Sob a chuva persistente que caia no início da noite desta segunda-feira em Edimburgo, Tim Brown, médico aposentado de 60 anos, batia porta a porta de um bairro da periferia da capital em nome da campanha Better Together, pelo “Não” à independência da Escócia. Seu sacrifício tem como objetivo convencer 500 mil indecisos que vão determinar o futuro da Grã-Bretanha na quinta-feira. Por todo o país, milhares de militantes pró e contra a secessão disputam palmo a palmo o voto de cada eleitor.
O esforço de última hora é necessário porque, depois de dois anos e meio de campanha, um empate técnico – 51% pelo “Não”, 49% pelo “Sim” à independência – persistia a 60 horas da abertura das urnas. A estimativa faz parte da “pesquisa das pesquisas”, que faz a média de todas as sondagens realizadas no país. De acordo com analistas, o resultado do referendo é imprevisível, e, diante da incerteza, os dois lados se lançaram a campanhas de porta a porta pelo voto dos indecisos, que o ‘Estado’ acompanhou nesta segunda-feira. Um desses militantes era Brown, que batia às portas de moradores de condomínios de classe média baixa de Edimburgo em busca de apoio pelo “Não”.
A cada interlocutor, adaptava o discurso de acordo com as respostas que ouvia, mas sempre repetindo um argumento: se estiver em dúvida, vote “Não”, porque o voto pela independência será irreversível. “A Escócia tem sido parte da união por 300 anos e assim se tornou um país próspero. Eu sou escocês, sou patriota, mas a Escócia e a Inglaterra são interdependentes e devem continuar assim para sempre”, argumenta. “Algumas pessoas estão claramente decididas, outras não. Procuro discutir as consequências de seu voto para o futuro da Escócia.” O discurso de, na dúvida, votar pelo “Não” é a maior aposta de vitória dos unionistas.
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População faz campanha na Escócia (Foto: AFP) |
Nesta segunda-feira, em Aberdeen, no norte do país, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, voltou a fazer um apelo emocional aos escoceses.”Vamos ser muito claros: não há volta. Esta é uma decisão para sempre”, afirmou o premiê, muito impopular em território escocês. “Se a Escócia votar ‘Sim’, a Grã-Bretanha vai quebrar, e nós viveremos em países separados para sempre.” $Desafio$ Lidar com o medo de que a decisão não tenha volta é o maior desafio da campanha Yes Scotland na reta final do referendo.
Como seus adversários, os militantes do “Sim” também se concentram no porta a porta, mas em paralelo vêm realizando grandes concentrações de rua, em uma demonstração de força e unidade para seduzir indecisos. Bruce Washart, aposentado de 69 anos, acabou optando pelo “Sim”, incomodado pela desigualdade crescente na Grã-Bretanha, e hoje faz campanha pela secessão. “Ser independente nos permitirá construir um país mais próspero e justo com os recursos que temos.
A desigualdade está crescendo na Escócia, e há fatos e números para prová-lo”, reclama. “Mas tudo o que ouvimos são grandes empresários e políticos de Westminster nos pedindo para permanecer na união. Não é isso que queremos ouvir.” Diante de um referendo crucial, as duas campanhas, Better Together e Yes Scotland, estão quebrando todos os recordes de gastos em uma eleição. Até esta segunda-feira, a campanha do “Não” já havia investido 2,7 milhões de euros, ou R$ 10,2 milhões, enquanto a do “Sim” gastara 1,8 milhão de euros, ou R$ 6,8 milhões. Trata-se da eleição mais cara da história da Escócia, superando os 3 milhões de euros gastos na eleição geral que resultou na vitória dos conservadores e na escolha de David Cameron como primeiro-ministro, em 2010.