O ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shukri, e o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, haviam pedido mais cedo a pausa nos confrontos entre Israel e o Hamas.
Uma reunião entre Kerry e líderes da Europa e do Oriente Médio foi marcada para este sábado, em Paris, com o objetivo de alcançar um cessar-fogo “o mais rápido possível”, segundo uma fonte da diplomacia francesa disse à Reuters.
Acordo de cessar-fogo negado
Mais cedo, o gabinete de segurança do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, rejeitou o cessar-fogo proposto por Kerry e pediu mudanças no texto.
Segundo a agência Associated Press, a proposta americana pedia uma trégua temporária durante a qual Israel e o Hamas teriam diálogos indiretos sobre o abrandamento do bloqueio nas fronteiras da Faixa de Gaza. O Hamas pede que as fronteiras sejam completamente abertas. O principal motivo da negativa israelense seria que o país teria que interromper a ofensiva que está destruindo os túneis ilegais que ligam Gaza a Israel.
Kerry tem pressionado por uma trégua no conflito de 18 dias entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas em Gaza. Não foram divulgados detalhes da proposta de paz, mas uma fonte oficial disse à agência de notícias Reuters que Israel pediu mudanças antes de concordar com qualquer interrupção. O Hamas ainda não respondeu à proposta de trégua.
Após o anúncio de Israel, Kerry se pronunciou no Cairo sobre a proposta de cessar-fogo. Disse que ainda há discordâncias quanto à terminologia para uma trégua, mas que está confiante de que existe uma margem de trabalho.
O secretário de Estado disse a jornalistas que “sérios progressos” foram feitos para a trégua, mas que ainda há mais trabalho a ser feito e que ele está certo de que o premiê de Israel está comprometido em trabalhar por um cessar-fogo.
Kerry disse que o gabinete de Israel pode ter rejeitado alguma linguagem quanto à possível trégua, mas que não houve nenhuma “proposta formal”.
Confrontos e protestos
Autoridades de Gaza disseram que ataques de Israel mataram 55 pessoas nesta sexta-feira, incluindo o chefe de mídia do Jihad Islâmico, aliado do Hamas, e também seu filho. Assim, o número de mortos palestinos em Gaza em 18 dias já totaliza 844 pessoas, a maioria civis, segundo informa a Reuters.
Israel disse que mais três dos seus soldados foram mortos em Gaza nesta sexta-feira, elevando o total de militares mortos para 35. Além disso, Três civis foram mortos em Israel por ataques de foguetes e morteiros vindos de Gaza.
O país também anunciou que um soldado desaparecido depois de uma emboscada em Gaza há seis dias foi definitivamente morto, embora seu corpo não tenha sido recuperado. O Hamas disse no domingo que tinha capturado o homem, mas não divulgou uma fotografia dele.
O avanço terrestre tem objetivo oficial de destruir dezenas de túneis utilizados para a infiltração de combatentes do Hamas, que ameaçam vilas ao sul do país assim como bases do Exército.
Início do conflito
A mais recente escalada de tensão e violência entre israelenses e palestinos começou com o desaparecimento de três adolescentes israelenses no dia 12 de junho na Cisjordânia. Eles foram sequestrados quando pediam carona perto de Gush Etzion, um bloco de colônias situado entre as cidades palestinas de Belém e Hebron (sul da Cisjordânia) para ir a Jerusalém.
O governo israelense acusou o movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, do sequestro. O Hamas não confirmou nem negou envolvimento. Israel deslocou um grande contingente militar para a área da Cisjordânia, principalmente na cidade de Hebron e arredores. Dezenas de membros do Hamas foram detidos, e foguetes foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel.
Os corpos dos três jovens foram encontrados em 30 de junho, com marcas de tiros. Analistas sustentam que eles foram assassinados na noite de seu desaparecimento. A localização dos corpos aumentou a tensão, com Israel respondendo aos disparos feitos por Gaza. No dia seguinte, 1º de julho, um adolescente palestino foi sequestrado e morto em Jerusalém Oriental. A autópsia indicou posteriormente que ele foi queimado vivo.
Israel prendeu seis judeus extremistas pelo assassinato do garoto palestino, e três dos detidos confessaram o crime. Isso reforçou as suspeitas de que a morte teve motivação política e gerou uma onda de revolta e protestos em Gaza.
No dia 8 de julho, após um intenso bombardeio com foguetes contra o sul de Israel por parte de ativistas palestinos, a aviação israelense iniciou dezenas de ataques aéreos contra a Faixa de Gaza. A operação, chamada “cerca de proteção”, teve como objetivo atacar o Hamas e reduzir o número de foguetes lançados contra Israel, segundo um porta-voz israelense. Os militantes de Gaza responderam aos ataques, disparando foguetes contra Tel Aviv.
Proposta rejeitada
A proposta de um cessar-fogo de sete dias apresentada pelo secretário americano de Estado, John Kerry, nesta sexta-feira foi rejeitada pelo governo de Israel. De acordo com informações da rede israelense Arutz Eser, o governo encarou as ofertas de Kerry como “uma proposta do Qatar enfeitada”. O Qatar é acusado por Israel de ajudar o Hamas financeiramente, e ministros do governo israelense consideraram “fora de questão” um cessar-fogo que impedisse as forças armadas de inutilizarem a rede de túneis subterrâneos usada pela resistência palestina na Faixa de Gaza.
