Luciana Amaral Do G1

Amigos e familiares do jovem Lucas da Luz Alves, que foi morto durante um ato contra a alta do preço da gasolina, em um posto de combustíveis de Planaltina, no Distrito Federal, fizeram uma “marcha por justiça”, em protesto contra a libertação do suspeito, ocorrida nesta sexta (13). O grupo protestou contra a libertação do frentista Wemerson dos Santos Feitosa, que atirou duas vezes contra a vítima, ocorrida na última sexta (13).
Os participantes usavam camisetas brancas com uma foto da vítima e a frase “no céu você está com anjos à sua volta”.
Antes da marcha, o grupo fez uma roda de oração no ponto de partida da marcha. Cerca de 100 pessoas participaram do ato.

“A gente está revoltado. Ele [frentista] está aí solto e meu filho não volta mais. Ele não se arrependeu e deixou isso bem claro”, afirma a mãe de Lucas, Marta Luzia da Luz. Ela diz que na noite do crime achava que o filho tinha sofrido um acidente. “Falaram que ele tinha se machucado. Na minha cabeça, era uma coisa simples. Nunca se passou que ele poderia ter levado um tiro do frentista. Pensei que ele estava já sendo socorrido no hospital.”

O pai do menino afirma que costumava abastecer no posto em que aconteceu o crime, mas que não se lembra do frentista. Ele diz que a família não foi procurada pelo dono ou gerente do estabelecimento.
“Abastecia direto, conhecia todo mundo, porém não lembro dele. Espero também nunca ver na minha frente. Ninguém ligou, falou nada. Estamos desamparados, tanto por eles quanto pela Justiça.”
Namorada de Lucas Alves há um ano, Eduarda Alcântara estava no protesto de quarta-feira. “Nem vi direito. Estava passando muito mal e depois nem consegui ver mais nada.”

Soltura
O frentista que atirou duas vezes no garoto foi solto menos de 48 horas após o crime. Ele estava detido no Centro de Detenção Provisória por decisão da juíza substituta Junia de Souza Antunes, da 11ª Vara de Justiça do DF.
O alvará de soltura foi emitido às 16h29 desta sexta-feira. O crime aconteceu às 19h59 de quarta (11). Na decisão publicada na página do TJ não há informação sobre o que motivou a juíza a conceder a liberdade provisória ao frentista. O G1 não conseguiu contato com o suspeito nem com a Defensoria Pública, que representou o frentista.
Ele foi preso em flagrante na noite do próprio crime. O garoto morreu no local, atingido por dois tiros – um deles disparado quando ele já estava caído no chão.
O frentista foi indiciado por homicídio qualificado (motivo fútil), com pena de 12 a 30 anos de prisão e porte ilegal de arma de fogo, cuja pena varia de três anos a seis anos. O revólver que foi apreendido tem a numeração raspada.
Amigo de Lucas, Gilberto da Silva estava do lado dele no momento do crime. Ele disse que todos estão “muito decepcionados” com o alvará de soltura concedido pela Justiça, principalmente os pais do garoto. Segundo o amigo, o frentista não tem estabilidade psicológica para estar livre.
“Estamos arrasados. Isso é muito decepcionante, mas nós não vamos deixar assim, não. Vamos protestar pelo Lucas e por justiça. Todo mundo viu o vídeo, todo mundo viu que foi ele. Uma pessoa dessas não tem condições de estar livre na rua.”
Crime
O jovem integrava um grupo que, após mobilização pacífica em rede social, pedia a motoristas para abastecer R$ 0,50, pagar no cartão de crédito e pedir a nota fiscal. Em Brasília, o litro do combustível passou de R$ 3,19 para R$ 3,39 na maioria dos estabelecimentos na última semana.
Cerca de 50 pessoas haviam parado os carros no posto durante o ato. Segundo testemunhas, o frentista se irritou com o protesto e, no terceiro automóvel, em vez de R$ 0,50, colocou R$ 50 de gasolina. Além disso, o homem teria se negado a abastecer os outros carros.
O grupo começou então a juntar o dinheiro para pagar os R$ 50. A discussão continuou e o frentista sacou o revólver 38 que levava na mochila e disparando contra o garoto.

Policiais que passavam em patrulhamento ouviram os disparos e prenderam o homem em flagrante. Com 26 anos, ele não tinha passagem pela polícia e disse que andava com a arma por se sentir inseguro para trabalhar à noite.
À polícia, o frentista disse que se sentiu coagido pelos manifestantes e afirmou não se arrepender do crime, afirmou o delegado Julio Cesar de Oliveira. Diante de jornalistas, no entanto, o suspeito se manteve calado.
A direção do posto informou que não vai se pronunciar sobre o caso. Funcionários que não quiseram se identificar afirmaram ao G1 que o frentista ainda estava em período de experiência.
“A família está estraçalhada. O pai, a mãe, os três irmãos. Era um jovem alegre, muito ligado à família e cheio de sonhos”, afirmou o tio-avô de Lucas, Cosmo Roberto, durante o enterro do jovem.