Laudo particular atesta silicone nos glúteos de cliente de falsa biomédica

Sílvio TúlioDo G1

Uma mulher de 37 anos que fez aplicações para aumentar o bumbum com a falsa biomédica Raquel Policena Rosa, de 27 anos, recebeu uma aplicação de silicone nos glúteos, segundo um laudo requerido por ela a uma clínica particular. A paciente, que não quis se identificar, foi submetida a uma ressonância magnética em uma clínica de Goiânia. À polícia, Raquel afirmou que aplicava hidrogel em suas clientes, inclusive na ajudante de leilão Maria José Medrado, de 39 anos, que morreu um dia após a aplicação.

No laudo, consta que a paciente tem, na região dos glúteos, “edema e processo inflamatório compatíveis com granulomas de silicone injetado”. O documento, porém, não especifica se o produto é industrial, como suspeitou a polícia durante as investigações.

“Vou levar o laudo para o meu médico analisar. Estou em tratamento até hoje, tentando me recuperar. Não consigo nem trabalhar. O que estava no meu bumbum se tornou uma bola endurecida”, afirmou a mulher ao G1. Ela fez as aplicações nos dias 12 e 24 de outubro e alegou que sua vida e seu casamento acabaram após o procedimento.

Ela afirma que, após a consulta, irá até o 17º Distrito Policial, onde o caso é investigado, para apresentar o laudo. A delegada Myrian Vidal, que responde pelo inquérito, disse que foi avisada sobre o exame, mas vai esperar o relatório médico para poder se posicionar.

“Eu pedi uma cópia do laudo médico porque preciso saber claramente qual silicone é esse. Se for constatado que realmente é silicone industrial, nós vamos anexá-lo ao inquérito como prova contra a Raquel”, explicou ao G1.

Myrian disse que, além desta paciente, outras duas mulheres que fizeram o procedimento com Raquel procuraram atendimento médico com o intuito de retirar o produto aplicado, mas teriam sido alertadas do risco de complicações e desistiram. A polícia ainda aguarda o laudo cadavérico da morte de Maria José para saber qual produto foi aplicado nela.

Raquel Policena chegou na noite de quinta-feira (13) ao 14º DP de Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Raquel ficou presa por dez dias, mas foi solta
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Prisão
A falsa biomédica foi presa no dia 13 de novembro, pois, segundo a polícia, ela estava planejando voltar a fazer novas aplicações. Porém, após ficar dez dias na cadeia, ela foi solta. O juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, determinou a revogação da prisão, alegando que a soltura “não representa uma ameaça à ordem pública”.

Raquel e o namorado dela, o professor de idiomas Fábio Justiniano Ribeiro, de 33 anos, suspeitos de participar dos procedimentos,foram indiciados por quatros crimes na morte de Maria José:  homicídio doloso com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), exercício ilegal da profissão, lesão corporal e distribuição de produtos farmacêuticos sem procedência. O processo foi remetido ao Judiciário no último dia 21 de novembro, mesmo sem a conclusão dos laudos periciais e do Instituto Médico Legal (IML).

O homicídio foi considerado doloso, pois, segundo a responsável pelo caso, o casal assumiu o risco da morte de Maria José ao não aconselhar que ela procurasse um médico rapidamente ao começar a se sentir mal.

Maria José Medrado de Souza Brandão aplicação de hidrogel para aumentar o bumbum em GoIânia, Goiás (Foto: Aracylleny Santos/ Arquivo Pessoal)Maria José morreu após aplicação no bumbum
(Foto: Aracylleny Santos/ Arquivo Pessoal)

Morte
Maria José morreu no dia 25 de outubro, um dia depois de fazer a segunda aplicação de hidrogel no bumbum, em uma clínica de Goiânia. Após se sentir mal, ela foi internada no Hospital Jardim América, em Goiânia, e morreu na madrugada seguinte, com suspeita de embolia pulmonar.

Em áudios obtidos com exclusividade pela TV Anhanguera, Maria relatou à Raquel que sentia dor no peito e falta de ar. É possível notar que a paciente estava ofegante e fraca, mas a responsável pela aplicação descartou riscos e orientou a vítima a comer “uma coisinha salgada”. Momentos depois, Maria José encaminhou uma mensagem escrita dizendo: “Tenho medo de AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Minha mãe morreu cedo disso”.

Nesse momento, Raquel deu uma risada e descartou a possibilidade de paciente sofrer do problema. “AVC não dá falta de ar não. AVC é no cérebro, não dá falta de ar. Pode ficar tranquila. Você fuma? Alguma coisa assim? Você costuma praticar atividade física? Pode ficar tranquila que tem a ver com a tensão, não tem nada”, disse.

 

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