Mesmo depois de duas etapas para a convocação de profissionais dispostos a trabalhar no programa Mais Médicos, a maior parte das prefeituras que solicitaram reforço no atendimento continua sem alternativa. Ao todo, 4.045 cidades estão inscritas no programa e pediram 16.625 médicos ao governo federal. Somando os médicos inscritos na primeira e na segunda etapa do programa — inclusive aqueles que ainda não conseguiram registro profissional —, há 3.708 profissionais trabalhando ou esperando autorização para trabalhar. Isso significa apenas 22,3% da demanda em todo o país.
— Quando você tem o número real de inscritos e a meta, você tem uma distância muito grande. Essa distância muito grande, eu espero que seja resolvida, porque cria a expectativa no município de que vai chegar o médico, vai chegar, vai chegar, e não chega — afirmou a professora Maria Fátima de Sousa, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
Além do baixo número de inscrições, as entidades de classe continuam retardando o início do programa. No Rio, nenhum registro ainda foi concedido para médicos formados no exterior trabalharem no estado.
Para Silvestre Savino Neto, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), o governo deverá buscar alguma alternativa, ainda não apresentada, para fazer com que o programa atinja o objetivo de atender os municípios do interior e das periferias onde falta atendimento.
— Se 25% se inscreveram, tem alguma coisa errada — acrescentou Savino Neto.
Além de preencher as vagas remanescentes, quatro especialistas ouvidos pelo GLOBO também alertam para a necessidade urgente de atacar outras fragilidades importantes da Saúde pública e da atenção básica no Brasil.
— Ele resolve um problema circunscrito, circunstancial: põe o médico lá, e a população vai adorar — disse Maria de Fátima, concluindo: — O que nos assusta é transformar essa agenda numa agenda central. Hoje, o Ministério da Saúde parou e a única agenda que se tem é essa discussão do Mais Médicos. Isso não é bom para o SUS. Nós temos outros problemas no SUS, como a questão do subfinanciamento.
Na última sexta-feira, no Paraná, a própria presidente Dilma Rousseff admitiu que o programa está longe de resolver todos os problemas da Saúde no Brasil.
— Não resolve todo o problema, mas ajuda muito. Eu te diria que melhora num percentual que eu não sei te dizer, mas melhora porque você garante o atendimento. Uma pessoa pode ser atendida e deve ser atendida quando precisar. E aí, o que é que ele vai fazer? Ele vai desafogar o hospital — afirmou a presidente.
Geraldo Guedes, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, pondera que o Mais Médicos tem tempo determinado, o que significa a falta de uma solução de longo prazo.
— Esse programa vai resolver o problema de carência de médico? A curto prazo, pode até resolver nos lugares onde não tem. No médio e longo prazo, não. O programa tem tempo determinado, são três anos. É preciso que se pense em soluções de longo e médio prazo — avalia Guedes. Informações de O Globo.