Wasny prevê uma eleição dificil e diz que é pré-candidato à reeleição

Gualberto Maciel, Brasília Agora

Em um ano totalmente atípico, cheio de feriados e Copa do Mundo, o presidente da Câmara Legislativa, Wasny de Roure, além de todas suas atribuições teve que começar o ano dando uma de bedel e puxando a orelha de alguns deputados que até poucos dias insistiam em colaborar para não formar quórum na Câmara Legislativa. Irritado com a apatia parlamentar, Wasny usou a tribuna da casa por diversas vezes para dizer para seus pares que todo o trabalho deles, inclusive o deste ano será julgado em outubro e assim colocar a casa para funcionar. Na opinião de Wasny, assuntos como PPCUB, LUOs e PDOT tem que começar a andar na Casa, sob pena dessa legislatura perder o bonde da história. Ele prevê uma eleição bastante dificil e anuncia que é pré-candidato à reeleição nas eleições de outubro.

Deputado, a Câmara já voltou a funcionar a pleno vapor?

Estamos começando a funcionar com uma certa normalidade. Tivemos problemas a despeito da negociação no Colégio de Líderes de retomada das comissões na atual  composição dos membros, vice presidentes e presidentes, exceto a comissão de segurança, mas  no nosso entendimento essa fase inicial é dificultada pelo  próprio funcionamento  das comissões as responsáveis por  preparar as pautas que vão para o plenário.

O fato de ser um ano eleitoral também atrapalha?

Sim, com certeza, em ano eleitoral a presença dos parlamentares na Casa, reveste-se do interesse desse próprio parlamentar associado a própria natureza do ano. Então, nesse sentido nós temos trabalhado para votarmos matérias de interesse dos parlamentares. Votamos um conjunto grande de propostas de audiências públicas e Comissão Geral, o que dá fôlego para que a instituição apoie a iniciativa de cada deputado que visa discutir temas de interesse da comunidade.

Mas o senhor deu um puxão de orelha em alguns parlamentares?

Não, não sou de fazer isso. Apenas procuro dialogar com os colegas para mostrar que a atividade parlamentar é a razão dele ter sido eleito, e consequentemente ele vai ser avaliado também que é muito diferente para quem irá tentar uma candidatura pela primeira vez e não tem nada para informar do que fez, do que encaminhou e do que lutou. O atual parlamentar ele pode apresentar: “Olha, propus isso foi vetado, foi votado, foi sancionado, teve esse ou aquele desdobramento, discuti este assunto, que é matéria de autoria do Executivo, mas mobilizei a sociedade para discutir”, então a Câmara é um espaço privilegiado. O parlamentar tem um sem número de situações em que pode mostrar o seu trabalho.  É essa a decisão nesse momento. Há outros casos de representação do Ministério Público que ainda não chegaram na Câmara.

Então, tudo é questão de seguir o devido processo legal?

Na realidade o processo por quebra de decoro parlamentar, não necessariamente precisa da condenação pelo judiciário, o que ocorre que esta matéria no final de 2010, antes de começar essa legislatura, o arquivamento foi proposto na Comissão de Ética por falta de inquérito da Polícia Federal, como também da falta de tempo para apreciação, mas mesmo assim, os colegas deputados entenderam que a matéria está arquivada independente da razão e ela está arquivada. Então nesse caso a Câmara estabeleceu um parâmetro que é a apreciação em segunda instância no Tribunal. O caso do deputado Benedito já foi visto em segunda instância, ele foi condenado e ai nós demos início ao processo que está em andamento na Comissão de Ética.

O senhor conseguiu realizar no seu primeiro ano ações para tornar a Casa mais popular?

