Correio Braziliense
As negociações até agora não avançaram muito. Desde que a greve começou, não houve reunião oficial entre trabalhadores e patrões. Até mesmo a assembleia dos rodoviários, marcada para segunda-feira à tarde, foi suspensa. O impasse se dá em razão das diferenças de índices de reajustes pedidos e oferecidos (veja quadro). Enquanto a categoria quer aumento de 20% nos salários, 30% para tíquete-alimentação e plano de saúde complementar, os patrões oferecem reajuste de 8,34% para os salários, conforme previsto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Os rodoviários pedem a participação do governo nas negociações como forma de fortalecer a discussão. “O sindicato quer a participação do GDF, acompanhando as negociações”, afirmou o diretor do Sindicato dos Rodoviários José Carlos da Fonseca. Para Paulo César Marques, doutor em estudos dos transportes e professor do curso de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB), o envolvimento direto do governo com o impasse pressupõe a participação solidária do poder concedente. “Por ser um serviço público, e não uma mera contratação de serviço, o transporte público precisa ser monitorado. O governo assume a responsabilidade solidária”, afirma.
O GDF, por sua vez, explica que a posição de neutralidade ocorre pelo fato de motoristas e cobradores não integrarem os quadros do governo. Dessa forma, somente se houver a necessidade de concessão de reajuste superior ao INPC, o Poder Público entra na discussão. No entanto, até o momento, essa possibilidade é descartada pela Secretaria de Mobilidade do DF por razões de custo. O aumento dos salários em 8,34% gera, para os cofres públicos, um aumento de custo de R$ 2 milhões por mês. Ao todo, o governo já repassa R$ 40 milhões às concessionárias. Enquanto permanece o impasse, o brasiliense sofre as consequências.
Monitoramento
Apesar da decisão judicial do TRT obrigar circulação de 50% da frota de coletivos, em horários de entrepico, e de 70%, em horários de pico, a ordem vem sendo descumprida. Fiscais da Secretaria de Mobilidade (Semob) percorreram garagens das cinco empresas e verificaram que nenhum coletivo saiu às ruas. Além disso, as equipes comprovaram que os ônibus especiais, que buscam motoristas e cobradores em casa para levá-los às garagens, ficaram disponíveis. “Os veículos especiais dos operadores foram disponibilizados. Alguns não saíram por falta de motoristas, e os que saíram retornaram praticamento vazios”, destaca o subsecretário de Fiscalização, Auditoria e Controle da Semob, Fernando Pires. Segundo ele, desde ontem, os fiscais têm estendido a fiscalização também à questão dos veículos especiais. “As placas dos veículos foram anotadas. Não tinha piquete na porta da garagens, constatamos a ausência dos trabalhadores”, afirmou. A reportagem procurou o Sindicato dos Rodoviários para comentar a questão, mas não conseguiu contato com nenhum representante.