Em 50 minutos de palestra realizada na manhã desta segunda-feira, 11, no auditório da Federação do Comércio do Distrito Federal, José Roberto Arruda fez uma detalhada explanação dos planos que porá em prática a frente do Governo do Distrito Federal, vencida a eleição. Ele confidenciou que seu vice, Jofran Frejat, calcula em dois anos o tempo necessário para recuperar a saúde pública e explicou como pretende restaurar a segurança, o desenvolvimento econômico e a mobilidade urbana. Arruda não poupou críticas à atual gestão e disparou: “O governador devia era pedir para sair”. A seguir, os principais trechos da palestra na Fecomércio.
PONTO A PONTO
VOLTAR PELAS MÃOS DO POVO
Decidi me candidatar ao governo, botar a cara a tapa, para resgatar minha história pessoal, para defender minha dignidade. Por que quando estava no melhor momento do meu governo, entregando duas mil e trezentas obras, a cidade respirando otimismo, desenvolvimento, veio o golpe. Hoje, graças a Deus, consegui provar que era tudo uma armação. Que aquelas fitas que eles mostraram eram todas de antes do meu governo. Que aquela doação que eu recebi estava registrada na Justiça Eleitoral e até como foi feita a armação para a minha prisão (para mais detalhes, leia www.golpede2009.com.br). Decidi me candidatar também para resgatar a cidade desse pessoal que fez tudo para me derrubar, mas não se preparou para governar. Temos hoje o pior governo da história de Brasília. E precisamos recolocar a cidade no caminho do desenvolvimento.
COMUNIDADES URBANIZADAS
Eu decidi voltar para liderar, não só uma candidatura, mas um movimento de recuperação das nossas cidades. No nosso governo, fizemos a infraestrutura completa — asfalto, água, esgoto, galerias pluviais, rede elétrica — de assentamentos inteiros. Assentamento é como Brasília chamava o que no resto do Brasil são favelas. Fizemos isso na Estrutural, no Itapoã, em Arapoanga, na Estância, na Vila São José, no Mestre D’Armas, na Vila Dnocs, no Residencial Oeste. Hoje temos o Sol Nascente com 200 mil moradores e ruas de barro, com esgoto correndo. Não dá para aceitar isso na capital do país.
DESOLAMENTO
Fui ao Gama no fim de semana e sabe o que me disseram os pequenos comerciantes? “Volta logo, Arruda, antes que eu quebre”. Nos encontros com os professores, com o pessoal da educação, ouço “Arruda volta logo por que todos os diretores de escola estão devendo na praça. Sabe o que é isso? O governo não paga o PDAF (Programa de Descentralização Administrativo-Financeira) há dois anos. O PDAF foi o nosso governo que criou. Ele é o seguinte: se a válvula de descarga do banheiro das meninas quebra, o diretor tem à disposição um pequeno caixa para pagar o conserto. Como o governo atual não paga o PDAF, o diretor só tem duas opções: compra fiado na praça ou envia um memorando e espera um ano para que venham consertar.
MOBILIDADE URBANA
Quando veio o golpe, estávamos executando o projeto de ampliação de todo o sistema viário do Distrito Federal. Duplicamos a EPTG, levamos o metrô, que estava há 13 anos parado na Praça do Relógio, em Taguatinga, até Samambaia e Ceilândia — ele funcionava só de segunda a sexta, das 7h às 19h e transportava 50 mil passageiros/dia, era metrô de funcionário público. Nós botamos ele para funcionar até as 23h de domingo a domingo, compramos mais 48 trens e ele chegou a transportar 200 mil passageiros/dia. Eu tenho muito orgulho de ter iniciado a construção do metrô como secretário de Obras do Roriz e depois feito a expansão como governador. Agora imagine Brasília sem metrô! Se eles não tivessem dado o golpe, hoje, o metrô chegaria ao Setor O, em Ceilândia e pelo menos até o Hran, na Asa Norte. Eu vou retomar a expansão do metrô para a Asa Norte, até o fim da Ceilândia e até o Sol Nascente, se Deus quiser. Vamos também construir a Interbairros, o Anel Viário, a saída Norte, consertar o BRT que eles conseguiram executar o projeto errado para o Gama e Santa Maria, levar o BRT para a área Norte, Planaltina e Sobradinho.