Nós tivemos algumas iniciativas que foram importantes, mas eu tenho sentido enorme dificuldade em romper o bloqueio da cultura implantada na Casa. Em primeiro lugar a estrutura da Casa que é dividida praticamente entre servidores concursados e colaboradores indicados pelos deputados dificulta porque ainda temos pessoas indicadas por parlamentares que acabam não trabalhando na instituição e isso é um prejuízo para a sociedade. Em segundo lugar temos um cenário que é um problema que é a falta de aferição de presença dos servidores que trabalham na Casa, não consegui ainda, implantar isso.

E o concurso público, deputado, também é uma tarefa que está sendo trabalhada ou não?

Pois é, o concurso público para a Câmara legislativa tem que estar associado ao bom desempenho daqueles servidores que já estão aqui na instituição. Então temos que trabalhar todas estas ações com muito zelo, com muito cuidado para que estes fatores deixem de ser pontos  de críticas à Casa e passem a ser pontos que demonstrem o bom funcionamento da Casa. Por último eu citaria a questão da televisão, agora que estamos finalizando o lançamento do edital para a nossa televisão e agora, depois de seis meses de negociações vamos assinar o convênio da Câmara Legislativa com a Gráfica do Senado, isso deverá melhorar em muito a divulgação de tudo que é feito aqui e nos dar acesso a todo o material produzido em nível federal.

Já houve várias campanhas publicitárias para aproximar a Câmara da população. Em face do dinheiro investido a Casa obteve êxito nessas campanhas?

O gasto em publicidade tem a sua importância, mas confesso que temos dificuldade em aferir se o que é gasto realmente surte o resultado esperado. Nós já recebemos um contrato em andamento e renovamos esse contrato porque fazer uma nova licitação ficaria muito mais dispendioso e trabalhoso, mas esperamos rever este processo depois da implantação da TV Câmara. A partir daí acredito que teremos mais condições de diálogo e aproximação com a sociedade.

O senhor acha que há um comportamento de ataque gratuito da mídia à Câmara Legislativa?

Sim, por diversas vezes os próprios veículos que se beneficiam com a verba publicitária fazem matérias sem base nenhuma atacando parlamentares, atacando a instituição com assuntos repetitivos, com matérias que não representam a realidade. É claro que em algumas vezes esse trabalho é feito de forma correta mostrando as falhas reais como deve ser feito pelo jornalismo sério.

Deputado, vamos falar um pouco de política. As eleições vão ser muito difíceis?

Bastante difícil. Temos uma oposição silenciosa, mas bastante ativa em nossa cidade. São quadros  muito conhecidos que depende de decisões judiciárias. Na atual composição de partidos capitaneados pelo PT e pelo governador Agnelo temos algumas dificuldades e o mais relevante deles é a falta de unidade na esquerda do Distrito Federal.

O senhor é pré-candidato a deputado federal?

Não, sou pré-candidato à reeleição para ajudar em um processo no qual temos mais de 50% dos nossos imóveis irregulares. Este é um debate que precisamos nos debruçar avaliando o PPCUB, o Luos, PDOT nas regularizações, mas isso não pode ser visto como um ato demagógico. Temos que deixar claro que depende de muitas instâncias. O que cabe a nós é reaproximarmos os setores para dar cabo a esta situação.

O PT tem duas missões reeleger Dilma presidente e Agnelo governador, o senhor acha que consegue?

Eu acredito que sim, porque o governador Agnelo tem uma avaliação boa. Ele é um homem que já viveu as principais experiências na política partidária e vem realizando um processo que pela primeira vez está mudando a realidade do transporte público na cidade. Isso nunca foi feito e agora com a licitação dos novos ônibus, a construção do Expresso DF e várias outras ações, vamos ter uma coisa que nunca foi vista aqui que é o transporte público de boa qualidade atendendo a população e melhorando a qualidade de vida.

Foi muito difícil se chegar nesse ponto?

