Cleide Carvalho, O Globo
Segundo Isolete Wichinieski, integrante da coordenação nacional da CPT, as mortes são anunciadas, pois resultam de conflitos que estão ocorrendo há bastante tempo sem que as autoridades tomem providências. Em alguns casos, como os de Maria Lúcia e do casal Castro, as ameaças foram denunciadas às autoridades, que não conseguiram garantir a vida dos envolvidos.
Isolete afirma que a violência no campo voltou a se acirrar com o avanço das monoculturas agrícolas, que gera cada vez mais conflitos pela posse da terra.
– São mortes anunciadas. Os trabalhadores estão cansados. As denúncias são levadas às autoridades, que criam grupos de trabalho que não resultam em ações concretas – afirma.
Em julho a CPT registrou sete assassinatos em quatro estados, num prazo de apenas 20 dias. Entre janeiro e 18 de agosto deste ano foram registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, 23 assassinatos em conflitos no campo – dois a mais do que no mesmo período de 2013. Três casos ainda estão sendo averiguados. Bahia, Maranhão e Pará aparecem com os mais violentos, com quatro assassinatos cada na lista deste ano, seguidos por Mato Grosso e Rondônia, cada um com três mortes.
“A violência está presente em todo o território nacional. Diante dos olhos das autoridades que deveriam concretamente agir de forma a exterminá-la definitivamente. O ouvidor agrário nacional, assim como a Secretaria de Direitos Humanos, tem acompanhado todas as denúncias, ameaças, indícios de irregularidades, mas nada foi feito em vista de barrar o avanço dos assassinatos e do extermínio dos povos do campo. Quando estas mortes provocarão respostas claras e sérias dos órgãos públicos? “, diz a CPT, em nota divulgada nesta terça-feira.
A CPT afirma que não há um posicionamento firme dos candidatos à Presidência da República e que programas como reforma agrária e demarcação de terras indígenas e quilombolas estão paralisados. Pede ainda que as autoridades tomem providências para apurar as mortes e que Executivo, Judiciário e Legislativo criem ações efetivas para reduzir a violência no campo.