POLÍCIA MILITAR
Esse governo está com policiais desrespeitados, sem coragem de ir para as ruas. Quem perde o comando sobre sua polícia, perde o governo. A Polícia Militar está desestimulada, houve quebra de hierarquia, de disciplina. O governador deixou que um cabo indicasse o comandante da PM! Um cabo que é deputado… Perdeu o respeito da tropa e não recupera nunca mais. Um governador que é vaiado na formatura da PM devia pedir para sair do governo, igual saiu do debate. A solução é, na base do diálogo, reconstruir o plano de cargos e salários e restabelecer o comando, a hierarquia e a disciplina. Vamos retomar os postos policiais, porque a população se sente mais segura com eles. Hoje, neste momento, a cada hora, só há mil policiais na rua. Mil em 18 mil — por causa das escalas. Minha meta é colocar pelo menos 2,5 mil na rua para policiamento ostensivo. Vamos tentar fazer com que os policiais que vão cedo para a reserva voltem, mediante um estímulo financeiro, e esses policiais vão ficar nos postos.
COMPETÊNCIA E GESTÃO
Destruir é fácil. Recuperar vai ser muito difícil. Os senhores são empresários e sabem que leva muito tempo para desenvolver uma empresa, fazê-la prosperar. Mas deixa um mês na mão de um irresponsável que ela quebra.
NOVO ORÇAMENTO
O orçamento do GDF para 2015 é espetacular. São R$ 33 bilhões. Só que desses R$ 33 bi, só R$ 300 milhões são investimentos, menos de 1%. Então, o primeiro desafio é reduzir o valor do custeio da máquina pública, reduzir a folha de pagamentos e o número de cargos comissionados para aumentar os investimentos. Minha primeira meta é triplicar o valor atual dos investimentos com recursos próprios. A outra meta é retomar os financiamentos externos. No nosso governo, em três anos e meio, captamos R$ 3,5 bilhões em operações de financiamento externo. Desses, executamos projetos da ordem de R$ 700 milhões. Ou seja, deixamos R$ 2,8 bilhões contratados. Sabem quanto foi gasto? Zero. Sabe quanto foi captado em novas operações pela atual gestão? Zero.
NOROESTE
Resolvo o problema do Noroeste no primeiro ano. Aquilo lá é um calote do Estado. As construtoras pagaram R$ 2 bilhões pelas projeções, a classe média foi lá e comprou caro os apartamentos. E não tem rua! Não tem luz!
SEGURANÇA PÚBLICA
Recuperar a segurança vai ser duro. Primeiro, é negociar um novo plano de carreira para os policiais. Depois, contratar mais policiais. E aumentar o número de policiais nas ruas, recuperar o comando sobre a tropa.
EDUCAÇÃO
Vamos retomar o projeto de tempo integral nas escolas e vamos implantá-lo em todas as escolas públicas do DF. Nosso modelo é um modelo que busca dialogar com a comunidade de cada escola para desenvolver o modelo pedagógico que melhor se aplicar ali, de acordo com a realidade local. Estava dando certo e a atual gestão acabou com tudo.
SAÚDE
Temos metas claras de construir o Hospital de São Sebastião, do Recanto das Emas, do Sol Nascente e reconstruir o Hospital do Gama, que está caindo aos pedaços. Vamos retomar os convênios de saúde com as cidades do Entorno. Gente, no Entorno, tem um milhão e meio de pessoas que precisam de atendimento médico. Então nós tínhamos um convênio que ajudava as prefeituras a pagar os profissionais de saúde de lá. A gestão atual acabou com isso. Então, esse um milhão e meio de pessoas do Entorno vem procurar atendimento em Brasília. As filas nos nossos hospitais estão enormes. Tínhamos o serviço de entrega de remédios aos idosos, a gente entregava com motos. São remédios para diabetes, hipertensão. Acabaram com isso. Hoje, os idosos tem que ir buscar os remédios nos hospitais e as filas vão só crescendo. Dias atrás perguntei ao (candidato a vice-governador Jofran) Frejat quanto tempo ia levar para a gente consertar a saúde. Ele me respondeu: pelo menos dois anos! Foi isso o que esse governo fez com a saúde.