Sim, o governador Agnelo recebeu uma estrutura extremamente contaminada, e isso é muito ruim. Não se descontamina uma estrutura igual a do GDF do dia para a noite, isso demanda trabalho, estratégia e eficiência. Ainda temos muitos processos que caminham de forma extremamente lentas nos órgãos de controle. Tivemos as contas do governo anterior plenamente aprovada. Temos as contas de 2009 que até agora não foi divulgada, não foi aprovada e, no entanto, temos um candidato ao governo do DF se apresentando para a eleição sem que isso tenha sido definido.
O senhor está falando do Arruda?

Exatamente, temos a conta de 2009 que retornou ao Tribunal de Contas em uma situação um tanto o quando complicada, difícil de compreender quando ela deveria ser apreciada pela Câmara Legislativa para ser aprovada ou rejeitada. A conta que o próprio Tribunal de Contas rejeitou. Essas coisas não podem ficar silenciosas.  Nosso eleitor precisa saber disso. Não dá para se votar em uma pessoa que não teve a conta de seu governo anterior ou de parte dele escondida do órgão que é fiscalizador em sua natureza  de existência. Eu sei respeitar os adversários, sempre respeitei aqui na Câmara e em outros parlamentos por onde passei, mas isso é uma coisa que tem que ser mostrada. É importante que estas coisas sejam vistas pelo eleitor e ele possa separar as pessoas que trabalham pela sociedade daquelas que só pensam em usufruir do poder em benefício próprio. É importante se respeitar aquilo que é o papel das instituições, declinar dessas tarefas é causar um prejuízo enorme à sociedade. Sou deputado da primeira legislatura desta casa e por isso sei a importância que o papel do legislativo seja cumprido plenamente.

O senhor acha que a prisão dos mensaleiros pode prejudicar o PT e as candidaturas de Agnelo e Dilma à reeleição?

Veja só. O efeito desta crise dos quadros do PT é algo tão gritante que isso nunca teve no país. Primeiro, conhecer o perfil do Supremo, segundo avaliar quem foi julgado e quem não foi e separar essas duas pessoas. É importante perceber também que mesmo o PT sendo governo federal e tendo pleno controle do orçamento, nada foi feito para atrapalhar o julgamento dos petistas. Para mim, isso é que consolida a democracia, não de discurso, mas na prática. Vejo o lado positivo desse julgamento que diferencia o PT dos outros partidos, ainda que tenha sido um processo doloroso, acredito que ele deixa o PT muito à frente na questão de investigar, proceder com um processo e realizar um julgamento feito por ministros, em sua maioria indicados pelo PT, mas que tiveram toda a independência para votar e dar cabo a todo esse processo conhecido como Mensalão.

Deputado, tem havido muitas manifestações no Brasil e em Brasília O senhor teme pela falta de segurança em grandes eventos como os que estão para ser realizados no DF e no Brasil?

Este é um quadro bastante preocupante, o processo político eleitoral naturalmente promove um tensionamento entre as candidaturas e os partidos, há um cenário de um desempenho econômico modesto, consequentemente temos outros elementos colaterais provenientes desse processo, mas nós temos uma situação que é o pleno funcionamento de nossas instituições. Eu creio que falta gestos do cenário que traga o sentimento da conciliação, o sentimento do espírito público, o sentimento da solidariedade numa situação  mais atrativa do que os elementos de tensionamento.

Está se banalizando a vida, deputado?

A sociedade brasileira atual pouco valoriza os gestos de solidariedade. Gestos de aproximação daqueles que estão mudando o País. Então estas coisas têm que ser recolocadas porque o país é maior do que as disputas. A necessidade da nossa população é uma prioridade maior do que as diferenças dos projetos políticos que estarão em disputa, então precisamos entender que há complexidade e problemas que transcendes divergências, desentendimentos e precisamos focar isso independente de quem vamos votar para deputado, para senador, governador e presidente. Nós temos tarefas coletivas a serem assumidas.

Deputado, dê um exemplo prático de tudo que o senhor falou nessa questão?

