O coronel foi um dos nove – e não oito, como previsto anteriormente – a depor nesta tarde. Ao todo, a Justiça ouvirá 50 réus envolvidos no esquema. No fim de seu interrogatório, que durou cerca de 45 minutos, Katayama, com a voz embargada, negou envolvimento com a grupo criminosos e disse que ter sido citado na operação encerrou sua carreira na polícia de forma “trágica”.
“Depois de 29 anos na corporação, eu tinha aspiração de comandante geral da polícia. Estudei e trabalhei muito para isso. Agora nunca mais. Esse é o fato mais vergonhoso da minha vida. E eu lutarei para provar até o final que sou inocente”, afirmou.
Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), Katayama foi flagrado várias vezes em escutas telefônicas com Cachoeira. De acordo com ele, entre 2010 e 2011, foram cerca de “dez conversas” entre os dois. No entanto, em nenhum momento foram tratados assuntos relacionados a máfia dos caça-níqueis.
“As interceptações são dissociadas do contexto e encaixadas em diversas situações. Ele falava de questões administrativas, sobre alguns crimes, esse tipo de coisa. Atendia ele na minha função de policial, como também atenderia qualquer outro empresário ou lavador de carros que fosse, sem desmerecer ninguém”, explicou.
Além de negar envolvimento, o coronel afirmou que trabalhava de forma contínua para contra o principal motivo de investigação da quadrilha. “Sempre combati os caça-níqueis. Fiz inúmeras operações. Já chegou ao ponto de eu ir tomar um refrigerante em um bar, ver uma máquina e colocá-la na minha viatura por falta de caminhão para carregá-la”, revela.
Delta
O militar também foi questionado sobre seu relacionamento com o ex-diretor da Construtora Delta, Cláudio Dias de Abreu, também réu no processo e considerado um dos principais parceiros de Cachoeira. Na denúncia, existem também várias conversas entre os dois.
“Ia muito a Delta por conta de trabalhos e projetos da PM, assim como ia a outros fornecedores nossos”, diz. O coronel contou que a empresa, na época em que era comandante, locava os carros usados pela polícia. No entanto, afirma que seu relacionamento com o diretor era estritamente profissional.
profissional (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Outra questão que o ex-comandante teve que explicar foi relacionada a sua variação patrimonial no ano de 2009. Conforme descrito na denúncia, ele teria recebido três vezes mais que o rendimento líquido declarado. Como resposta, Katayama disse que aquele foi o ano em que sua mãe faleceu e por conta disso, recebeu metade do valor de uma casa dela, que também dividiu com o irmão. Alegou ainda que vendeu um terreno e outros três apartamentos nesse período.
Irmão de Cachoeira
Em um depoimento que durou 13 minutos, o irmão de Cachoeira, Marco Antônio de Almeida Ramos, também negou envolvimento com o grupo criminoso do bicheiro. Ele disse que nunca teve “relações comerciais” com o irmão e ainda se emocionou ao tentar provar sua inocência.
“Comecei a trabalhar nem banco aos 15 anos. Quando fui preso pela operação, me fizeram apenas duas perguntas e já me levaram para a cadeia. Fui preso injustamente. Meu filho tinha 15 anos na época e até hoje ele tem trauma”, afirmou.
Além de Katayama e Marco Antônio, outros sete réus prestaram depoimento. Entre eles, o ex-diretor da Delta, Cláudio Dias de Abreu e o ex-delegado Aredes Correia Pires, acusado de repassar informações sigilosas sobre a investigação policial em relação a quadrilha. Os demais depoentes eram policiais militares e empresários.
A série de audiências continua na quarta-feira (28), onde mais cinco réus serão ouvidos.
Primeiro dia
Os depoimentos dos reús começaram na segunda-feira (26), com a participação de 11 pessoas. De todas elas, apenas uma, o corretor de imóveis Francisco Marcelo de Sousa Queiroga, confessou participação no esquema de jogos ilegais. Outros seis negaram envolvimento com a quadrilha e quatro utilizaram o direito constitucional de permanecer calado.
ligação com esquema (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Quando questionado pelo juiz se tinha envolvimento na exploração de jogos ilegais, Queiroga surpreendeu e respondeu positivamente. “Eu tinha minha loja de máquinas caça-níqueis, mas não conheço o Cachoeira”, disse.
Além de Queiroga, também foram ouvidos dois policiais militares – sendo um afastado do serviço – um aposentado, um eletricista e uma técnica em eletrônica. Todos afirmaram ser inocentes. Um advogado que é ex-cunhado de Cachoeira também negou ter feito parte do esquema.
As outras quatro pessoas, sendo três autônomos e um desempregado, decidiram ficar em silêncio e não responderam aos questionamentos. Segundo a denúncia, eles são acusados de trabalhar na parte logística da quadrilha, recolhendo os valores das máquinas e repassando-os para a quadrilha.
Operação Monte Carlo
Carlinhos Cachoeira é acusado de chefiar um esquema de exploração de jogos ilegais e corrupção em Goiás e no Distrito Federal. Ele foi preso em 29 de fevereiro de 2012, quando a Operação Monte Carlo foi deflagrada pela PF e Ministério Público Federal (MPF). O empresário foi condenado a 39 anos e 8 meses de prisão pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha. Ele recorreu da sentença e aguarda pela decisão em liberdade.
Além dele, outras sete pessoas também foram condenadas por crimes de quadrilha, corrupção ativa, violação de sigilo funcional, advocacia administrativa, peculato e furto. São elas: Lenine Araújo, a 24 anos e 4 meses de prisão; José Olímpio Queiroga Neto, a 23 anos e 4 meses; Idalberto Matias, o Dadá, a 19 anos e três meses; Geovani Pereira da Silva, a 13 anos e 4 meses; Raimundo Queiroga, a 12 anos e 8 meses; Gleyb Ferreira da Cruz, a 7 anos e 8 meses; e Wladimir Garcêz, a 7 anos. Todos ganharam o direito de recorrer da sentença em liberdade.
O nome de Cachoeira também aparece envolvido em outra operação da Polícia Federal, a Saint Michel, um desdobramento da Operação Monte Carlo, que apurou o envolvimento de agentes públicos e empresários em uma quadrilha que explorava o jogo ilegal e tráfico de influência em Goiás.
O bicheiro obteve liberdade em 11 de dezembro de 2012, dias depois de ser preso em razão de sua condenação. Antes, ele havia ficado preso no presídio da Papuda, em Brasília, por nove meses.