DIFERENÇAS IDEOLÓGICAS
Nesta campanha, há um claro embate ideológico. Temos seis candidatos. Quatro deles se identificam com uma visão socialista do governo. Um deles, que é o atual governador, já provou sua ineficiência. Outros três ainda lutam para provar a própria ineficiência. A primeira discussão que os países politicamente avançados fazem é como queremos que o governo funcione com os impostos que pagamos. Alguns tem vergonha de dizer, mas eu não tenho: meu pensamento é liberal, eu sou de direita, prezo por um Estado regulador, com uma máquina leve, pequena, a menor possível.
BRB
O BRB só se justifica como um banco público sob dois aspectos: 1) operar o FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste) e 2) atuar como banco de investimento com atuação na região do Entorno e no Centro-Oeste. Um banco público comercial não se justifica. Então nosso projeto é fazer isso, tornar o BRB operador do FCO, com atuação em todo o Centro-Oeste.
REFORMA ADMINISTRATIVA
Eu sou do tempo em que a gente conhecia todos os ministros. Eu dou um prêmio para quem sabe o nome dos 40 ministros do atual governo. E outro para quem sabe o nome dos 40 secretários de Estado aqui de Brasília. Eu aposto que tem algum deles que nem conhece o governador pessoalmente. Vou fazer uma reforma administrativa drástica. Se vocês acham que fui duro no primeiro governo, no próximo vai ser muito mais duro. Vou cortar o número de secretarias das atuais 40 para 20. Vou reduzir o número de cargos comissionados. Se não cortar verbas de custeio, Brasília fica inadministrável.
ADMINISTRAÇÕES REGIONAIS
O administrador não pode ser indicado por deputado. Tem que ser um técnico, morador da cidade, sem vínculo político. Também acho que fazer eleição para administrador vai trazer muito problema. Tem gente por aí defendendo isso, mas é demagogia e irresponsabilidade. Daqui a pouco teremos eleição para vereador nas cidades e vai ficar o governador com 31 câmaras distritais para negociar. Eu acho que talvez o melhor modelo ainda seja o da comissão do Senado legislando sobre a capital da República. Mas sobre as administrações, quero fazer um bom concurso público para engenheiros e arquitetos para equipar as administrações regionais e isso fazemos em três meses. Acho que devemos descentralizar a fiscalização das obras e a emissão de alvarás e licenças para as administrações. Eu centralizei tudo quando criei a Agefis (Agência de Fiscalização do Distrito Federal) na expectativa de criar um padrão de fiscalização com base na lei. Mas deu tudo errado! Fizeram uso político da Agefis. Hoje, quando uma licença é negada, quando uma multa é aplicada, tudo mundo na cidade já sabe para quem deve ligar. Ou não sabe? Minha proposta é extinguir a Agefis no primeiro dia de governo e descentralizar, passar o poder para as administrações regionais. A realidade do Plano Piloto, em que a ordem é a defesa do tombamento, é diferente da de Vicente Pires, que tem suas características de uso e ocupação do solo, diferentes das de Planaltina, do Guará, de Taguatinga, Ceilândia.
PELO MENOS UMA VIRTUDE
Tá aí uma coisa boa do atual governo: o cartão material-escolar. Isso eu vou manter. Aliás, tem três coisas que eles fazem melhor do que nós: propaganda — dá até vontade de morar naquela cidade que eles botam na televisão —, pardal na rua — eu nunca vi tanto radar, tanta multa, nisso eles são campeões — e esse cartão material-escolar, que é uma idéia muito boa e eu vou manter.
MANÉ GARRINCHA
Olha, vocês tem ideia do que é o superfaturamento desse estádio? Eu vou dar um exemplo. Eu construí o Hospital de Santa Maria com 400 leitos por R$ 130 milhões. Eu deixei o contrato do estádio assinado por R$ 680 milhões. Ele custou R$ 2 bilhões. Então, com esse superfaturamento de R$ 1,3 bilhões, dava para construir dez hospitais de 400 leitos no Distrito Federal. É um escândalo. Sobre a exploração econômica dele, eu recebi um estudo muito interessante feito por professores e alunos da UnB. Eles dizem que uma boa forma de explorar o lugar é usar todo o complexo esportivo, ou seja, o estádio, o ginásio, o centro olímpico, o autódromo, tudo junto. O que eu penso em fazer é, no dia 1º de janeiro, lançar uma consulta pública com base na Lei das PPPs para que a iniciativa privada apresente projetos de exploração do complexo. O melhor projeto, leva. Informações da assessoria do candidato.