O vazamento de áudios de uma reunião ocorrida no dia 14 de maio último em que deputados distritais cobram cargos do governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), será alvo de uma investigação da Polícia Civil do DF, acostumada com este tipo de prática em vários outros governos. O Ministério Público e a Policia Federal também serão acionados pela Câmara Legislativa para esclarecer o assunto.
Em nota divulgada hoje (24/6), o GDF condena “veementemente o vazamento”. O governo informou que teve acesso aos áudios por meio da imprensa e que eles foram editados e tirados de contexto. O GDF disse que a reunião foi “pautada por um debate de medidas” que visavam “dar governabilidade” à atual gestão.
O deputado Dr, Michel divulgou nota em que chama de “ lamentável que o Chefe do Executivo do DF esteja vulnerável a ponto de ter suas conversas políticas grampeadas no Palácio do Buriti”. O parlamentar diz que “no que me diz respeito, estou tranquilo e nada tenho a esconder”.
Em outro trecho da nota, Dr. Michel diz que “como disse ao governador, na presença de diversas pessoas, na conversa gravada às escondidas e divulgada hoje, é que estou de coração aberto para ajudar e o que eu tenho feito durante todo o meu mandato é lutar e trabalhar para que o povo do Distrito Federal tenha condições de vida digna”.
O parlamentar lembra que “esse tipo de manobra baixa não contribui em nada para resolver os problemas que estamos enfrentando no DF, apenas expõem mais ainda o governo Rollemberg”. Ao final Dr. Michel desafia “qualquer pessoa a demonstrar que eu tenha tido comportamento afastado da relação republicana que sempre mantive com o Executivo”.
A Polícia Civil informou ao G1 que ainda não foi comunicada oficialmente, mas, quando for, tomará “todas as providências” referentes ao caso. A presidente da Câmara Legislativa do DF, Celina Leão (PDT), diz que 11 distritais – ela inclusive – e pelo menos dois secretários estavam com Rollemberg na reunião grampeada.
“Nós já pedimos abertura de investigação ao Ministério Público, à Polícia Civil e à Polícia Federal, para acompanhar. Se você parar pra pensar, é um caso muito grave, dentro de um gabinete, da sala do governador”, declarou Celina em entrevista à TV Globo. Ela diz ter reconhecido a própria voz em uma das gravações.
O secretário de Relações Institucionais do DF, Marcos Dantas, afirmou ao G1 que o grampo é “lamentável”. “Não é nossa prática ficar ‘arapongando’, gravando as pessoas. Eu estava nessa reunião na sala do governador. O que foi colocado foi um pedido para indicar deputados para o Executivo, o que não vejo nenhum problema”, disse Dantas.
Gravações
No trecho atribuído a Celina Leão, a parlamentar fala sobre a ausência de parlamentares no primeiro escalão do Executivo. O nome e a voz do interlocutor não aparecem no áudio, mas Celina se refere a ele pelo termo “senhor”.
“A classe política, querendo ou não, precisa estar presente no governo do senhor. O senhor não tem um secretário deputado. Um secretário deputado. ‘Tô’ falando que pode ser deputado federal, pode ser deputado local. Querendo ou não, a classe política ‘tá’ fora do governo”, afirma Celina no áudio.
“Eu falei uma coisa para o senhor e volto a repetir: o senhor é bom demais. Coração bom demais. ‘Não, vai lá, eu vou deixar você fazer o trabalho político do jeito que você quiser, eu te dou liberdade.’ […] Se a gente não tiver uma pauta com o senhor, a Câmara vai arrumar a pauta dela”, continua a gravação.
No mesmo trecho, Celina fala que as negociações se dariam “dentro de uma filosofia de correção, sem fatiar”. “Sem rebaixar a classe política dessa forma, colocando uma participação de ideias, eu acho que o senhor vai conseguir um ambiente harmônico com todos nós”.
‘Dividir o bolo’
O segundo áudio, supostamente da mesma reunião, é atribuído ao deputado Juarezão (PRTB), estreante na Câmara Legislativa. A voz gravada fala que “o bolo tinha que ser dividido por igual” entre os distritais.
Questionado pela TV Globo, o parlamentar não confirmou a autoria das declarações. “Não me lembro. Tenho que ver o áudio para saber se fui eu”, disse. A voz captada na gravação fala sobre melhorias em Brazlândia, reduto eleitoral do político.
“O comandante da PM em Brazlândia riu da minha cara antes de ontem, no telefone: ‘Duvido se vai acontecer’. Quando eu falei com Marcão [Dantas], ele me ligou e falou: ‘Juarezão, vai vir 20 PM pra Brazlândia'”, diz o áudio.
“Eu quero sim, queria que o senhor dividisse o bolo com os deputados por igual. Porque dizem que tem deputado que deixa secretaria e tem mais não sei o quê. Então, eu só queria isso e acho que todos vão concordar, porque o bolo tem que ser dividido por igual”.
O pedido continua. “Se o senhor deu um pra mim, tá, dê um pra ele, um pra ele, um pra ele. O Marcão controla esse trem bem controlado. Por isso que eu acho que a base tá meia complicada [sic]. […] Na minha cidade, tudo que eu preciso eu ligo, falo com o Marcão, falo com o senhor, mas na questão da Câmara, divide o bolo por igual.”
“Se uns pegou muito [sic], nós vamos chamar aqui, agora, todo mundo e vamos sentar. Quem deu a ideia foi o Juarezão. Eu acho que é desse jeito que funciona. E outra coisa: quem pegou muito, meus companheiros, vai ter que voltar e entregar alguns cargos para alguém”, afirma a voz captada na gravação.
Leia a íntegra da nota divulgada pelo governo do DF
“O Governo de Brasília condena veementemente o vazamento dos áudios gravados durante reunião entre o governador Rodrigo Rollemberg, secretários e parlamentares, no dia 14 de maio. As medidas cabíveis estão sendo tomadas e a Polícia Civil já investiga o caso. O governo teve acesso ao material por meio da imprensa e ressalta que os áudios divulgados foram editados e por isso estão fora de contexto. A reunião do dia 14 foi pautada por um debate de medidas que visam dar governabilidade.” Informações do G1.