde gravei um depoimento inédito para meu livro, que estou na fase final de produção, sobre as aparições de luzes misterioras na região nordeste do Pará. Vivi esse fato como repórter de “O Estado do Pará”, pautado pelo Walmir, juntamente com o Biamir Siqueira e o fotógrafo José Ribamar dos Prazeres, que já estão em outro plano. WB me deu um depoimento inédito, cheio de fatos nunca revelados a ninguém. Walmir agora descansa em paz. Ou melhor, já atuando em novos projetos gráficos e jornalísticos em páginas celestiais. Vida nova, amigo.

Carlos Mendes é jornalista.

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