Ana Paula: "Foi difícil 'pra' caramba"

 

Rafaella Fraga Do G1 RS

Ao desembarcar em Porto Alegre depois de ficar cerca de dois meses detida na Rússia, a ativista do Greenpeace Ana Paula Maciel, 31 anos, reencontrou amigos e familiares e relembrou o período em que permaneceu no país europeu. Ao comentar a passagem pela prisão e a expectativa pela hora de voltar para casa, a bióloga gaúcha foi sucinta: “Foi difícil pracaramba. Foram os dois meses mais difíceis da minha vida”, disse, em entrevista coletiva na capital. Por isso, ela terá o mesmo acompanhamento psicológico oferecido para a família enquanto estava presa.
A espera pelo retorno para casa durou 100 dias. Durante o período, a mãe, Rosângela Maciel, recebeu apoio psicológico cedido pelo governo do estado. “Nós vamos continuar monitorando essa família, vamos disponibilizar esse acompanhamento psicológico para a própria Ana Paula, que também talvez demande isso”, explicou a coordenadora de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Tâmara Biolo Soares.

Ana Paula Maciel, outros 28 ativistas e dois jornalistas freelancers foram presos no dia 19 de setembro durante uma missão ao Ártico, quando tentaram subir em uma plataforma da Gazprom para protestar contra a exploração de petróleo. Toda a tripulação do navio Arctic Sunrise foi detida. “A partir disso, nós disponibilizamos acompanhamento psicológico por conta de que houve um abalo emocional muito grande na família e também por conta da insegurança, do medo, do receio do que fosse acontecer com ela, detida lá na Rússia”, acrescentou a coordenadora.

 
Ana Paula foi recebida com faixas pela família em Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Ana Paula foi recebida com faixas pela família em Porto Alegre (Foto: Rafaella Fraga/G1)

Em Porto Alegre, a família tinha poucas informações do paradeiro da ativista. “Eu tinha muito medo do que pudesse acontecer com ela, uma possível condenação, algo assim. Mas a gente procurou manter a rotina. A mãe frequentou consultas com os psicólogos. Houve momentos de muita angústia”, recordou a irmã Telma. “Mas acho que agora ela vai ter muito trabalho pela frente. Para fazer com que as pessoas não esqueçam a causa que ela defende”, ponderou.

De fato, é o que Ana Paula pretende fazer.  “Agora vou descansar um mês ou dois meses com a minha família. Mas depois vou continuar seguindo o que sempre fiz”, destacou, embora sem revelar o próximo destino. “Se acontecer de novo, paciência”, reconhece, ao confirmar que entende os riscos, mas que a luta pela preservação do meio ambiente vale a pena.

O ativistas ficaram detidos inicialmente na cidade de Murmansk sob a acusação de pirataria  e, depois, foram levados a São Petersburgo, onde foram soltos sob fiança em novembro. “Em nenhum momento eu tive medo. Mas todo o sistema carcerário funciona para te humilhar, para te subjulgar, para te manter o mais submissa possível. É um sistema feito para te destruir. Psicologicamente, mentalmente”, ressaltou.

Segundo ela, os ativistas eram transportados algemados em caminhões divididos em caixinhas de metal, com 70 cm por 70 cm, com um buraquinho na porta e a luz apagada. “Nos levavam para a Corte nessas caixas e muitos dos outros ativistas estavam em uma prisão a 300 quilômetros de Murmansk e eles faziam esse mesmo trajeto dentro dessas caixas. Quando chegávamos à Corte, eles nos colocavam em uma solitária de 1,25m por 90 cm, com quatro ou cinco pessoas dentro. Às vezes esperávamos ali por 12, 18 horas”, descreveu

Aliviada em voltar para casa, a ativista entende que a pressão internacional foi fundamental para a libertação. “Se não fosse vocês [imprensa] e os governos a nos apoiar, eu ainda estaria atrás das grades. Com toda a certeza”, afirmou.

Segundo o Greenpeace, com a anistia, a Rússia encerrou as investigações sobre o caso. “A anistia é para me perdoar por um crime que eu não cometi. A anistia não significa que eles retiram as acusações. Eu continuo sendo acusada de hooliganismo na Rússia. É por isso que eles não nos devolvem o navio Arctic Sunrise e todos os eletrônicos que eles confiscaram”, criticou a bióloga.

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