Torturador na ditadura, coronel Paulo Malhães é encontrado morto

Torturador na ditadura, coronel Paulo Malhães é encontrado morto no RJ MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO

Coronel foi encontrado morto em sua casa, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro Foto: MARCOS ARCOVERDE / ESTADÃO CONTEÚDO

Um mês após revelar ao país que matou, torturou e ocultou cadáveres de presos políticos durante a ditadura, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 76 anos, foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira, no sítio em que morava, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

De acordo com o delegado-adjunto Fabio Salvadoretti, três homens invadiram a casa por volta das 14h de quinta-feira e já estavam no local quando o coronel e sua mulher chegaram. No entanto, só começaram a revirar a casa após a chegada do casal. O casal e o caseiro foram feitos reféns. Os homens ficaram na casa por cerca de oito horas.

Os homens levaram celulares, dois computadores, impressoras, jóias e pelo menos quatro armas da coleção do coronel, além de R$ 700. Fábio Salvadoretti suspeita que Malhães tenha sido assassinado por asfixia cerca de três horas depois da chegada dos bandidos ao sítio. Segundo ele, não há indícios de que o coronel tenha sido torturado.

Cristina Batista Malhães, viúva do coronel, contou que apenas um dos três homens estava encapuzado. Antes de irem embora, eles soltaram a mulher do coronel e o caseiro, que tinham sido amarrados e colocados cada um em um cômodo da casa.

O delegado Salvadoretti disse que estuda três linhas de investigação para o crime

– A esposa ouviu os bandidos fazendo ameaças, tipo “onde estão as armas e as jóias”. A investigação está muito preliminar ainda. Nada está sendo descartado. Pode ter sido um latrocínio, uma vingança ou um crime relacionado com o depoimento prestado por ele à Comissão Nacional da Verdade – explicou o delegado.


No mês passado, Malhães admitiu torturar e matar durante a ditadura

— Quantas pessoas o senhor matou?

— Tantas quantas foram necessárias?

O diálogo travado entre o ex-ministro José Carlos Dias e o coronel reformado Paulo Malhães ocorreu no dia 25 de março, durante o depoimento do militar à Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Malhães estarreceu o país com suas revelações. Em pouco mais de duas horas de depoimento, o coronel respondeu às perguntas com frieza e sem demonstrar arrependimento.

No dia 21 de março, quatro dias antes de falar à CNV, o militar também havia declarado à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro que jogara os restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva no mar fluminense, depois de os desenterrar de uma praia, onde fora sepultado clandestinamente em 1971.

Mas Malhães voltou atrás no depoimento à CNV. Negou que tivesse escondido o corpo de Rubens Paiva e disse que sustentou a versão apenas para conformar a família do parlamentar.

Logo após a notícia da morte do militar, suspeitas de queima de arquivo começaram vir à tona. Pelo Twitter, a ex-ministra dos Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), disse que “soa estranho que após essas revelações o militar tenha sido assassinado”. O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, também disse acreditar na hipótese de queima de arquivo e defendeu “rigor nas investigações”.

— Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época.

Malhães foi agente do Centro de Informações do Exército (CIE) e chegou a ensinar técnicas de tortura a repressores gaúchos. Ele também foi um dos agentes mais ativos da chamada Casa da Morte de Petrópolis, um centro clandestino mantido pelo regime militar no início da década de 1970.

ZERO HORA, COM AGÊNCIAS

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