Em busca de paz, Colômbia realiza eleições neste domingo

por Léo Gerchmann, Zero Hora

 

Em busca de paz, Colômbia realiza eleições neste domingo LUIS ROBAYO/AFP

No ano em que Farc completam meio século, debate político se centra na possibilidade do acordo histórico Foto: LUIS ROBAYO / AFP

Há um neologismo gaúcho que serve à perfeição para definir o ambiente na Colômbia neste domingo de primeiro turno das eleições presidenciais: “Grenalização”.

Trata-se de uma disputa atípica. Candidatos tidos tradicionalmente como conservadores travam confronto que pode ser visto como referendo do processo de paz. As ironias da política colocaram Óscar Zuluaga, aliado do ex-presidente Álvaro Uribe, como oponente do presidente Juan Manuel Santos, que anos atrás era o “xerife” da desarticulação imposta à guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), como ministro da Defesa de Uribe. Hoje, Santos e Uribe são desafetos, e, de certa forma, o ex-ministro representa os interesses das Farc. Por quê? Porque o governo promove uma negociação histórica de paz, e Uribe é refratário a isso. Tem como bandeira política justamente a intransigência com a guerrilha.

Tendência é de que haja segundo turno

A socióloga e analista política Sandra Hincapié, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), não tem dúvida:

— As negociações de paz são o tema central na Colômbia, e isso divide as opiniões e o país. Há um lado que defende o acordo, e outro que não o aceita.

O principal problema é que as Farc completam 50 anos em 2014 e deixam um rastro de centenas milhares de vítimas, entre deslocados, mortos e sequestrados.

O ressentimento é grande e se materializa na rejeição ao acordo. Há entre as vítimas, porém, casos como a de Emperatriz de Guevara, mãe de Julián Guevara (morto pela guerrilha), um símbolo de superação. Em entrevista para Zero Hora, ela disse:

— A paz está acima dos sentimentos individuais. É difícil para mim, mas é importante para a Colômbia, para todos nós. Que venha a paz.

A expectativa é de que Santos não consiga vantagem suficiente no primeiro turno para evitar o segundo turno, em 15 de junho. Com três dos cinco pontos do processo de paz discutidos e com acordos parciais já celebrados (questão agrária, participação política dos guerrilheiros e narcotráfico), Santos procura reunir todas forças liberais, moderadas e de esquerda do país, em nome da continuidade das negociações. Até mesmo as Farc e o Exército da Libertação Nacional (ELN), o segundo grupo guerrilheiro mais importante, deram sinais de que são favoráveis a sua reeleição.


 

O país

População: 45 milhões de habitantes
Capital: Bogotá
IDH: 0,689
Esperança de vida: 72,5 anos
Mortalidade infantil: 19,1 por mil nascimentos
Alfabetização: 92,8%

Um debate de alta rispidez

Na última quinta-feira, o debate de encerramento da campanha deu o tom da polarização. Zuluaga tentou amenizar o discurso contra o acordo de paz.

— A paz não pode depender de se defender as Farc. Queremos a paz, mas com respeito à justiça, não uma paz baseada na impunidade — disse, deixando claro que a paz significa eliminar a guerrilha sem negociações (o número de integrantes das Farc, aliás, já caiu de 18 mil para 8 mil).

Santos reagiu afirmando que a paz será obtida com “prudência e responsabilidade”.

O debate passou à crispação quando Santos chamou Zuluaga de “fantoche” de Uribe. Elisabeth Ungar, da ONG Transparência para a Colômbia, define a campanha como “a mais suja dos últimos tempos”, em razão da rivalidade provocada pelo rompimento entre Santos e Uribe.

Joga a favor do presidente a situação econômica. Há a expectativa de que a Colômbia se torne a segunda maior economia sul-americana, desbancando a Argentina, atrás apenas do Brasil. Apesar da desigualdade social, nos últimos 13 anos o país cresceu 5% anuais. A inflação fechou em 2,72% em 2013. O desemprego, de 9,7%, é o melhor em uma década. O fluxo de turistas subiu de 600 mil para

1,8 milhão anuais entre 2000 e 2013. Investimentos estrangeiros anuais pularam de US$ 1,7 bilhão para US$ 13 bilhões em 10 anos.

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