O depoimento da assistente social Edelvânia Wirganovicz, acusada de participação na morte de Bernardo Uglione Boldrini, à Polícia indica a possibilidade de que o garoto tenha sido enterrado ainda com vida.
Em seu depoimento, Edelvânia disse textualmente que nem ela nem Gracieli verificaram se Bernardo estava vivo depois de aplicar nele uma grande dose de midazolan, anestésico usado em procedimentos cirúrgicos leves, como endoscopias. Em excesso, a substância mata.Leandro, o pai da vítima, é médico e tem uma clínica especializada justamente em endoscopias. Seu escritório fica no município de Três Passos, na Região Norte do RS. “A depoente e Kelly (apelido de Gracieli) colocaram o menino no buraco, sendo que Kelly jogou a soda (cáustica) sobre o corpo e a depoente acha que ele já estava morto. Que a depoente não viu se Kelly olhou se o menino tinha pulsação”, registrou a polícia, segundo depoimento da assistente social.
Edelvânia também afirmou que apenas ela e a madrasta de Bernardo sabiam “sobre o fato”. Edelvânia depôs no dia 14. A pá, a cavadeira e restos de soda cáustica, usada para “consumir” o corpo e não deixar “cheiro”, foram encontrados na casa da mãe dela. Horas depois de seu depoimento, o corpo do garoto foi achado, e o trio preso.
Bernardo, que morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã de um ano, foi morto no dia 4 de abril na cidade de Frederico Westphalen, a 80 quilômetros de Três Passos. A necropsia não apontou a causa da morte, mas o depoimento de Edelvânia confirmou a hipótese já apresentada pela polícia, de que a amiga da madrasta havia sido contratada para ajudar a matar o garoto.
Segundo Edelvânia, Gracieli adiantou R$ 6 mil para que a assistente social quitasse a dívida de um imóvel no valor de R$ 96 mil. De acordo com o depoimento, o acerto era pagar um total de R$ 20 mil. “Kelly lhe ofereceu muito dinheiro e a depoente foi fraca, mas era muito dinheiro e não teria sangue e nem faca, era só abrir um buraco e ajudar a colocar dentro o menino”, informa outro trecho do depoimento.
O relato destaca ainda que Gracieli aplicou o anestésico “na veia do braço esquerdo”, e que Bernardo “foi apagando”. O advogado de Leandro, Jáder Marques, não quis comentar as declarações de Edelvânia, dizendo que não teve acesso ao inquérito.
Marques, que defende também o sócio da boate Kiss Elissandro Spohr, disse que irá à Justiça para acompanhar as investigações policiais. Ontem, foi rezada em Três Passos uma missa em memória de Bernardo, que era coroinha. Na homilia, o padre Rudinei da Rosa disse que toda a cidade sabia o que havia acontecido e, sem citar nenhum dos suspeitos, afirmou que “monstros existem, mas no final sempre são vencidos”. Em seguida, mais de mil pessoas saíram da igreja Matriz em caminhada até a casa do médico. A Brigada Militar acompanhou o protesto.
No sábado passado, Leandro foi destituído do cargo de diretor-técnico do Hospital de Caridade de Três Passos. Ele ainda será demitido da função de cirurgião plantonista. A decisão foi tomada pela direção e pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).