Com o número de mortos já ultrapassando 800 e de deslocados na Faixa de Gaza superando 160 mil, o secretário de Estado americano pressionou representantes dos dois lados nesta sexta-feira para alcançarem um cessar-fogo. A violência em Gaza provocou protestos na Cisjordânia, com a morte de pelo menos seis palestinos nas últimas 24 horas. Na última sexta-feira do mês sagrado do Ramadã, a Autoridade Nacional Palestina convocou um “dia de fúria” contra o derramamento de sangue em Gaza após o fim das orações de meio-dia. Forças de segurança israelenses e palestinos entraram em confronto nas localidades de Beit Ummar, ao norte de Hebron, e em Huwara, ao sul de Nablus, na Cisjordânia. No 18º dia de ofensiva, o número de palestinos mortos subiu para 805, contra a morte de 35 soldados e dois civis em Israel.
O líder político do Hamas, Khaled Meshaal, afirmou que não iria aceitar um cessar-fogo duradouro até que suas exigências fossem atendidas, incluindo o levantamento de um bloqueio econômico contra Gaza. O começo da trégua tem a intenção de coincidir com a festa muçulmana de Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã. No entanto, a rede israelense Arutz Shtaim citou declarações de membros veteranos do Hamas, que indicavam uma possível aceitação das propostas de Kerry.
— Antes de tudo, Israel que ouvir as respostas do Hamas às propostas — declarou um membro do governo israelense ao diário “Jerusalem Post”, afirmando que membros do gabinete de segurança queriam a garantia de que o Hamas perderia todos seus mísseis remanescentes em Gaza caso o cessar-fogo fosse prolongado.
No Twitter, o porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos — UNRWA — Chris Gunness disse que o número de pessoas deslocadas em Gaza por causa da guerra subiu para 160.487.
Autoridades palestinas apresentaram nesta sexta-feira uma queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI), acusando Israel de crimes de guerra em Gaza. Para dar encaminhamento à denúncia, a Corte em Haia deve decidir primeiro se há jurisdição na Autoridade Palestina.
FERIDOS EM GAZA ULTRAPASSAM 5 MIL
Durante a madrugada, Gaza sofreu mais bombardeios aéreos israelenses, enquanto sirenes de alerta aéreo voltaram a soar na região metropolitana de Tel Aviv e em outras áreas do Centro e Sul de Israel nesta sexta-feira.
Autoridades palestinas dizem que os ataques militares israelenses mataram 16 pessoas em Gaza somente hoje, incluindo o principal porta-voz da Jihad Islâmica, aliada do Hamas, e seu filho. O número de feridos palestinos desde o início dos combates chegou a 5,2 mil, a maioria civis. Do lado de Israel, 134 soldados foram hospitalizados.
Na Cisjordânia, soldados da reserva israelenses atiraram e mataram Sultan al-Zakik, de 30 anos, e Hashim Hadar, de 47 anos, durante enfrentamentos em Beit Ummar, segundo a mídia palestina. E um cidadão israelense abriu fogo em confrontos em Huwara, matando Khaled Odeh, de 18 anos.
O Exército israelense confirmou que o sargento Oron Shaul, que havia sido previamente declarado desaparecido, não sobreviveu a um ataque em Gaza no domingo. A família de Shaul foi notificada.
FÚRIA EXPLODE EM JERUSALÉM
De acordo com a polícia, 39 suspeitos foram presos e 27 agentes ficaram levemente feridos durante manifestações na quinta-feira em Jerusalém contra a morte de 15 pessoas em um ataque israelense a uma escola usada como refúgio pelas Nações Unidas. Manifestantes atacaram um posto de controle do Exército israelense, atirando pedras e coquetéis molotov. As tropas israelenses responderam com fogo, provocando a morte de dois manifestantes e ferindo ao menos 200.

O Exército de Israel insistiu que havia dado tempo necessário aos abrigados para saírem antes do bombardeio, alegando que era uma resposta a ataques de guerrilhas palestinas a partir da escola. A ONU, no entanto, afirmou que, apesar de ter tentado negociar uma saída segura dos abrigados por uma janela, nenhuma garantia foi concedida. As Nações Unidas disseram ainda que tinham passado precisas coordenadas da localização da escola às forças israelenses, que acusaram o Hamas de impedir a retirada do pessoal.
Nesta manhã, policiais posicionaram-se na Esplanada da Mesquita. Apenas homens acima de 50 anos e mulheres de qualquer idade foram autorizados a orar no local, segundo o “Haaretz”.
O porta-voz do Exército israelense emitiu um comunicado pedindo ao público que evitasse áreas perto da fronteira com Gaza, onde as tropas estão estacionadas.
“Atos de apoio às tropas que lutam na área são úteis e generosos, mas a área é uma zona militar fechada, aberta apenas para moradores e trabalhadores de segurança e soldados”, disse o comunicado.