O debate sobre o racismo é um exemplo. Esse é um debate que está presente entre nós, está frequente nos nossos dias ainda que a libertação dos escravos se deu há muitos e muitos anos. Então esse é um assunto que já deveria estar resolvido. Somos todos iguais, não deveria existir distinção por contas da diferença de raças, por exemplo.

A violência também entra nessa situação?

Sim, a banalização das relações humanas e a violência em si, esses atos recentes do Píer 21 deixam claro a necessidade que temos de amplificar os fatos que mostram a solidariedade como foi o gesto de uma criança de seis anos que foi capaz de salvar a mãe de um possível afogamento porque ele estava de colete. Então isso demonstra que nós temos um gesto de superação que servem para quebrar este tensionamento do dia-a-dia.

Deputado, nestas manifestações surgiram grupos como os Black blocks e os Anonymous, que estão se aproveitando para provocar a violência. O senhor acredita que eles podem provocar situações piores do que as que já vivemos nos últimos dias?

Olha, o cenário é bastante imprevisível. Não posso dizer que é um cenário muito fácil. Acredito que as políticas públicas em direção à juventude devem ser reavaliadas num momento desses, projetos como o segundo tempo, esporte a meia noite, esporte candango, temos que ter proposituras que levem o jovem a pensar em alternativas que não apenas a droga, a violência que não apenas instrumentos de dor e sofrimento usados para ele ser visto e identificado. Eu creio que nossas autoridades que trabalham com essas áreas de esportes e atendimento à juventude precisam ser mais céleres na realização de ações que facilitam muito o distanciamento desse clima de tensão que está bastante presente na sociedade.

O que o senhor tem feito na área de economia do gasto da Câmara Legislativa?

Esse é um dos pontos que destaco como bastante positivo. A Mesa é muito coesa e nos dá a possibilidade de trabalhar realizando algumas economias e resolvendo alguns enclaves na área de saneamento, como fizemos recentemente na questão da Adin que estava na área da segurança. Nós tínhamos um cenário da gráfica que estava paralisada, mas que era mantida da mesma forma depois que a Câmara saiu do antigo prédio para as novas instalações. Sendo que há mais de dois anos que a gráfica praticamente já tinha parado as suas atividades, estamos procurando implantar uma agenda mais dinâmica nas atividades culturais na instituição e estamos procurando consolidar todas estas etapas que temos pela frente.

Em que ponto a ausência do parlamentar se torna gritante?

Vou citar aqui apenas um exemplo. As emendas à Lei Orgânica é um absurdo que se tenha emendas para serem votadas em segundo turno e que isso não esteja acontecendo puramente por falta de quórum, quando o número mínimo de parlamentares é de 16 e elas não foram votadas porque em momento nenhum chegamos a ter 16 deputados no plenário.

E esse monte de eventos em um ano também prejudica a Casa?

Bastante, porque esses feriados interrompem o trabalho porque os parlamentares realizam suas ações por todo o Distrito Federal e ai temos um calendário muito apertado e que acaba prejudicando a discussão de temas como o da segurança pública que está passando por uma crise e a Casa teria que estar em pleno funcionamento para colocar o assunto em debate e buscar soluções para os impasses.

Com todas estas dificuldades como ficam os processos de cassação de três distritais que estão tramitando?

Veja bem. Nós temos um processo em curso, já tem relator, tem prazo para apresentar o relatório e eu acredito que isso deve acontecer no prazo previsto. Uma das decisões do Colégio de líderes foi manter a composição da Mesa com a mesma formação que encerrou o ano passado, a presidência e a vice-presidência, com objetivo de fazer fluir os trabalhos e não mexer muito na estrutura. Portanto, o relator do caso do deputado Benedito Domingos está com a atribuição de efetivamente apresentar o seu relatório.

Os casos dos deputados Aylton Gomes e Rôney Nemer estão suspensos?

Os outros dois casos estão aguardando a votação em segunda instância no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

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